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BRASIL PROFUNDO
Poucos funcionários e verbas, além de ação limitada por lei do Exército, podem impedir ação no Pará
Falta de estrutura ameaça pacote de Lula
EDUARDO SCOLESE
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O pacote anunciado pelo governo como resposta à violência no
Pará corre o risco de não ser posto
em prática, por falta de pessoal e
de verbas. Outro problema é que
os soldados do Exército ficarão
por tempo limitado na região.
Entre as medidas anunciadas
anteontem estão a criação de reservas ambientais e a instalação
de um gabinete de crise no Pará,
que vai concentrar as ações de ministérios e autarquias federais no
interior paraense, após o assassinato da freira Dorothy Stang.
O anúncio somente se tornará
eficaz caso o governo ocupe a região com estrutura e funcionários, segundo especialistas e
ONGs ouvidos pela reportagem.
A criação da estação ecológica
Terra do Meio, por exemplo, esbarra nas dificuldades que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) enfrenta no Estado, como a falta de equipamentos,
automóveis, segurança e pessoal.
Na região de Altamira, um escritório do instituto possui só cinco fiscais. "Para monitorar toda
essa área precisa ter pelo menos
50 homens", contou Elielson Soares Farias, 40, chefe do Ibama em
Altamira. Segundo ele, já passaram 14 analistas ambientais pelo
escritório nos últimos dois anos.
Muitos desistiram por serem de
cidades distantes ou por acharem
o salário, de R$ 2.200, baixo.
O presidente da Associação de
Servidores do Ibama, Jonas Moraes Corrêa, 41, relatou à Folha
que a penúria é tão severa que há
servidores despachando das pensões onde estão hospedados.
Sobre a falta de pessoal, a assessoria do órgão informou que o diretor de Proteção Ambiental, Flávio Montiel, daria uma entrevista,
o que não aconteceu.
Outro problema é que os 2.000
homens do Exército mobilizados
para atuação no Estado permanecerão por prazo limitado, e não
definitivamente, como desejava o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pediam os trabalhadores rurais. O uso do Exército foi anunciado na quarta, após horas de
reunião de ministros com o governador Simão Jatene (PSDB) e
o vice-presidente e presidente interino à época, José Alencar.
Há, porém, limitação legal para
ação do Exército por longo período. Segundo a Lei Complementar
117, o emprego das Forças deve
ser feito de "forma episódica, em
área previamente estabelecida e
por tempo limitado". Ciente disso, o Ministério da Justiça colocou
em prontidão 400 homens da FNS
(Força Nacional de Segurança Pública), composta pela elite das polícias militares, que substituirão o
Exército quando a ação de emergência no Pará for concluída.
A lei não estabelece critério objetivo para o "tempo limitado" de
atuação, cabe à Força determinar
isso. Ontem, pela assessoria do
Exército, o comandante da ação,
general-de-brigada Jairo César
Nass, disse que a duração dependerá da "eficácia" dos trabalhos.
Para o vice-presidente nacional
da CRB (Confederação dos Religiosos do Brasil), Nivaldo Pessinatti, a região do Pará precisa de
ações permanentes. "A gente
sempre percebe que são nos momentos de convulsão que aparecem medidas emergenciais."
O secretário-geral da Comissão
de Justiça e Paz, Antonio Carlos
Ribeiro Fester, disse que o anúncio das medidas é o "mínimo"
que o governo poderia fazer após
a morte de Dorothy. "Mas o que
precisamos é de uma política verdadeira de reforma agrária e de
projetos de inclusão social", disse.
Colaborou a Reportagem Local
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