São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2000


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CRISE NA BASE
Governadora do MA falou anteontem com FHC para justificar anúncio do mínimo de US$ 100
PFL pediu tom de retaliação, diz Roseana

KENNEDY ALENCAR
da Reportagem Local

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), disse ao presidente Fernando Henrique Cardoso anteontem que, por pressão do PFL, deu um tom deretaliação ao anúncio de que pagará um salário mínimo de US$ 100 para o funcionalismo público de seu Estado.
No encontro, a pefelista Roseana alegou a mesma razão para justificar a afirmação de que seu partido passaria a atuar com ""liberdade" em relação ao Planalto após a derrota congressual da terça (o PFL foi derrubado por PSDB e PMDB da primeira para a terceira maior bancada na Câmara).
Roseana pediu para se reunir com FHC na tarde de anteontem, depois de ter participado, de manhã, da reunião da Executiva do PFL. Na cerimônia pefelista, ela se uniu aos correligionários que atacaram o governo.
A cúpula do PFL crê que FHC, no mínimo, fechou os olhos para a manobra de PSDB e PMDB.
A derrota pefelista diminuiu as chances de o líder Inocêncio Oliveira presidir a Câmara e tirará o PFL de cargos importantes em comissões e projetos de impacto na mídia. O tamanho das bancadas serve de critério para essa distribuição de poder.
O PFL ficou atrás do bloco PSDB-PTB (103 e 24 deputados, respectivamente) e do bloco PMDB-PST-PTN (96, 5 e 1).
O episódio, porém, deve ter efeito nas articulações para as eleições de 2002 (Presidência e governos estaduais). Razão: PSDB e PMDB prometem estreitar relações e jogar afinados na eleição para as presidências do Senado e da Câmara. Seria uma espécie de prévia para um entendimento em 2002.

Decisão antiga
A decisão de adotar o mínimo de US$ 100 já havia sido tomada por Roseana desde o começo de fevereiro. Anteontem, em conversa com o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), ela foi persuadida a dar um ar de troco ao anúncio do novo piso salarial dos servidores do Maranhão.
A atitude, um hábil lance de Bornhausen, preocupou o governo e ocupou os jornais de ontem como a primeira de uma série de retaliações do PFL.
Em alusão a uma eventual candidatura à Presidência, Roseana disse a FHC que, no que depender dela, PSDB e PFL marcharão juntos em 2002. A conversa de Roseana com FHC foi intermediada pelo ministro das Comunicações e articulador político do governo, Pimenta da Veiga.
A governadora ponderou ainda que o lance da manhã, a reunião da Executiva do PFL em que anunciou o mínimo de US$ 100 e na qual declarou que o partido perderá a maioria na Câmara, mas ganhará ""a liberdade", foi um ato de afirmação partidária após uma derrota grave.
A Folha ouviu de um auxiliar da governadora que ela tinha por obrigação respaldar o partido, mas que não poderia queimar pontes com FHC. Uma das possibilidades de composição presidencial entre PSDB e PFL para 2002 é a chapa com o tucano José Serra, ministro da Saúde, na cabeça e Roseana como vice.
No encontro, FHC disse que entendia a adoção de um mínimo de US$ 100 no Maranhão, mas que não poderia referendar um aumento nacional, como propuseram os pefelistas, por temer um rombo nas contas da Previdência e de Estados e municípios desajustados fiscalmente.

Abono ao mínimo
Um cacique pefelista disse à Folha que lideranças do partido deverão se reunir com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, nos próximos dias.
Como sabe que o presidente vetaria um projeto do Congresso que fixasse o novo mínimo em US$ 100, o PFL deve trabalhar para que os trabalhadores recebam um abono -o que significa que o adicional não é incorporado ao salário.
O partido sairia como o pai do presente aos trabalhadores, surgiria como vencedor parcial de uma batalha com o governo e deixaria com FHC o desgaste de rejeitar um aumento do mínimo para US$ 100. Hoje, a remuneração é de R$ 136, pouco mais de US$ 74 dólares.
Ou seja: o partido repetiria o comportamento de Roseana no encontro com FHC anteontem. Joga uma casca de banana para o governo, arranca uma concessão, mas não queima as pontes que permitem à sigla desfrutar de cargos importantes em uma administração que ainda tem quase três anos de mandato pela frente.


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