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RORAIMA
Cimi suspeita que demarcação foi "moeda de troca" em ida de governador para PT
Indigenista vê barganha em filiação
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A filiação do governador de Roraima, Flamarion Portela (ex-PSL), ao PT, assinada ontem em Brasília na presença do ministro
José Dirceu (Casa Civil), acentuou
crise entre entidades indigenistas
e o governo, alimentada por críticas à política indigenista nos primeiros meses da gestão de Luiz
Inácio Lula da Silva.
O presidente do Cimi (Conselho
Indigenista Missionário), dom
Gianfranco Masserdotti, 61, disse
ontem à Folha que há "suspeitas"
de que a não-homologação da terra indígena Raposa/Serra do Sol,
no nordeste de Roraima, tenha sido usada como "moeda de troca"
pelo governo Lula para a filiação
de Portela -adversário declarado da homologação na forma pretendida pelos indígenas.
De acordo com o Cimi, o PT teria garantido ao governo de Roraima que, antes da assinatura do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a homologação será "discutida" com o governo roraimense.
Pela lei, Lula pode assinar a medida a qualquer momento. Uma
liminar que impedia o ato, parte
de ação aberta pelo governo de
Roraima, foi derrubada em 2002
no Superior Tribunal de Justiça.
"Agora é uma questão política,
não é jurídica", confirmou o procurador da República em Boa
Vista (RR) Rômulo Moreira.
Na fronteira com a Venezuela, a
Raposa/Serra do Sol tem 1,6 milhão de hectares, onde vivem 12
mil índios macuxis, ingaricós e
taurepangues. Há cerca de 30
anos a área é foco de disputas.
Pequenos produtores rurais que
vivem na área em número de mil,
segundo os índios, ou de 15 mil,
de acordo com o governo de Roraima, reivindicam a demarcação
"em ilhas", que representaria
uma perda de 300 mil hectares para os índios, além de cidades e estradas continuarem cortando as
terras. O Cimi e os índios não
abrem mão da demarcação "contínua", apoiada por decretos e
portarias governamentais baixados desde 1993.
Última etapa
A homologação é a última etapa
do processo que garantiria as terras aos índios. A partir da publicação da medida no "Diário Oficial", todos os não indígenas deverão deixar a área.
A demora na decisão de Lula e a
filiação do governador ao PT
acentuaram uma crise iniciada
em janeiro entre o governo Lula e
as organização não governamentais. No dia 13 daquele mês, as
ONGs enviaram ao ministro da
Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a
proposta de criação de um conselho de política indigenista, a ser
formado por nove ministros de
áreas diversas, ONGs e 12 representantes de povos indígenas.
Mal começou, a discussão sobre
o conselho já acabou, por desinteresse do próprio governo federal,
segundo alega o Cimi.
A entidade e outras 12 organizações não governamentais, entre as
quais a Associação Brasileira de
Antropologia, decidiram então
convocar um seminário realizado
ontem em Brasília, que levou o
sugestivo nome de "Respeito aos
Direitos dos Povos Indígenas". De
acordo com texto de divulgação
do evento, "nesses três primeiros
meses de governo [os indígenas]
têm sofrido com pressões, atentados e desrespeito".
Perplexidade
Em informe divulgado no último dia 13, o Cimi disse que o desempenho do governo Lula no setor causa "certa perplexidade".
O principal entusiasta da filiação de Portela foi o ministro da
Casa Civil, José Dirceu.
Ainda na campanha, sem se
constranger com denúncias que
atingiam Portela, Dirceu foi ao
horário eleitoral da televisão pedir
votos ao governador.
Durante as eleições, Portela foi
acusado de compactuar com a
chamada "folha gafanhoto" que,
segundo o Ministério Público, pode ter desviado cerca de R$ 7 milhões dos cofres públicos.
Um grupo de 20 pessoas recebeu, entre janeiro e julho, por
meio de procuração, o salário que
o Estado pagou a 319 servidores
públicos estaduais.
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