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CRISE NA BASE
Governadora do MA falou anteontem com FHC para justificar anúncio do mínimo de US$ 100
PFL pediu tom de retaliação, diz Roseana
KENNEDY ALENCAR
da Reportagem Local
A governadora do Maranhão,
Roseana Sarney (PFL), disse ao
presidente Fernando Henrique
Cardoso anteontem que, por
pressão do PFL, deu um tom deretaliação ao anúncio de que pagará um salário mínimo de US$
100 para o funcionalismo público
de seu Estado.
No encontro, a pefelista Roseana alegou a mesma razão para
justificar a afirmação de que seu
partido passaria a atuar com ""liberdade" em relação ao Planalto
após a derrota congressual da terça (o PFL foi derrubado por PSDB
e PMDB da primeira para a terceira maior bancada na Câmara).
Roseana pediu para se reunir
com FHC na tarde de anteontem,
depois de ter participado, de manhã, da reunião da Executiva do
PFL. Na cerimônia pefelista, ela se
uniu aos correligionários que atacaram o governo.
A cúpula do PFL crê que FHC,
no mínimo, fechou os olhos para
a manobra de PSDB e PMDB.
A derrota pefelista diminuiu as
chances de o líder Inocêncio Oliveira presidir a Câmara e tirará o
PFL de cargos importantes em comissões e projetos de impacto na
mídia. O tamanho das bancadas
serve de critério para essa distribuição de poder.
O PFL ficou atrás do bloco
PSDB-PTB (103 e 24 deputados,
respectivamente) e do bloco
PMDB-PST-PTN (96, 5 e 1).
O episódio, porém, deve ter
efeito nas articulações para as
eleições de 2002 (Presidência e
governos estaduais). Razão:
PSDB e PMDB prometem estreitar relações e jogar afinados na
eleição para as presidências do
Senado e da Câmara. Seria uma
espécie de prévia para um entendimento em 2002.
Decisão antiga
A decisão de adotar o mínimo
de US$ 100 já havia sido tomada
por Roseana desde o começo de
fevereiro. Anteontem, em conversa com o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), ela
foi persuadida a dar um ar de troco ao anúncio do novo piso salarial dos servidores do Maranhão.
A atitude, um hábil lance de
Bornhausen, preocupou o governo e ocupou os jornais de ontem
como a primeira de uma série de
retaliações do PFL.
Em alusão a uma eventual candidatura à Presidência, Roseana
disse a FHC que, no que depender
dela, PSDB e PFL marcharão juntos em 2002. A conversa de Roseana com FHC foi intermediada
pelo ministro das Comunicações
e articulador político do governo,
Pimenta da Veiga.
A governadora ponderou ainda
que o lance da manhã, a reunião
da Executiva do PFL em que
anunciou o mínimo de US$ 100 e
na qual declarou que o partido
perderá a maioria na Câmara,
mas ganhará ""a liberdade", foi
um ato de afirmação partidária
após uma derrota grave.
A Folha ouviu de um auxiliar da
governadora que ela tinha por
obrigação respaldar o partido,
mas que não poderia queimar
pontes com FHC. Uma das possibilidades de composição presidencial entre PSDB e PFL para
2002 é a chapa com o tucano José
Serra, ministro da Saúde, na cabeça e Roseana como vice.
No encontro, FHC disse que entendia a adoção de um mínimo de
US$ 100 no Maranhão, mas que
não poderia referendar um aumento nacional, como propuseram os pefelistas, por temer um
rombo nas contas da Previdência
e de Estados e municípios desajustados fiscalmente.
Abono ao mínimo
Um cacique pefelista disse à Folha que lideranças do partido deverão se reunir com o ministro da
Fazenda, Pedro Malan, nos próximos dias.
Como sabe que o presidente vetaria um projeto do Congresso
que fixasse o novo mínimo em
US$ 100, o PFL deve trabalhar para que os trabalhadores recebam
um abono -o que significa que o
adicional não é incorporado ao
salário.
O partido sairia como o pai do
presente aos trabalhadores, surgiria como vencedor parcial de uma
batalha com o governo e deixaria
com FHC o desgaste de rejeitar
um aumento do mínimo para
US$ 100. Hoje, a remuneração é
de R$ 136, pouco mais de US$ 74
dólares.
Ou seja: o partido repetiria o
comportamento de Roseana no
encontro com FHC anteontem.
Joga uma casca de banana para o
governo, arranca uma concessão,
mas não queima as pontes que
permitem à sigla desfrutar de cargos importantes em uma administração que ainda tem quase
três anos de mandato pela frente.
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