São Paulo, domingo, 19 de abril de 1998

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DISPUTA
Pastor e padre querem mandar
Cidade vive "guerra santa' no Maranhão

Décio Sá/Folha Imagem
O prefeito cassado padre José de Ribamar Moraes Filho (PMDB) com os manifestantes que o apóiam em Bom Jesus da Selva, no Maranhão



DÉCIO SÁ
em Bom Jesus das Selvas (MA)

Políticos do município maranhense de Bom Jesus das Selvas, com 13 mil habitantes, travam uma "guerra santa" na disputa pela prefeitura local.
Na terça passada, o prefeito da cidade, padre José de Ribamar Moraes Filho (PMDB), foi cassado pela Câmara Municipal.
A cidade foi emancipado em 1996 e que ainda nem faz parte do mapa político do Maranhão.
Moraes Filho era o primeiro prefeito. Com a cassação, assumiu o vice-prefeito, pastor da Assembléia de Deus Pedro Fernandes da Silva (PMDB), 61, que até sexta-feira ainda não tinha conseguido entrar no gabinete.
Tudo porque o ex-prefeito levou a chave da porta de vidro da sala, além de vários documentos da administração municipal. Silva não quer quebrar a porta de vidro.
Além de um vice-prefeito pastor, o prefeito cassado tinha uma assessora mãe-de-santo. Ele diz, inclusive, que para se eleger contou com o apoio de vários pais e mães-de-santo do Maranhão.
Os pastor afirma que está recebendo ameaças de morte, por meio de bilhetes.
"Eu fui usado por ele (Moraes Filho) para se eleger. Ele por maldade ou perseguição política me colocou de canto", disse Silva.
No início da noite de quarta-feira, dois dias após ser cassado, de batina preta e crucifixo no peito, Moraes Filho ocupou a sede da prefeitura por algumas horas.
O prédio foi cercado por cerca de 500 pessoas que gritavam "é (padre) Ribamar, é Ribamar".
A maioria dos manifestantes tem algum parente trabalhando na prefeitura, maior fonte de emprego do município.
Depois de passear pela cidade cercado pela multidão, o padre foi à casa do prefeito-pastor, que não estava.
Com o tumulto na porta da casa, a mulher do pastor, Zizi Fernandes Silva, 58, hipertensa, passou mal e teve de ser internada.
A falta de comando tem levado o município, que fica a 452 km a sudoeste de São Luís, ao caos.
Quase todas as escolas estão sem funcionar, o único posto telefônico está quebrado há quase um mês e o cirurgião não aparece no hospital da cidade há um ano.
A cidade tem três policiais, mas sempre que o clima esquenta o Batalhão da PM na região manda reforço. Possui seis terreiros de umbanda, cinco igrejas protestantes e uma católica.
O ex-prefeito foi cassado acusado de cometer de oito infrações político-administrativas -entre elas a criação de uma "Delegacia Especial do Fuxico".
Durante a sessão que cassou o ex-prefeito, cerca de 50 índios guajajaras e moradores da cidade destruíram o prédio da Câmara.
O bispo da Diocese de Viana (MA), d. Xavier Gilles, 63, a quem Moraes Filho é subordinado, disse que o prefeito cassado continua padre e só está proibido de celebrar missa em público.



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