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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Presidente do Cimi vê "grande lentidão" no governo

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), dom Gianfranco Masserdotti, 61, disse ontem ver no governo Lula sinais de "indefinição", "grande lentidão" e falta de "saber comprar briga em defesa dos interesses dos povos indígenas". A seguir, trechos da entrevista.
 

Folha - Como o sr. avalia a política indigenista do governo Lula?
Gianfranco Masserdotti -
Estamos numa situação de bastante preocupação. Nós havíamos confiado em que realmente haveria um processo rápido de mudança da política indigenista em relação à do governo anterior. No entanto não temos sinais de que haja realmente uma mudança rápida.
A gente não vê atos de impacto social e político que sinalizem para novos rumos. Nos últimos dois meses, sete pessoas foram assassinadas entre os povos indígenas e tivemos a impressão de uma ineficácia da intervenção do governo para poder dar um basta nessa situação. A respeito da demarcação das terras, a gente repara que há uma indefinição, uma grande lentidão, e até alguns fatos nos deixam com suspeitas de que a demarcação das terras, que é um ditado constitucional, pode estar se tornando uma moeda de troca para angariar forças para as reformas do governo que virão a ocorrer no Congresso Nacional.

Folha - Um dos exemplos dessa moeda de troca seria a filiação ao PT do governador de Roraima, Flamarion Portela?
Masserdotti -
É um exemplo. Nós sabemos que, para poder aprovar as reformas, é preciso apoio dos governadores. Então o grande medo é que [a homologação] se torne uma moeda de troca mesmo.

Folha - Que indícios o sr. tem sobre essa hipótese?
Masserdotti -
Boatos houve, impressões houve. A gente está tentando reagir para que não aconteça aquilo que estamos temendo.

Folha - O vice-governador, Salomão Cruz, disse ter ouvido do ministro da Justiça que será criada uma comissão para estudar a homologação da área.
Masserdotti -
A situação lá foi estudada de todas as formas. O problema agora é político. O problema é saber comprar briga para defender os povos indígenas contra outros interesses que estão tendo muita força por aí.

Folha - O sr. tem sinais de que isso possa estar ocorrendo em outras partes do país?
Masserdotti -
Agora, não. Eu estava pensando mesmo em Roraima, não haveria outros exemplos que deixam essa impressão com uma certa clareza. Gostaria de citar também um outro fato. O Conselho Indigenista Missionário apresentou uma proposta de se constituir um conselho das políticas indigenistas, tentando somar as forças das entidades indigenistas e do governo para manter uma linha unitária, em que a Funai [Fundação Nacional do Índio] seria o braço executivo e o Ministério da Justiça seria um pouco o coordenador de tudo. No começo, fomos recebidos com muita atenção, embora com algumas propostas de emendas à nossa proposta, mas depois a gente não encontrou mais diálogo.


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