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Presidente do Cimi vê "grande lentidão" no governo
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário),
dom Gianfranco Masserdotti, 61,
disse ontem ver no governo Lula
sinais de "indefinição", "grande
lentidão" e falta de "saber comprar briga em defesa dos interesses dos povos indígenas". A seguir, trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. avalia a política
indigenista do governo Lula?
Gianfranco Masserdotti - Estamos numa situação de bastante
preocupação. Nós havíamos confiado em que realmente haveria
um processo rápido de mudança
da política indigenista em relação
à do governo anterior. No entanto
não temos sinais de que haja realmente uma mudança rápida.
A gente não vê atos de impacto
social e político que sinalizem para novos rumos. Nos últimos dois
meses, sete pessoas foram assassinadas entre os povos indígenas e
tivemos a impressão de uma ineficácia da intervenção do governo
para poder dar um basta nessa situação. A respeito da demarcação
das terras, a gente repara que há
uma indefinição, uma grande lentidão, e até alguns fatos nos deixam com suspeitas de que a demarcação das terras, que é um ditado constitucional, pode estar se
tornando uma moeda de troca
para angariar forças para as reformas do governo que virão a ocorrer no Congresso Nacional.
Folha - Um dos exemplos dessa
moeda de troca seria a filiação ao
PT do governador de Roraima, Flamarion Portela?
Masserdotti - É um exemplo.
Nós sabemos que, para poder
aprovar as reformas, é preciso
apoio dos governadores. Então o
grande medo é que [a homologação] se torne uma moeda de troca
mesmo.
Folha - Que indícios o sr. tem sobre essa hipótese?
Masserdotti - Boatos houve, impressões houve. A gente está tentando reagir para que não aconteça aquilo que estamos temendo.
Folha - O vice-governador, Salomão Cruz, disse ter ouvido do ministro da Justiça que será criada
uma comissão para estudar a homologação da área.
Masserdotti - A situação lá foi estudada de todas as formas. O problema agora é político. O problema é saber comprar briga para
defender os povos indígenas contra outros interesses que estão
tendo muita força por aí.
Folha - O sr. tem sinais de que isso
possa estar ocorrendo em outras
partes do país?
Masserdotti - Agora, não. Eu estava pensando mesmo em Roraima, não haveria outros exemplos
que deixam essa impressão com
uma certa clareza. Gostaria de citar também um outro fato. O
Conselho Indigenista Missionário
apresentou uma proposta de se
constituir um conselho das políticas indigenistas, tentando somar
as forças das entidades indigenistas e do governo para manter uma
linha unitária, em que a Funai
[Fundação Nacional do Índio] seria o braço executivo e o Ministério da Justiça seria um pouco o
coordenador de tudo. No começo, fomos recebidos com muita
atenção, embora com algumas
propostas de emendas à nossa
proposta, mas depois a gente não
encontrou mais diálogo.
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