São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS

Além de Jorge Levi Mattoso e 3 empresas, relatório inclui 33 envolvidos no caso GTech, como Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor de Palocci

CPI pede indiciamento de presidente da Caixa

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), apresentou ontem relatório parcial sobre o caso GTech pedindo o indiciamento de três empresas e 34 pessoas, incluindo o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Levi Mattoso, e Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A principal acusação do relatório é que houve negociação e pagamento de propina para renovação do contrato da multinacional GTech com a Caixa em 2003 para a exploração de loterias. Segundo o relatório, teriam sido pagos ainda, de 1997 a 2004, R$ 556 milhões a mais do que o devido.
Ademirson foi acusado de formação de quadrilha pelo relator. Por não ter conseguido interrogar Palocci nem o ex-deputado José Dirceu (PT-SP), a CPI não apresentou "qualificação da conduta dos mesmos", disse Garibaldi.
No relatório, porém, o senador frisa que ambos ainda são investigados pela CPI, em outros casos, por suspeita de caixa dois para campanhas eleitorais, lavagem de dinheiro e ligação com o crime organizado da área de jogos.
Houve pedido coletivo de vistas ao relatório. Com isso, a votação ocorrerá só na próxima quarta.
Garibaldi pediu o indiciamento de Mattoso por prevaricação (deixar de cumprir a obrigação ao não impedir o crime), improbidade administrativa e crime contra o procedimento licitatório. Ademirson também foi acusado dos dois últimos e de formação de quadrilha e corrupção passiva.
Na segunda, a Folha publicou que Ademirson seria indiciado. Garibaldi disse que seria por tráfico de influência, mas afirmou que ainda haveria alterações.
Foi pedido ainda o indiciamento de duas pessoas ligadas a Palocci. Vladimir Poletto, ex-funcionário da Secretaria de Fazenda de Ribeirão Preto (2001), e Rogério Buratti, ex-secretário de Governo da Prefeitura de Ribeirão Preto (1993). Nas duas ocasiões, Palocci era o prefeito da cidade.
A CPI também atingiu dois ex-presidentes da Caixa no governo Fernando Henrique (1995-2002). Foram pedidos indiciamentos de Sérgio Cutolo (de 1995 a 1999) e Emílio Carazzai (1999 a 2002).

Propina
A renovação do contrato da GTech com a Caixa ocorreu em abril de 2003, no início do governo Lula. O contrato, de R$ 650 milhões, foi assinado para operação de loterias da Caixa, ou seja, registro de apostas. Desde 1997, a Caixa terceiriza a serviço, por isso Carazzai e Cutolo, ex-presidentes, foram responsabilizados.
Dois personagens de diferentes crises no governo, também com pedidos de indiciamento pela CPI, aparecem no caso: Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil de 2003 a 2004, e Buratti, o ex-secretário de Palocci que, em agosto passado, acusou o ministro de receber propina quando era prefeito, em 2001 e 2002.
Segundo o diretor da GTech Marcelo Rovai e o ex-presidente da empresa Antônio Carlos Lino da Rocha -ambos com pedidos de indiciamento-, Buratti e Waldomiro tentaram extorquir R$ 6 milhões para permitir renovação do contrato. Segundo Buratti, a GTech ofereceu, por meio dele, até R$ 16 milhões ao PT em propina, mas Palocci não aceitou.


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