São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Sem avisar Lula, cantor convoca imprensa para responder a convite do presidente eleito; indicação foi criticada

Após críticas, Gil diz que aceita ser ministro

PATRICIA ZORZAN
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois de sua indicação para o Ministério da Cultura ter sido criticada por integrantes do PT, o cantor e compositor Gilberto Gil, 60, decidiu ontem convocar a imprensa para comunicar ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que aceitará o cargo.
"Estou dando a resposta aqui, para vocês. Ele [Lula] vai saber. Ficamos de nos falar hoje [ontem]", disse o cantor, durante entrevista concedida em São Paulo.
Acompanhado de dirigentes do PV, partido ao qual é filiado, Gil falou como ministro, mas disse que ainda não poderia ser considerado o titular da pasta.
"É preciso deixar claro que não sou ministro. Estou aceitando um convite. Quem tem que me fazer ministro, se for o caso, é o presidente. Isto não está definido. É preciso que o presidente decida."
A indicação de Gil para a Cultura gerou protestos no PT. Coordenador de mobilização social do Fome Zero e amigo de Lula, Frei Betto afirmou anteontem que preferia ver no cargo uma pessoa ligada à área cultural do partido.
Segundo a Folha apurou, José Dirceu, futuro ministro da Casa Civil, disse a petistas do setor cultural que o presidente eleito havia manifestado a Gil o desejo de tê-lo no ministério, mas deixou aberta a hipótese de a pasta ser incluída em uma negociação política.
O presidente nacional do PV, José Luiz Penna, negou que a entrevista de Gil, convocada às pressas e realizada um dia antes do previsto, pretendesse dar o convite como um fato consumado.
"Não nos acotovelamos nos corredores para ganhar carguinho. Mas, da nossa parte, está resolvido. Vou agora falar com Dirceu", disse ele, que até o início da noite de ontem afirmou não ter conseguido contato com o petista.
Já o cantor procurou minimizar as declarações de Frei Betto. "São críticas não a mim, mas ao processo de escolha do presidente."
Na tentativa de quebrar resistências dentro do PT, Gil também declarou ter procurado os atores Sérgio Mamberti e Antonio Grassi e o poeta Hamilton Pereira, coordenadores do programa de governo de cultura do presidente eleito e todos citados como possíveis titulares da pasta.
Eleitor de Fernando Henrique Cardoso em 94 e 98 e de Lula no segundo turno de 89 e neste ano, o cantor disse ter convidado Mamberti para integrar sua equipe. "Ele ficou muito satisfeito, mas não respondeu porque essa resposta não se dá assim."
Segundo Gil, sua decisão de aceitar o ministério foi condicionada à possibilidade de poder continuar se dedicando à carreira musical. Anteontem, ele havia dito que não poderia ""passar quatro anos vivendo com R$ 8.000". O salário de ministro é de R$ 8.500.
"Sou um homem simples, vindo de uma família de classe média baixa, negro, com todas as dificuldades que a gente sabe que essas coisas têm no Brasil. Consegui uma ascensão na escala social. Tenho hoje um padrão de vida, compromissos, uma série de pessoas que dependem do meu trabalho. As pessoas sabem que não posso sustentar uma estrutura de vida dessa com o salário que o ministério paga. Uma coisa óbvia."
Sua intenção, declarou, é se dedicar ao ministério de segunda a sexta e fazer shows aos sábados e domingos. "Preciso [financeiramente] de dois shows por mês. Mas a gente fará mais. Encontraremos modos para que eu possa me dedicar um pouco mais."
A condição, de acordo com Gil, foi aceita por Lula. "É um problema que ele tem de analisar com as áreas jurídicas. Mas não acredito que haja impedimentos maiores. O que ele deixou claro é que temos de evitar promiscuidade. Tenho uma estrutura empresarial que trabalha com projetos culturais que envolvem contatos e relacionamentos com o mundo das leis de incentivos", afirmou.
Gil ressaltou ainda que, além de petistas, pretende convocar integrantes de sua própria legenda para compor a Cultura. Reivindicou também uma aproximação "imediata" com o Ministério do Meio Ambiente, que será ocupado por Marina Silva (PT), para ajudá-la na "formação" da pasta.
Penna, que anunciou no encontro que já está acertada a filiação de Zequinha Sarney à sigla, afirmou não ter gostado "muito" da indicação de Marina para o cargo.
"Muito eu não gostei porque queríamos estar na cabeça do ministério. Mas o nome dela é bom."


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