São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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JANIO DE FREITAS

No centro do jogo

O interesse dos jornalistas está concentrado na competição entre Geraldo Alckmin e José Serra, mas o que se passa no PMDB está muito mais interessante. Enquanto os caciques do PSDB ativam a veia autoritária do seu elitismo e depositam a escolha do candidato nas mãos de três ou quatro eminências do partido, no PMDB a coisa começa pelo embate entre os favoráveis à candidatura própria e os adeptos de aliança, estes, por sua vez, opondo-se nas preferências pelo PT ou pelo PSDB. E a coisa continua com a programada prévia para escolha, pelo corpo partidário como convém nas democracias, entre os pré-candidatos. Mas não param aí as incógnitas interessantes do PMDB que procura restaurar sua grandeza.
Um dos principais ingredientes da fermentação peemedebista é o mistério Anthony Garotinho. Todos sabem do seu trabalho intenso pelo país afora, mas ninguém sabe que forças Garotinho atraiu, para a prévia ou para a convenção. Com programa diário, ao que consta, em quase 200 rádios, o seu populismo religioso e a habilidade para dar-lhe sentido político, já demonstrada no Rio, não aparentam efeito nas instâncias mais altas e tradicionais do peemedebismo, mas ninguém nega a possibilidade de influência em outras representações do partido. Ninguém nega e muitos temem.
Germano Rigotto, que está se inscrevendo para a disputa das prévias, entra na corrida com credenciais fortes. Foi bom parlamentar, quebrou a hegemonia do PT no Rio Grande do Sul, onde governa com desempenho bem avaliado dentro e fora do Estado, e desfruta no peemedebismo autêntico de um conceito alto. O governador pernambucano Jarbas Vasconcellos, por exemplo, embora as solicitações para inscrever-se nas prévias, já comunicou que prefere apoiar Rigotto.
Para primeiro capítulo, o PMDB já montou uma boa cena, com aliancistas e autonomistas desenvolvendo um confronto que lança reflexos poderosos também nas perspetivas políticas de vários Estados. São Paulo, por exemplo. Onde um bom acerto do PMDB implicaria a possibilidade de levá-lo ao governo estadual e, com isso, esvaziar a força eventualmente adquirida pelo PFL graças à saída de Alckmin ou de Serra ou de ambos.
O lançamento de candidato peemedebista à Presidência, se confirmado, frustrará a principal meta dos arranjos reeleitorais de Lula: o acordo PT-PMDB. Na melhor das hipóteses, restariam alguns acertos, tidos no Planalto como muito prováveis, com seções estaduais do PMDB. Mas, das que são citadas, nenhuma é provável de fato, pelo contrário.
O PMDB está posto em terceiro plano, no panorama mais difundido, mas está no centro do jogo político em curso. No mínimo, com interrogações que distribuem inquietação para todos os lados, dado o potencial decisivo das respostas em preparação.

Em tempo
A denúncia de captações fraudulentas de dinheiro para o PT, feita publicamente há quase dez anos e agora reproduzida, na CPI dos Bingos, por Paulo de Tarso Venceslau, é muito coerente com tudo o que já se soube e com o que se pode deduzir das práticas financeiras na cúpula petista.
Na ocasião da denúncia, Paulo de Tarso deu-lhe temperos emocionais que prejudicaram o seu teor, sobretudo pelo confronto com a imagem então tida por Lula e extensiva ao PT. Dele recebi, na época, uma carta queixosa de acusações que não fiz e que assim me sugeriu o estado de exaltação de Paulo Tarso, levado talvez pela desigualdade de seu embate com os expoentes do PT.
A solução do confronto está vindo agora. E não é tarde.


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