São Paulo, terça-feira, 19 de janeiro de 2010

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PSDB não deve temer plebiscito, diz professor

Brasilianista defende que tucanos embarquem em campanha para contrapor despreparo de Dilma à experiência de Serra

Para Tim Power, de Oxford, "é 2010 ou nunca" para Serra, porque é natural que Lula queira voltar em 2014 sendo Dilma presidente ou não

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ante a popularidade do governo Lula e a estratégia polarizadora desenhada para catapultar Dilma Roussef, o PSDB deve apostar na personalização: dizer ao eleitor que o "sim" no plebiscito proposto pelo governo petista não significará a segurança de mais uma gestão do atual presidente, mas uma aventura dirigida por sua escolhida sem experiência eleitoral.
Em outras palavras, os tucanos devem dizer que não há lulismo sem Lula. A análise é do brasilianista norte-americano Timothy Power, diretor do Centro de Estudos Latino-Americano de Oxford, no Reino Unido: "O PSDB tem de tocar na incoerência dessa ideia de plebiscito. O "sim" seria continuidade de uma maneira muito abstrata sem Lula. Não seria a continuidade de Lula". Além de discutir o cenário eleitoral, o brasilianista defende que o aumento da formalização do trabalho no Brasil é uma "revolução silenciosa" que leva o país a reduzir a desigualdade.  

FOLHA - Como será a eleição?
TIMOTHY POWER
- Vai ser uma eleição apertada. Mas, mesmo com a inexperiência eleitoral da Dilma Rousseff, daria vantagem para ela, neste momento.Temos de ver como ela vai se sair na televisão, o que é uma incógnita. Mas os fatores estruturais são muito positivos para ela, para qualquer candidato do governo. A economia vai bem, e as pesquisas mostram que os brasileiros estão otimistas.

FOLHA - Em um artigo, o sr. apresenta a era FHC-LULA como um bloco da construção da "social-democracia pragmática brasileira". Mas, ao que parece, o eleitor não tem essa percepção. Dito isso, qual deve ser a estratégia do PSDB?
POWER
- Os avanços dos dois governos de FHC nunca foram bem explicitados pelo próprio PSDB. Depois, as reformas dos tucanos nos anos 90 foram muito mais estruturais e macroeconômicas. O aumento do salário mínimo foi positivo no governo FHC, mas foi mais acentuado sob Lula, da mesma maneira o Bolsa Família. Nas questões que afetam o bolso, é óbvio que o governo Lula teve muito mais impacto direto. O caminho do PSDB deve ser questionar a preparação da Dilma para assumir a Presidência. Ela coloca a eleição como um plebiscito. Diz que o "sim" no plebiscito vai dar Lula, mas não vai. O PSDB tem de tocar na incoerência dessa ideia. O "sim" seria continuidade de forma muito abstrata sem Lula. Não seria a continuidade de Lula.
Os tucanos tem de marcar a experiência de Serra e a relativa inexperiência da Dilma. No fim das contas, a luta que veremos será entre dois administradores. Não vai ser a conexão com FHC que ajudará Serra. Serra tem sua própria máquina política. É 2010 ou nunca para ele.
É bem provável que Lula volte a ser candidato em 2014.

FOLHA - Lula diz que não quer...
POWER
- Ele estará com 69 anos e, se estiver bem de saúde, é natural que queira voltar. Esperar oito anos é muito tempo para alguém tão popular. Ao ganhar a Olimpíada, ele tem agora o incentivo de ser o presidente dos jogos. Você diria não? Minha hipótese é que, se a Dilma for eleita presidente, em 2014 ela vai sentir um incontrolável desejo de ser governadora do Rio Grande do Sul.

FOLHA - O sr. diz que cresceu o interesse de seus alunos em estudar o Brasil, principalmente pelas políticas para redução da desigualdade. Mas há a sensação de que é preciso avançar além do Bolsa Família.
POWER
- O Bolsa Família vai ser um programa bastante inercial. Vai ser muito difícil reformar ou desmantelar. Vai se reajustar valores, mexer nas condicionalidades. Mas o que está mudando é o incremento da formalidade do mercado de trabalho. Isso ajuda muito. Todas as conquistas da Constituição de 1988 e todas as conquistas trabalhistas no Brasil não valem nada se você não tem carteira assinada. Em 2008 a formalidade passou de 50% da força de trabalho pela primeira vez. Isso é uma revolução invisível no Brasil. E ela é acompanhada por essa política de aumento do salário mínimo.
Quando o Collor era candidato, em 1989, ele prometeu um mínimo de US$ 300, e naquela época era US$ 30 e US$ 50. As pessoas riram. E, em todos esses anos, o Brasil não passou nem perto disso. Mas, se calculei bem, agora o mínimo bate US$ 294. Demorou 20 anos, mas Lula está cumprindo a promessa do Collor de 1989.


Folha Online

Leia a íntegra em www.folha.com.br/1001820


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