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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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À ESPERA DO FÓRUM

Acampamento reúne 30 mil pessoas de 60 países, tem moeda própria e coleta seletiva de lixo

"Cidade" de jovens tem costumes livres

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Fórum Social Mundial tem uma cidade que não é Porto Alegre, não conta com poderes constituídos, fala diversos idiomas, possui moeda própria e é integrada por habitantes com média de 25 anos. Os costumes são, por assim dizer, livres.
Dá para afirmar que os 30 mil habitantes do Acampamento Internacional da Juventude, conhecido como "Cidade das Cidades", receberão o fórum. Enquanto o evento ocorre entre os dias 23 e 28, o acampamento funciona oficialmente de ontem até o próximo dia 29.
Muito do espírito presente no encontro estará no acampamento, que dá razão tanto a quem define o fórum como um convescote hippie-esquerdista quanto a quem o tem como um encontro da esquerda que busca alternativas para "um mundo melhor". O Fórum Social é contraponto ao Fórum Econômico, de Davos.
Até anteontem, o acampamento tinha 15 mil pessoas, de 60 países, inscritas. Mais de cem barracas estavam montadas e já funcionavam os três tipos de coletas de lixo (orgânico, seco e rejeito). A "cidade" se espalha por 250 hectares do Parque da Harmonia, perto do rio Guaíba.
"O acampamento é, na prática, o que o fórum teoriza, com visão ecológica, autogestão, diversidade respeitada e liberdade. O coração do fórum está aqui", diz o estudante argentino Héctor Vivendi, 24.
A cidade, que já conta há duas semanas com acampados munidos de produtos orgânicos (como sabão e repelente), foi montada por voluntários, profissionais da construção civil e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados). Há 150 banheiros químicos, 15 contêineres com dez chuveiros cada um, 35 chuveiros na rua e uma estação própria de tratamento de água.
Foram erguidas salas para leitura e alimentação com paredes de bambu e palha de arroz e coberturas e pisos de torrões de leiva. Há espaços para shows, conferências, debates e oficinas.
Os latino-americanos pagam R$ 10 para se alojar. Os europeus, US$ 10. Haverá 300 seguranças que circularão pelo parque devidamente desarmados.
Dentro da cidade, as moedas são o "sol" (de circulação cotidiana) e a "lua" (para a feira). O valor: R$ 1. Outras moedas ficam para o mundo de fora.
No total, são esperadas 100 mil pessoas para o Fórum Social Mundial. Elas devem lotar a rede hoteleira, e muitas estão sendo acolhidas em casas, a partir da campanha Hospedagem Solidária, promovida pela Prefeitura de Porto Alegre até o dia 23. Motéis e hotéis da serra gaúcha também são procurados.
O orçamento é de R$ 8 milhões. O novo governador gaúcho, Germano Rigotto (PMDB), cortou os gastos para o evento: dos R$ 2,7 milhões previstos pelo ex-governador Olívio Dutra (PT) para R$ 1,8 milhão.
Rigotto quer manter o evento em Porto Alegre, mas é provável que a quarta edição, em 2004, ocorra na Índia. Talvez ele volte para Porto Alegre em 2005.


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