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MÃOS SUJAS
PC Farias recebia os recursos ilegais, segundo polícia italiana
Dinheiro da máfia entrava
no Brasil para `corrupção'
LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Roma
O comando de
operações especiais da polícia
militar da Itália
(ROS) confirmou ontem oficialmente à Folha que parte
dos recursos arrecadados pela máfia italiana e pelo narcotráfico colombiano eram injetados no Brasil
para ``corrupção''.
Reservadamente, investigadores
que trabalham no caso dizem que
o empresário Paulo César Farias,
tesoureiro de campanha do
ex-presidente Fernando Collor de
Mello, era quem recebia o dinheiro, cujo fim era abrir portas para
negócios da máfia e do narcotráfico colombiano na América Latina
-principalmente no Brasil.
O comando ROS também revelou oficialmente que o cartel de
Cali usou o Brasil como ponto de
saída de 4 dos 8 carregamentos de
cocaína que chegaram à Itália patrocinados pela máfia calabresa
(N'drangheta) de 91 a 94.
Das 11 toneladas da droga importadas pela N'drangheta nesse
período, 1,34 tonelada saiu do Brasil. O restante foi levado a partir da
Venezuela, Panamá e Colômbia.
Em 91, um lote de 140 kg da droga saiu do município de São Paulo
para a Itália. No mesmo ano, outros dois carregamentos -de 150
kg cada- foram enviados à Itália,
pelo porto de Santos (SP). A rede
de narcotráfico teve problemas ao
utilizar bases no Rio Grande do Sul
para levar o quarto carregamento.
A idéia era transportar três toneladas de cocaína do Rio Grande do
Sul para a Itália em maio de 93.
Mas, por falta de segurança, a entrega foi adiada por um mês.
Em julho daquele ano, a Polícia
Federal apreendeu duas das três
toneladas da droga. Ainda assim,
os traficantes conseguiram fazer
com que a droga restante fosse entregue na Itália um mês depois.
Conforme a Folha revelou na semana passada, a Justiça e a polícia
italiana chegaram até o envolvimento de PC com a máfia e o narcotráfico quando interceptaram a
nona remessa de cocaína.
Os responsáveis por esse carregamento de 5,5 toneladas, apreendido em março de 94 em Borgaro
Torineze, no Norte da Itália, aceitaram colaborar com a Justiça em
troca de tratamento especial. Assim, chegou-se ao nome de PC.
As investigações da polícia militar italiana chegaram a provas de
que PC era aliado da máfia e do
narcotráfico na ``lavagem'' de dinheiro ilegal. Não está claro para
os investigadores se PC Farias participava diretamente do tráfico.
Ainda segundo informações oficiais do comando ROS, o criminoso de origem italiana e cidadania
suíça Angelo Zannetti, que efetuou depósitos de US$ 2 milhões
em contas de PC no exterior, era
um dos responsáveis pelo tráfico.
Metralhadoras
O comando ROS informou que a
rede de tráfico de cocaína à qual
PC estava ligado também lidava
com outros negócios -compra e
venda de heroína, importação ilegal de armas, contrabando, extorsão, homicídios, agiotagem, jogos
de azar e roubo.
Em outubro de 93 e maio de 94,
os ``carabinieri'' apreenderam um
total de 120 metralhadoras russas,
40 lança-granadas e armas portáteis que seriam usadas para segurança de membros da rede e atentados contra magistrados e famílias de traficantes ``arrependidos''.
Inquérito
A Polícia Federal instaurou ontem inquérito para ampliar as investigações realizadas pela polícia
italiana sobre o envolvimento de
PC Farias com a máfia.
O inquérito deverá ser encaminhado hoje à Justiça Federal com
pedido de que sejam requisitados à
Justiça da Itália os documentos relativos a PC, obtidos nas investigações sobre a máfia. O diretor da
PF, Vicente Chelotti, disse que eles
servirão para a PF rastrear o dinheiro movimentado por PC e
seus procuradores Jorge Osvaldo
La Salvia e Luiz Felipe Ricca.
Colaborou a Reportagem Local
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