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NOVOS CAÇAS
Embraer construiria aviões para vôos regionais na Rússia, e empresa do país ganharia concorrência no Brasil
Oferta russa pode definir licitação da FAB
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo da Rússia decidiu fazer uma oferta de parceria à Embraer que poderá definir a licitação para a compra dos novos caças da FAB (Força Aérea Brasileira) e eventualmente abrir um
mercado estimado em US$ 12 bilhões para a empresa brasileira.
A proposta é complexa, não está
totalmente fechada e depende de
acerto de muitos detalhes para ser
concretizada. Espera-se que o
chanceler russo, Igor Ivanov, a
discuta em sua visita ao Brasil a
partir de hoje.
Segundo a Folha apurou, o estudo feito no Comitê de Cooperação Técnico-Militar do Ministério
da Defesa russo prevê que a Embraer seja convidada a montar
aviões regionais na Rússia, em
parceria com o conglomerado de
aviação Sukhoi.
Um dos pontos da parceria seria
o Brasil escolher o modelo russo
da Sukhoi na licitação da FAB, o
Su-35 Super Flanker. A Embraer
seria convidada a participar da
montagem do avião, oferecido
pelo consórcio russo-brasileiro
Rosoboronexport/Avibrás.
Não se trata de uma simples troca. Até porque a licitação da FAB,
conhecida como F-X, é um negócio de US$ 700 milhões -ainda
que preveja cooperação, e consequentes contratos de manutenção, por até 30 anos. Os atuais Mirage IIIEBR da FAB param de
voar em 2005.
Já a abertura do mercado de
aviação regional da Rússia e da
ex-União Soviética é visto como
uma das maiores promessas no
setor. Uma conta conservadora
estima o fornecimento de até 800
aviões, a US$ 12 bilhões, em até 20
anos.
Aí entram os entraves.
O primeiro deles é referente à licitação da FAB. A Embraer oferece em consórcio com a francesa
Dassault o caça Mirage 2000BR.
Logo, ela é concorrente do Su-35 -que é o aparelho preferido
da FAB do ponto de vista puramente militar. A Dassault, que
além de sócia integra o consórcio
francês que controla 20% da Embraer, não gostaria de ver seu aparelho perdendo um mercado que
já domina.
Do lado civil, há incertezas sobre a proposta russa. Em 2001, o
Kremlin lançou o projeto de criar
uma resposta aos bem-sucedidos
aviões regionais da Embraer e da
canadense Bombardier.
Dois projetos apareceram, o Tupolev-334 e o RRJ (Russian Regional Jet), da Sukhoi. O último vingou a partir do anúncio de uma
parceria com a Boeing, que busca
colocar o pé no mercado de aviação regional.
Então por que a Sukhoi abandonaria um projeto próprio com
uma sócia forte para se associar a
uma concorrente, a Embraer?
A resposta está no fato de que
para desenvolver o RRJ são necessários pelo menos US$ 600 milhões, e ainda assim o avião só
voaria em 2007. Na imprensa russa, cresce a especulação de que o
negócio não está andando. Além
disso, a associação atrelaria uma
área estratégica da indústria russa
aos soluços da Casa Branca.
Na lógica dos seus defensores, o
acordo com o Brasil teria vantagem dupla. A Embraer tem praticamente pronta sua nova linha de
aviões regionais, os ERJ-170/ 175/
190, e já monta aviões na China.
Outro ponto a ser considerado é
o cruzamento de interesses: a
francesa Snecma Moteurs foi escolhida como parceira da russa
Saturn para fornecer as turbinas
do RRJ. Ocorre que a empresa é
também sócia do consórcio do
Mirage 2000BR com a Embraer,
por fornecer o motor do caça. E a
Saturn faz os motores do Su-35.
Coroando o processo, a política
externa do governo Lula aponta
exatamente para a abertura comercial a países fora do eixo EUA-União Européia, como China,
Rússia e Índia. Dificilmente colocaria reparos na negociação.
Procuradas, Embraer e Rosoboronexport não comentaram o assunto. A decisão sobre o F-X deve
ser tomada no começo de 2004.
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