São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Heloísa Helena ameaçava votar contra indicação de Meirelles para o BC

Acordo exclui senadora da sabatina e evita racha no PT

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula petista evitou ontem um racha logo em seu primeiro teste real como base governista, impedindo a senadora Heloísa Helena (AL) de cumprir a ameaça de votar contra a indicação do ex-presidente mundial do BankBoston Henrique Meirelles para comandar o Banco Central.
Com o respaldo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o partido fechou questão pelo voto favorável a Meirelles e afastou a possibilidade de abertura de um precedente considerado perigoso pelos petistas.
Heloísa, que critica a ligação de Meirelles com o sistema financeiro internacional, chegou a dizer que não aprovaria o nome "nem no pau de arara".
Em acordo fechado com a direção do PT, Heloísa Helena se ausentou da sabatina de Meirelles ontem à noite na Comissão de Assuntos Econômicos, cedendo sua vaga para o suplente do partido na CAE, José Eduardo Dutra (SE).
A sabatina na CAE, que tem 27 integrantes, teve início por volta das 18h30 e não havia terminado até a conclusão desta edição.
Ela também vai faltar à sessão de votação do nome de Meirelles pelo plenário do Senado. Nesse caso, foi aberta uma exceção pelo PT, uma vez que a praxe partidária mandaria que Heloísa Helena votasse favoravelmente e fizesse uma declaração de voto marcando sua posição contrária. A senadora refutou essa possibilidade.
A fórmula, que exclui a possibilidade de medida disciplinar contra a senadora, foi elaborada pela manhã, em uma reunião de Genoino com Heloísa Helena.
A preocupação do dirigente petista e do núcleo do futuro governo era estabelecer uma jurisprudência para futuras disputas nas bancadas na Câmara e Senado quanto a atos do governo Lula.

Polêmicas
O PT considera que novas polêmicas serão inevitáveis no início do mandato, quando suas bancadas ainda estarão "se acostumando" a ser governo após mais de duas décadas na oposição.
O recado que a direção partidária quer transmitir é o de que, de agora em diante, divergências de opinião poderão ser toleradas, mas dissidências na hora de votar, principalmente em questões potencialmente prejudiciais para a imagem do governo, não serão aceitas.
"Nós não podemos brincar com fogo. Temos a opinião pública toda nos olhando. Vamos governar o Brasil, temos de ter responsabilidade", disse Genoino.
O presidente petista deixou clara a preocupação em impedir a "desmoralização" do novo governo perante os outros partidos.
"Se a bancada votasse dividida, qual seria a nossa autoridade com os aliados?", questionou.
O notícia do acordo foi transmitida à bancada do partido no Senado no início da tarde, em uma reunião de quase uma hora.

Choro
Na entrevista concedida após o final do encontro, Heloísa Helena, sentada ao lado de Genoino, chorou. "Foi encontrada uma fórmula entre os limites éticos de consciência intransponíveis e a unidade partidária", disse a senadora, integrante da corrente "radical" petista Democracia Socialista.
Heloísa Helena, que voltou a negar a intenção de deixar o PT, afirmou que o momento era "de alta complexidade". "O importante é que houve tolerância de parte a parte", disse ela.
Genoino negou que o partido tenha adotado uma medida de força ou tenha "enquadrado" a senadora. "Estamos caminhando no fio da navalha entre a ética das convicções e a ética da responsabilidade. A liberdade de expressão é sagrada no PT, mas a unidade do partido é o que fez sua força", disse o presidente petista. A ausência do futuro ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, nas negociações com Heloísa, facilitou o acordo -ambos estão rompidos.


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