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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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REARRANJO PETISTA

Análise sobre popularidade é pretexto para "chacoalhada"

Lula alertará os ministros sobre fim da "lua-de-mel"

KENNEDY ALENCAR
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pouco depois de completar dois meses e meio de mandato e apesar do tom público de otimismo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um alerta na reunião ministerial de hoje para o que no Planalto já é chamado de "começo do fim da lua-de-mel entre governo e alguns setores da sociedade", entre os quais mídia e movimentos sociais, como o MST.
Tema oficial do encontro de hoje, que começa pela manhã na Granja do Torto com a presença de todos os ministros, o PPA (Plano Plurianual de Investimentos), uma espécie de superorçamento para União no período de 2004 a 2007, será o documento pelo qual o governo dirá que tem um projeto alternativo para o país.
Incomoda Lula e auxiliares o carimbo de que aquilo que é feito hoje repete a política econômica de Fernando Henrique Cardoso.
A análise sobre a perda de popularidade do governo será o pretexto de Lula para dar uma "chacoalhada" na equipe. Ele também prestigiará o ministro da Segurança Alimentar, José Graziano, a fim de encerrar a fritura do seu mais antigo auxiliar. Ao mesmo tempo, pedirá mais pressa e coordenação nas ações de governo, especialmente das sociais.
Na avaliação da cúpula do governo, composta exclusivamente de petistas próximos a Lula, a pesquisa Sensus da semana passada foi um primeiro sinal de que a opinião pública já começa a perder um pouco da confiança no governo, apesar da boa avaliação do presidente continuar em alta.
Lula deverá reiterar o "puxão de orelha" nos ministros, dizendo que não há política de auxiliar, mas política de governo. Ele acha, por exemplo, que Graziano está sofrendo muito mais com o "fogo amigo" (ataques do PT e de membros do governo) do que com suposta má vontade da imprensa.
O tom do noticiário seria um dos principais indicativos do "começo do fim da lua-de-mel", avalia um auxiliar presidencial.
Uma última cobrança de medidas para combater efeitos negativos no Brasil da iminente guerra dos EUA contra o Iraque também será feita por Lula na reunião de hoje. O governo avalia que jogou politicamente bem no tema, mas que isso terá um custo no relacionamento com os EUA.
Numa reação à falta de dinheiro para investimentos públicos, que deverá marcar não apenas o primeiro ano de mandato de Lula, o presidente abre hoje com os seus ministros a discussão do PPA.
O plano, em forma de projeto de lei, será encaminhado ao Congresso em 29 de agosto. Sua confecção seguirá o modelo do orçamento participativo, uma marca das gestões municipais do PT, com uma grande diferença: o que for discutido com a sociedade em seminários regionais não terá caráter deliberativo, apenas consultivo. As consultas serão coordenadas pelo ministro Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência.
Depois de algumas experiências menores, o orçamento participativo ganhou impulso a partir do primeiro mandato do petista Olívio Dutra, hoje ministro, na Prefeitura de Porto Alegre, em 1989.
Um esboço do PPA preparado pelo Ministério do Planejamento faz uma primeira tentativa de transformar o programa apresentado por Lula na campanha em ações de governo. Essa tentativa leva a marca da preocupação fiscal de conter gastos públicos.
O ministro do Planejamento, Guido Mantega, afirmou aos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos, na semana passada, que o novo PPA implicará em "uma certa intervenção do Estado na economia". Como exemplos, citou a elaboração de políticas industriais, de comércio exterior e políticas agrícolas. "O governo anterior tinha aversão a uma ação mais ativa do Estado."


Colaborou SÍLVIA MUGNATTO, da Sucursal de Brasília


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