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TRANSIÇÃO
Heloísa Helena ameaçava votar contra indicação de Meirelles para o BC
Acordo exclui senadora da sabatina e evita racha no PT
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula petista evitou ontem
um racha logo em seu primeiro
teste real como base governista,
impedindo a senadora Heloísa
Helena (AL) de cumprir a ameaça
de votar contra a indicação do ex-presidente mundial do BankBoston Henrique Meirelles para comandar o Banco Central.
Com o respaldo do presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o
partido fechou questão pelo voto
favorável a Meirelles e afastou a
possibilidade de abertura de um
precedente considerado perigoso
pelos petistas.
Heloísa, que critica a ligação de
Meirelles com o sistema financeiro internacional, chegou a dizer
que não aprovaria o nome "nem
no pau de arara".
Em acordo fechado com a direção do PT, Heloísa Helena se ausentou da sabatina de Meirelles
ontem à noite na Comissão de Assuntos Econômicos, cedendo sua
vaga para o suplente do partido
na CAE, José Eduardo Dutra (SE).
A sabatina na CAE, que tem 27
integrantes, teve início por volta
das 18h30 e não havia terminado
até a conclusão desta edição.
Ela também vai faltar à sessão
de votação do nome de Meirelles
pelo plenário do Senado. Nesse
caso, foi aberta uma exceção pelo
PT, uma vez que a praxe partidária mandaria que Heloísa Helena
votasse favoravelmente e fizesse
uma declaração de voto marcando sua posição contrária. A senadora refutou essa possibilidade.
A fórmula, que exclui a possibilidade de medida disciplinar contra a senadora, foi elaborada pela
manhã, em uma reunião de Genoino com Heloísa Helena.
A preocupação do dirigente petista e do núcleo do futuro governo era estabelecer uma jurisprudência para futuras disputas nas
bancadas na Câmara e Senado
quanto a atos do governo Lula.
Polêmicas
O PT considera que novas polêmicas serão inevitáveis no início
do mandato, quando suas bancadas ainda estarão "se acostumando" a ser governo após mais de
duas décadas na oposição.
O recado que a direção partidária quer transmitir é o de que, de
agora em diante, divergências de
opinião poderão ser toleradas,
mas dissidências na hora de votar,
principalmente em questões potencialmente prejudiciais para a
imagem do governo, não serão
aceitas.
"Nós não podemos brincar com
fogo. Temos a opinião pública toda nos olhando. Vamos governar
o Brasil, temos de ter responsabilidade", disse Genoino.
O presidente petista deixou clara a preocupação em impedir a
"desmoralização" do novo governo perante os outros partidos.
"Se a bancada votasse dividida,
qual seria a nossa autoridade com
os aliados?", questionou.
O notícia do acordo foi transmitida à bancada do partido no Senado no início da tarde, em uma
reunião de quase uma hora.
Choro
Na entrevista concedida após o
final do encontro, Heloísa Helena,
sentada ao lado de Genoino, chorou. "Foi encontrada uma fórmula entre os limites éticos de consciência intransponíveis e a unidade partidária", disse a senadora,
integrante da corrente "radical"
petista Democracia Socialista.
Heloísa Helena, que voltou a negar a intenção de deixar o PT, afirmou que o momento era "de alta
complexidade". "O importante é
que houve tolerância de parte a
parte", disse ela.
Genoino negou que o partido
tenha adotado uma medida de
força ou tenha "enquadrado" a
senadora. "Estamos caminhando
no fio da navalha entre a ética das
convicções e a ética da responsabilidade. A liberdade de expressão
é sagrada no PT, mas a unidade
do partido é o que fez sua força",
disse o presidente petista. A ausência do futuro ministro-chefe
da Casa Civil, José Dirceu, nas negociações com Heloísa, facilitou o
acordo -ambos estão rompidos.
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