São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO

Governadora pefelista diz ser vítima de investigações porque "o poder se sentiu atingido"

Roseana diz não ser da "corriola" de FHC

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PIRAPEMAS
E CANTANHEDE

A governadora Roseana Sarney (PFL) usou ontem inaugurações no interior do Maranhão para endurecer o discurso contra o governo federal, chegando a afirmar, inclusive, que está tendo sua vida investigada porque não faz parte da "corriola do Planalto".
"Uma governadora do Nordeste, mulher, que não tem grupos econômicos fortes atrás dela, uma governadora que não faz parte da corriola do Planalto, uma governadora que só trabalha e que tem 80% de aprovação em seu Estado... é evidente que o poder se sentiu atingido", disse para as cerca de mil pessoas que assistiram, em Cantanhede, à solenidade de inauguração de uma estrada.
"Corriola", segundo os dicionários, significa "bando" ou "quadrilha". Nos dois discursos que fez, em Pirapemas e Cantanhede (a cerca de 150 km de São Luís), Roseana cobrou investigação também contra os outros presidenciáveis e voltou a dar sinais de que vai optar mesmo pela candidatura ao Senado e desistir de concorrer ao Planalto.
Informado sobre as declarações de Roseana, o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio, disse apenas: "Compreendo que ela esteja passando por um momento difícil. Isso [a declaração" não retira um pingo da consideração que o presidente tem por ela".
Os discursos de ontem foram os mais duros de Roseana desde a ação que a Polícia Federal realizou na empresa Lunus, no último dia 1º, e ocorrem dois dias antes da possível fala do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) na tribuna do Senado, quando se esperam mais ataques ao governo. Roseana e seu marido, Jorge Murad, são sócios da Lunus. Para os pefelistas, a operação policial foi arquitetada pelo Planalto. O PSDB nega.

Caravana

Roseana saiu de São Luís seguida de uma caravana e parou várias vezes no caminho para visitar escolas ou a população local. Seu primeiro discurso ocorreu em Pirapemas, onde cerca de 500 pessoas, segundo a polícia, a receberam com estouro de fogos.
A pefelista disse que não há corrupção em sua administração e que nunca recebeu dinheiro de origem ilícita no seu governo. Na ação na Lunus, foi apreendido R$ 1,34 milhão. Murad assumiu para si a responsabilidade pelo dinheiro, afirmando que ele seria usado durante a campanha.
"Nunca nos deram dinheiro, nosso governo não tem corrupção. Querem jogar lama em nosso governo, mas o povo do Maranhão nos conhece", disse Roseana em um palanque improvisado.
Ela classificou a ação da PF como fruto de uma "trama" urdida pelo "poder oculto", que teria se sentido ameaçado. E disse que gostaria que fosse dado aos "outros candidatos" o mesmo tratamento dispensado a ela. "Se forem procurar lá fora, encontrarão muita coisa", afirmou.
Depois, foi para Cantanhede -a estrada beneficia os dois municípios-, onde a pefelista discursou de cima de um trio elétrico para cerca de mil pessoas.
Roseana disse que se dispôs a ser candidata por insistência do PFL e que, ao passar dos 20% nas pesquisas, teria sido vítima do que chamou de "armação". "Quero meu atestado de honestidade."
Dando a entender que só lhe restou a alternativa de disputar o Senado, disse que só pode "contar" com o povo do Maranhão. "É o único com quem eu posso contar, porque me conhece, não são essas outras pessoas de fora. Só quem me conhece é o povo que está aqui no Maranhão."



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