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505 ANOS DEPOIS
Estudo mostra que IDH indígena no Brasil é quase igual ao da Bolívia e que orientais no país vivem como no Japão
Índice de desenvolvimento de índio é o da Bolívia
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A desigualdade brasileira vem
sendo cada vez mais dissecada a
partir de suas matizes brancas,
negras e pardas. Porém são os
grupos populacionais indígenas e
amarelos -pouco estudados por
representarem menos de 1% da
população- que ocupam os extremos opostos do ranking de desenvolvimento humano do país.
Um estudo inédito do economista Marcelo Paixão, coordenador do Observatório Afro-Brasileiro, mostra que a população indígena brasileira apresenta um
IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) próximo ao da Bolívia.
No outro extremo, os amarelos
-definição do IBGE para identificar populações orientais- vivem no país com padrão de vida
semelhante ao do Japão.
O estudo de Paixão faz parte de
sua tese de doutorado no Iuperj
(Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) sobre o
processo de construção das desigualdades raciais no Brasil. Ele
calculou, a partir do Censo 2000
do IBGE, como seria o IDH dos
diferentes grupos étnicos caso
fossem analisados isoladamente.
O IDH é um indicador da ONU
que aponta o padrão de desenvolvimento humano em cada país.
Ele é calculado a partir de indicadores de escolaridade, renda e expectativa de vida. O valor encontrado varia de zero, o pior desenvolvimento humano possível, a
um, o melhor. Um índice acima
de 0,800 é considerado de alto desenvolvimento humano.
Para o Brasil, o índice fica em
0,790, o que coloca o país na 62ª
posição do ranking de 177 países
divulgado em 2004. A população
que declarou cor amarela no censo tem, isoladamente, IDH de
0,937, próximo do Japão (nono
no ranking). No outro extremo,
os índios têm IDH de 0,683, próximo da Bolívia (114º no ranking).
Paixão deixa claro que sua tese
de doutorado não é um estudo focado na população indígena, mas,
para ele, os baixos indicadores
desse grupo são reflexo da mesma
cultura que relegou a população
negra a segundo plano no país.
"O Estado brasileiro durante
muito tempo construiu uma estratégia de uniformização do povo, tanto na tentativa de embranquecimento como na tentativa de
aculturação forçada", diz.
Outros dados da tese mostram
que não é apenas no desenvolvimento humano que os indígenas
têm os piores índices. A taxa de
mortalidade por desnutrição na
população indígena adulta é de
11,2 por 100 mil habitantes, contra
a média de 4,3 da população brasileira. A proporção de indigentes
também é maior: 45% da população, contra 23% da média do país.
Para a pesquisadora do IBGE
Nilza Martins Pereira, é preciso
considerar que a população indígena é extremamente diversificada, apesar de representar só 0,4%
da população (ou 734 mil).
Ela afirma também que nem toda a população que se declarou
indígena vive em aldeias. Segundo o Censo, mais da metade
(52,2%) vive no meio urbano.
Para o escritor indígena Daniel
Munduruku, diretor-presidente
do Inbrapi (Instituto Indígena
Brasileiro para a Propriedade Intelectual), o conceito de pobreza e
desenvolvimento humano pode
ser empregado a populações indígenas urbanas, mas não pode ser
aplicado sem tratamento crítico
aos índios que vivem em aldeias.
"Se você pesquisar uma aldeia
apenas pelo critério de renda,
chegará a conclusão de que aquele
é um lugar de muita miséria. Porém há de se considerar que o povo indígena sempre viveu com
muito pouco", diz Munduruku.
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