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TRANSIÇÃO
Sem avisar Lula, cantor convoca imprensa para responder a convite do presidente eleito; indicação foi criticada
Após críticas, Gil diz que aceita ser ministro
PATRICIA ZORZAN
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois de sua indicação
para o Ministério da Cultura ter
sido criticada por integrantes do
PT, o cantor e compositor Gilberto Gil, 60, decidiu ontem convocar a imprensa para comunicar ao
presidente eleito, Luiz Inácio Lula
da Silva, que aceitará o cargo.
"Estou dando a resposta aqui,
para vocês. Ele [Lula] vai saber.
Ficamos de nos falar hoje [ontem]", disse o cantor, durante entrevista concedida em São Paulo.
Acompanhado de dirigentes do
PV, partido ao qual é filiado, Gil
falou como ministro, mas disse
que ainda não poderia ser considerado o titular da pasta.
"É preciso deixar claro que não
sou ministro. Estou aceitando um
convite. Quem tem que me fazer
ministro, se for o caso, é o presidente. Isto não está definido. É
preciso que o presidente decida."
A indicação de Gil para a Cultura gerou protestos no PT. Coordenador de mobilização social do
Fome Zero e amigo de Lula, Frei
Betto afirmou anteontem que
preferia ver no cargo uma pessoa
ligada à área cultural do partido.
Segundo a Folha apurou, José
Dirceu, futuro ministro da Casa
Civil, disse a petistas do setor cultural que o presidente eleito havia
manifestado a Gil o desejo de tê-lo
no ministério, mas deixou aberta
a hipótese de a pasta ser incluída
em uma negociação política.
O presidente nacional do PV,
José Luiz Penna, negou que a entrevista de Gil, convocada às pressas e realizada um dia antes do
previsto, pretendesse dar o convite como um fato consumado.
"Não nos acotovelamos nos
corredores para ganhar carguinho. Mas, da nossa parte, está resolvido. Vou agora falar com Dirceu", disse ele, que até o início da
noite de ontem afirmou não ter
conseguido contato com o petista.
Já o cantor procurou minimizar
as declarações de Frei Betto. "São
críticas não a mim, mas ao processo de escolha do presidente."
Na tentativa de quebrar resistências dentro do PT, Gil também
declarou ter procurado os atores
Sérgio Mamberti e Antonio Grassi e o poeta Hamilton Pereira,
coordenadores do programa de
governo de cultura do presidente
eleito e todos citados como possíveis titulares da pasta.
Eleitor de Fernando Henrique
Cardoso em 94 e 98 e de Lula no
segundo turno de 89 e neste ano, o
cantor disse ter convidado Mamberti para integrar sua equipe.
"Ele ficou muito satisfeito, mas
não respondeu porque essa resposta não se dá assim."
Segundo Gil, sua decisão de
aceitar o ministério foi condicionada à possibilidade de poder
continuar se dedicando à carreira
musical. Anteontem, ele havia dito que não poderia ""passar quatro
anos vivendo com R$ 8.000". O
salário de ministro é de R$ 8.500.
"Sou um homem simples, vindo de uma família de classe média
baixa, negro, com todas as dificuldades que a gente sabe que essas
coisas têm no Brasil. Consegui
uma ascensão na escala social. Tenho hoje um padrão de vida,
compromissos, uma série de pessoas que dependem do meu trabalho. As pessoas sabem que não
posso sustentar uma estrutura de
vida dessa com o salário que o ministério paga. Uma coisa óbvia."
Sua intenção, declarou, é se dedicar ao ministério de segunda a
sexta e fazer shows aos sábados e
domingos. "Preciso [financeiramente] de dois shows por mês.
Mas a gente fará mais. Encontraremos modos para que eu possa
me dedicar um pouco mais."
A condição, de acordo com Gil,
foi aceita por Lula. "É um problema que ele tem de analisar com as
áreas jurídicas. Mas não acredito
que haja impedimentos maiores.
O que ele deixou claro é que temos de evitar promiscuidade. Tenho uma estrutura empresarial que trabalha com projetos culturais que envolvem contatos e relacionamentos com o mundo das leis de incentivos", afirmou.
Gil ressaltou ainda que, além de petistas, pretende convocar integrantes de sua própria legenda para compor a Cultura. Reivindicou também uma aproximação
"imediata" com o Ministério do Meio Ambiente, que será ocupado por Marina Silva (PT), para ajudá-la na "formação" da pasta.
Penna, que anunciou no encontro que já está acertada a filiação
de Zequinha Sarney à sigla, afirmou não ter gostado "muito" da
indicação de Marina para o cargo.
"Muito eu não gostei porque queríamos estar na cabeça do ministério. Mas o nome dela é bom."
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