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NO AR
Dê uma chance à guerra
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
A Fox News é uma piada,
uma comédia -se é que
se pode falar assim sem soar tão
trivial sobre a tragédia da guerra quanto os sorridentes partidários de Bush.
Seus âncoras escorrem ironia
e prazer enquanto anunciam
hora a hora a "contagem regressiva" para o ataque.
Seu enviado à frente de guerra, "perto da fronteira com o
Iraque", é ninguém menos que
Oliver North, o pivô do escândalo Irã-Contras.
Ele entrevista fuzileiros navais, depois ataca os franceses
de maneira geral, depois ataca
outras TVs por duvidarem da
qualidade do equipamento antiguerra química - é um porta-voz em ação.
O que se vê é um circo, cujo
slogan a abrir os blocos de programas é nada menos que "Give
war a chance", dê uma chance à
guerra -em provocação sarcástica contra a canção pacifista
de John Lennon.
Eles querem a guerra.
E não são só os editores da Fox
News. Pesquisas da CNN, da
ABC e da NBC mostraram que
dois terços dos americanos querem a guerra.
Não só os americanos. Pesquisa semelhante, no Reino Unido,
mostrou apoio crescente ao ataque, ainda que não majoritário,
por enquanto.
E não só os anglo-saxões, mas
também os governos de inesperadas "30 nações", segundo o secretário de Estado, Colin Powell,
desde a Colômbia até a República Tcheca, desde a Holanda até
a Coréia do Sul.
É a "coalizão dos que querem"
-dos que querem agradar a
George W. Bush.
Rupert Murdoch, da Fox
News, que já detém o serviço de
TV por satélite Sky, está de olho
no concorrente DirecTV. Se ele
tiver sucesso, o setor será todo
dele, no Brasil.
A CNN, depois de dois ou três
anos no esforço -perdido- de
ser mais patrioticamente americana do que a Fox, dá sinais de
voltar aos tempos de seu fundador, Ted Turner.
Aaron Brown, seu principal
âncora, anda desbragadamente
"liberal", no sentido americano
do termo.
Ontem, conversou longamente com Frank Rich, colunista de
esquerda do "New York Times"
que aproveitou para irradiar o
medo de ataque a Nova York
-e já culpou Bush.
A Colômbia está na "coalizão
dos que querem", mas vale registrar que Bush só não conseguiu sua "vitória moral" na
ONU porque os "dois pobres latinos", na expressão da CNN,
não cederam.
México e Chile.
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