São Paulo, Segunda-feira, 19 de Abril de 1999
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Presidente passeia em Évora

do enviado especial a Évora

O presidente Fernando Henrique Cardoso, que um dia chamou aposentados de "vagabundos", viveu ontem o seu próprio dia mais ou menos assim, como ele próprio admitiu, brincando.
O presidente e sua mulher, Ruth Cardoso, caminhavam pelo largo Marquês de Marialva, no centro histórico de Évora, cidade "patrimônio da humanidade", 140 km a sudeste de Lisboa.
De repente, uma senhora brasileira atirou-se na direção do casal, como se fosse íntima:
"Vocês por aqui?", perguntou.
"É, viemos porque não temos nada para fazer", brincou FHC.
Pelo menos ontem, não havia nenhuma programação oficial. O casal e uma comitiva de 15 pessoas percorreu os 140 quilômetros a bordo de um microônibus, para almoçar no restaurante "Fialho".
Trata-se do mais tradicional restaurante de Évora, duas estrelas no mitológico guia turístico Michelin, também chamado de "a outra catedral" de Évora.
O apelido se explica pelo caráter monumental do cardápio. Só a entrada inclui oito diferentes tipos de petiscos, dos ovos de codorniz com paio a mexido de aspargo verde com ovo.
Prato principal, cação ao coentro ou borrego (cordeiro) assado.
Depois de pagar o equivalente a R$ 51 pela garrafa de vinho tinto "Tapada de Chaves", presidente e comitiva saíram para caminhar.
Seu único trabalho foi duelar verbalmente com o enviado especial da Folha.
Como o casal Cardoso, cercado de jornalistas, distanciou-se do guia, o repórter ensinou o caminho e aproveitou para provocar:
"Vou dar rumo ao governo".
"Pobre Brasil", retrucou FHC.
Mas pelo menos acertou o caminho até a Catedral de Santa Maria (século 12).
"Viu como o rumo estava certo?", brincou o jornalista.
"Para chegar à igreja você serve", respondeu o presidente.
"Já posso ser secretário-geral da CNBB?", insistiu o jornalista.
"Pelos últimos documentos da CNBB que tenho lido, você já é", respondeu FHC (que, na sexta-feira, criticou duramente o documento mais recente emitido pelos bispos brasileiros, contra a política econômica).
Outro repórter entra na troca de farpas: "Dom Mauro Morelli (bispo de Nova Iguaçu) disse que preferia o sr. quando o sr. era ateu".
"Mas eu nunca fui", reage o presidente. (CR).


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