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GOVERNO
Ato dependeu de ajustes
Queda de
Alvares era
questão
de tempo
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O ministro demissionário Elcio
Alvares entrou "morto" em 2000.
Na linguagem de Brasília, ou do
poder, significa que já não tinha
condições e sustentação para se
manter num cargo tão delicado
quanto o Ministério da Defesa.
Em pouco mais de duas semanas, Alvares almoçou três vezes
com os três comandantes militares (Exército, Marinha e Aeronáutica). Desde os primeiros dias
do ano, porém, sua saída era apenas uma questão de tempo e de
ajustes.
Setores políticos do governo temiam que seu afastamento fosse
interpretado como uma vitória
dos militares, porque ele foi o pivô da demissão do então comandante da Aeronáutica, brigadeiro
Walter Bräuer.
Além disso, o presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentou enormes dificuldades para
chegar a um substituto. Ele demorou cinco anos para enfim criar o
Ministério da Defesa. Não queria
errar na escolha do ministro pela
segunda vez.
FHC esperou o quanto pôde
que o próprio Alvares pedisse demissão. Como ele não tomava a
iniciativa, passou a enviar sinais
evidentes nesse sentido. Uma nota divulgada anteontem pelo ministro José Carlos Dias (Justiça),
reclamando de uma entrevista de
Alvares, foi o último desses sinais.
No final de 1999, interlocutores
do presidente já falavam abertamente nos nomes mais prováveis
para o lugar de Alvares.
Um deles era o do embaixador
Celso Lafer. FHC sente-se em falta
com ele, um amigo pessoal, por
tê-lo tirado do Ministério do Desenvolvimento meses depois da
posse.
Lafer foi descartado porque seu
discurso acadêmico e seu perfil de
diplomata não combinariam com
o temperamento objetivo e pragmático dos militares -de quem
seria o superior imediato. Argumento semelhante foi usado contra o embaixador Ronaldo Sardenberg, ministro de Ciência e
Tecnologia.
FHC passou então a dar preferência para um jurista renomado
e sem vínculos partidários. Fixou-se, inicialmente, no ex-ministro
da Justiça Célio Borja e nos ministros Sidney Sanches e Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal.
Rapidamente, políticos ligados
ao presidente lembraram a ele da
passagem de Borja pelo governo
de Fernando Collor de Mello e
apuraram que seria muito difícil
tirar algum dos ministros do Supremo.
No tribunal, eles têm autonomia, recessos e cargos vitalícios
(são indemissíveis). O que optasse pelo Executivo ficaria subordinado ao presidente e tendo que
administrar queixas, reivindicações e algumas mágoas de uma
área peculiar, sobretudo da Aeronáutica.
O escolhido afinal, Geraldo
Quintão, atual Advogado Geral
da União, tem duas vantagens: já
está dentro do esquema de poder
e conhece bem os assuntos mais
polêmicos e mais urgentes da Defesa, que são a criação da Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil), o novo Código Brasileiro do
Ar e a venda de 20% das ações da
ex-estatal Embraer para um consórcio de quatro empresas francesas.
Apesar das dificuldades, a demissão de Alvares se precipitou
com a sua entrevista à revista
"Época", insinuando que o ministro José Serra (Saúde) era um dos
articuladores da sua queda e
usando o ministro Dias (Justiça)
para justificar que advogados não
exatamente escolhem clientes.
A saída de Alvares poderia ter
sido qualquer dia, qualquer momento. Foi ontem, como poderia
ser hoje ou durante o Carnaval.
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