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PSDB não deve temer plebiscito, diz professor
Brasilianista defende que tucanos embarquem em campanha para contrapor despreparo de Dilma à experiência de Serra
Para Tim Power, de Oxford, "é 2010 ou nunca" para Serra, porque é natural que Lula queira voltar em 2014 sendo Dilma presidente ou não
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ante a popularidade do governo Lula e a estratégia polarizadora desenhada para catapultar Dilma Roussef, o PSDB
deve apostar na personalização: dizer ao eleitor que o "sim"
no plebiscito proposto pelo governo petista não significará a
segurança de mais uma gestão
do atual presidente, mas uma
aventura dirigida por sua escolhida sem experiência eleitoral.
Em outras palavras, os tucanos devem dizer que não há lulismo sem Lula. A análise é do
brasilianista norte-americano
Timothy Power, diretor do
Centro de Estudos Latino-Americano de Oxford, no Reino
Unido: "O PSDB tem de tocar
na incoerência dessa ideia de
plebiscito. O "sim" seria continuidade de uma maneira muito
abstrata sem Lula. Não seria a
continuidade de Lula".
Além de discutir o cenário
eleitoral, o brasilianista defende que o aumento da formalização do trabalho no Brasil é uma
"revolução silenciosa" que leva
o país a reduzir a desigualdade.
FOLHA - Como será a eleição?
TIMOTHY POWER
- Vai ser uma
eleição apertada. Mas, mesmo
com a inexperiência eleitoral
da Dilma Rousseff, daria vantagem para ela, neste momento.Temos de ver como ela vai se
sair na televisão, o que é uma
incógnita. Mas os fatores estruturais são muito positivos para
ela, para qualquer candidato do
governo. A economia vai bem, e
as pesquisas mostram que os
brasileiros estão otimistas.
FOLHA - Em um artigo, o sr. apresenta a era FHC-LULA como um bloco da construção da "social-democracia pragmática brasileira". Mas,
ao que parece, o eleitor não tem essa percepção. Dito isso, qual deve
ser a estratégia do PSDB?
POWER
- Os avanços dos dois
governos de FHC nunca foram
bem explicitados pelo próprio
PSDB. Depois, as reformas dos
tucanos nos anos 90 foram
muito mais estruturais e macroeconômicas. O aumento do
salário mínimo foi positivo no
governo FHC, mas foi mais
acentuado sob Lula, da mesma
maneira o Bolsa Família. Nas
questões que afetam o bolso, é
óbvio que o governo Lula teve
muito mais impacto direto.
O caminho do PSDB deve ser
questionar a preparação da Dilma para assumir a Presidência.
Ela coloca a eleição como um
plebiscito. Diz que o "sim" no
plebiscito vai dar Lula, mas não
vai. O PSDB tem de tocar na incoerência dessa ideia. O "sim"
seria continuidade de forma
muito abstrata sem Lula. Não
seria a continuidade de Lula.
Os tucanos tem de marcar a
experiência de Serra e a relativa
inexperiência da Dilma. No fim
das contas, a luta que veremos
será entre dois administradores. Não vai ser a conexão com
FHC que ajudará Serra. Serra
tem sua própria máquina política. É 2010 ou nunca para ele.
É bem provável que Lula volte a
ser candidato em 2014.
FOLHA - Lula diz que não quer...
POWER
- Ele estará com 69
anos e, se estiver bem de saúde,
é natural que queira voltar. Esperar oito anos é muito tempo
para alguém tão popular. Ao
ganhar a Olimpíada, ele tem
agora o incentivo de ser o presidente dos jogos. Você diria
não? Minha hipótese é que, se a
Dilma for eleita presidente, em
2014 ela vai sentir um incontrolável desejo de ser governadora do Rio Grande do Sul.
FOLHA - O sr. diz que cresceu o interesse de seus alunos em estudar o
Brasil, principalmente pelas políticas para redução da desigualdade.
Mas há a sensação de que é preciso
avançar além do Bolsa Família.
POWER
- O Bolsa Família vai
ser um programa bastante
inercial. Vai ser muito difícil
reformar ou desmantelar. Vai
se reajustar valores, mexer nas
condicionalidades. Mas o que
está mudando é o incremento
da formalidade do mercado de
trabalho. Isso ajuda muito. Todas as conquistas da Constituição de 1988 e todas as conquistas trabalhistas no Brasil não
valem nada se você não tem
carteira assinada. Em 2008 a
formalidade passou de 50% da
força de trabalho pela primeira
vez. Isso é uma revolução invisível no Brasil. E ela é acompanhada por essa política de aumento do salário mínimo.
Quando o Collor era candidato, em 1989, ele prometeu
um mínimo de US$ 300, e naquela época era US$ 30 e US$
50. As pessoas riram. E, em todos esses anos, o Brasil não
passou nem perto disso. Mas,
se calculei bem, agora o mínimo bate US$ 294. Demorou 20
anos, mas Lula está cumprindo
a promessa do Collor de 1989.
Folha Online
Leia a íntegra em www.folha.com.br/1001820
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