São Paulo, Segunda-feira, 19 de Abril de 1999
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FHC minimiza notícias sobre Lopes

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Évora

O presidente Fernando Henrique Cardoso negou ontem importância às novas informações sobre o caso do Banco Marka publicadas pela mídia no fim-de-semana, a ponto de cobrar "mais importância às coisas que realmente a têm, em vez de nos perdermos em nossa própria banha".
Coerente com essa posição, voltou a defender "a grande integridade intelectual e profissional" de Francisco Lopes, o ex-presidente do Banco Central, como já havia feito na quarta-feira.
Tentou até ironizar, na resposta a uma pergunta sobre as supostas ligações de Lopes com os irmãos Bragança:
"Nem sei quem são os irmãos Bragança. É a casa de Bragança, por acaso?", respondeu.
Não, os irmãos Bragança não pertencem a um dos ramos da família imperial brasileira, mas à firma Macrométrica, chamam-se Sérgio e Luís Augusto, e poderiam ter se beneficiado dos freqüentes contatos com Francisco Lopes, conforme a edição desta semana da revista "Época".
Mas, para o presidente, nada mudou desde a defesa anterior de Lopes: "A meus ouvidos, jamais chegou qualquer rumor nesse sentido", disse.
Pelo que leu nos jornais, FHC acha até que o caso "não tem esse vulto que se está dando" nem vai abalar a imagem do governo. No máximo, o presidente concedeu que, se houver abalo, ele será "coisa limitada".
De todo modo, FHC vem insistindo, nas sucessivas conversas com os jornalistas, em sugerir outra agenda, mais positiva.
Ontem, chegou a lembrar que lera certa vez entrevista de um historiador norte-americano que pedia que o Brasil afastasse o que considerava "pessimismo histórico".
"É verdade. Tem-se sempre a idéia de insistir em alguns lados que são mais negativos que nos positivos do Brasil. Isso não ajuda", completou FHC.
A pregação positiva do presidente não seduziu pelo menos os jornalistas que o cercavam ontem em Évora (140 km a sudeste de Lisboa), tanto que insistiam em perguntar sobre os episódios relativos ao Marka.
O presidente voltava, por sua vez, a afastar qualquer vinculação entre a saída de Francisco Lopes do BC, no dia 29 de janeiro, e algum indício de irregularidade, uma suspeita óbvia se forem confirmados os vínculos com agentes de mercado.
FHC repetiu o que dissera na Alemanha: "Saiu porque achei que precisava haver maior rapidez nas operações. Somente isso".
Naquele dia, a especulação com a moeda brasileira levou a cotação do dólar a ultrapassar R$ 2,10, em meio ao que o próprio presidente chamou de "forte pânico".


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