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RIO
Rodrigo Silveirinha, pivô de escândalo, chegou a ser promovido por Garotinho
Fiscal demitido por Rosinha foi cotado para a Fazenda
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
Personagem responsável pela
primeira grande crise da administração Rosinha Matheus (PSB) no
Rio de Janeiro, o fiscal de renda
Rodrigo Silveirinha Corrêa, 40, foi
cotado para assumir o principal e
mais sensível cargo do governo: a
Secretaria de Fazenda do Estado.
Só de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o órgão arrecada, em média,
R$ 800 milhões por mês.
A informação é confirmada pelo secretário de Desenvolvimento
Econômico, Tito Ryff. Ele disse à
Folha que Silveirinha disputou a
indicação, mas acabou perdendo
a vaga para o economista Mário
Tinoco. "Ele [Silveirinha" chegou
a ser cogitado para a Fazenda,
mas não foi indicado até mesmo
porque não se achou que ele tinha
a experiência e o conhecimento
do Mário Tinoco", afirma Ryff.
Silveirinha, três fiscais do Estado e quatro auditores da Receita
Federal são suspeitos de enviar
ilegalmente US$ 36 milhões para
contas na Suíça entre 1999 e 2000.
O dinheiro teria vindo do suposto pagamento de propina de
empresas fiscalizadas pela Inspetoria de Contribuintes de Grande
Porte, subordinada a Silveirinha,
que foi subsecretário-adjunto de
Administração Tributária no governo Anthony Garotinho (1999 a
abril de 2002), marido de Rosinha.
Chamado pelo ex-governador
de "subsecretário do subsecretário do subsecretário", Silveirinha,
na verdade, não era uma pessoa
sem importância na estrutura de
poder dos Garotinho.
Assessor econômico de Rosinha
na campanha eleitoral, o fiscal ganhou a confiança da governadora.
A disputa pela Secretaria de Fazenda contra Tinoco, porém, acabou afastando-o da fiscalização.
Rosinha, então, o nomeou para
a Codin (Companhia de Desenvolvimento Industrial), órgão de
pouca fama, mas de muito poder.
Sob a esfera da Codin, estão projetos de isenção fiscal para empresas interessadas em investir no
Estado. No último dia 10, quando
o escândalo veio a público, Rosinha o exonerou.
Em 1998, Silveirinha participou
da campanha eleitoral de Garotinho, então no PDT, mas teve
atuação pequena. Na equipe de
transição, uma tragédia acabou
levando o secretário de Fazenda,
Carlos Antônio Sasse, a nomeá-lo
subsecretário-adjunto de Administração. A pessoa que Sasse
queria indicar morreu e, por indicação de Trajano Ribeiro, trabalhista histórico, Silveirinha foi alçado ao cargo.
"Eu conhecia o Sasse e conhecia
muito bem o Silveirinha, por isso
o indiquei", diz Ribeiro, que trabalhou com Silveirinha entre 1983
e 1990 na Riotur (Empresa Municipal de Turismo) e na Secretaria
Municipal de Turismo do Rio.
Promovido por Garotinho
Discreto, homem de "fala mansa" e profissional competente, como definem alguns secretários,
Silveirinha chamou a atenção de
Garotinho depois que conseguiu
aumentar substancialmente a arrecadação do Estado em pouco
mais de três anos. Em 1999, quando Silveirinha assumiu, a arrecadação mensal de ICMS do Rio era
de pouco mais R$ 500 milhões.
Em abril de 2002, quando deixou
o cargo, o Estado recolhia mais de
R$ 700 milhões do imposto.
Segundo secretários do então
governo, Silveirinha despachou
várias vezes com Garotinho no
Palácio Guanabara, sede oficial do
Estado. No dia 4 de dezembro de
2001, o então governador resolveu
promovê-lo, por merecimento, à
fiscal de primeira categoria, último degrau da profissão.
A nomeação, publicada no
"Diário Oficial" do Estado, em 4
de dezembro de 2001, coroou a ascensão meteórica de Silveirinha
como fiscal. Ele foi 1 dos 372 aprovados do concurso de 1990. A Folha apurou que, daquele grupo de
concursados, apenas 15 chegaram
a fiscal de primeira categoria até
hoje. Entre esses 15, o primeiro a
atingir o topo foi Silveirinha.
"Quando eles [a turma de fiscais
concursados de 1990" entraram,
logo passaram da terceira para a
segunda categoria, porque em
1994 foram abertas quase 700 vagas. Agora, para a primeira categoria, a vaga é mais rara. Aí sabe
como é que é, né? Vale muito a
questão política. Ele [Silveirinha"
era subsecretário e era lógico que
seria promovido", diz Elmiro
Chiesse Coutinho, presidente do
Sinfrerj (Sindicato dos Fiscais de
Renda do Rio), entre 1995 e 1996.
Em sua gestão, Silveirinha foi diretor administrativo.
Segundo a lei 69/90, que rege a
profissão de fiscal de renda do Estado, a promoção só pode ocorrer
em dois casos: por antiguidade e
por merecimento. Para isso, o fiscal deve ter, pelo menos, três anos
no exercício da função. A promoção por merecimento leva em
conta nove critérios, entre os
quais, dedicação, eficiência, disciplina e idoneidade moral.
Quem avalia as promoções é o
Conselho Superior de Administração Tributária, presidido pelo
secretário de Fazenda e integrado
por mais sete membros, entre os
quais o subsecretário-adjunto de
Administração Tributária, que
era o próprio Silveirinha. O conselho tira uma lista tríplice que é
encaminhada ao governador, a
quem cabe a escolha final.
Em 2001, Silveirinha já era fiscal
de segunda categoria, promovido
pelo critério de antiguidade pelo
ex-governador Marcello Alencar
(1994-1998). Na promoção por
merecimento concedida por Garotinho, ele participava do Conselho.
"A votação é secreta e o pretendente é impedido de votar", explica o presidente do Sinfrerj, João
Bosco de Azevedo. Mas, segundo
alguns fiscais, quase sempre o que
acaba prevalecendo é a indicação
do secretário, que na época era
Fernando Lopes, hoje secretário
de Controle e Gestão.
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