JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ELDORADO DO CARAJÁS

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) promete resistir na eventual tentativa de desocupação da fazenda Peruano, de 12 mil hectares, invadida anteontem por cerca de 2.500 integrantes do movimento.
A propriedade fica em Eldorado do Carajás (768 km ao sul de Belém), no Pará. Seu dono, o agropecuarista e industrial Evandro Mutran, afirmou anteontem que a fazenda é produtiva e que ingressará hoje na Justiça com ação de reintegração de posse.
Segundo lideranças do MST no Pará, a invasão foi uma "vingança" pela morte dos 19 sem-terra no confronto com a Polícia Militar, em 17 de abril de 1996.
Ontem, no segundo dia de invasão, os sem-terra organizaram uma escola para as crianças e montaram cerca de 1.500 barracos. A Prefeitura de Eldorado do Carajás enviou carros-pipa para os sem-terra, que contaram com o apoio da CPT (Comissão Pastoral da Terra) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará para a invasão.
Segundo Alberto "Tim Maia" Silva Lima, 26, da coordenação do movimento, a estrutura montada é uma prova "de que o MST veio para desafiar o latifúndio em Eldorado do Carajás". Ele disse que o objetivo do movimento na fazenda é "resgatar a história do trabalho escravo no Pará".
"Eles, da família Mutran, exploraram por décadas o trabalho escravo. Se existir seriedade no Judiciário do Pará, a fazenda vai ser desapropriada por explorar o trabalho escravo", declarou.
O líder do MST disse não ter "dúvida" de que a Justiça irá, num primeiro momento, conceder a reintegração de posse. "Só vai nos restar a resistência pacífica, sem abrir mão desse latifúndio."
Segundo ele, "essa resistência pacífica não significa que os trabalhadores irão deixar de resistir a uma tentativa de desocupação, sem fundamentação e baseada nos poderes da família Mutran".
Ontem a Agência Folha tentou novo contato com Evandro Mutran, mas não conseguiu.