São Paulo, Segunda-feira, 19 de Abril de 1999
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"Capuchinhos" foram precursores dos comícios

da Sucursal de Brasília

Alto e magricela, Dante de Oliveira tinha 32 anos quando entrou para a história como autor da emenda das diretas. E integrava um grupo de deputados de primeiro mandato, vindos da esquerda e dispostos a revolucionar o Congresso. Eles eram o escalão precursor dos comícios.
Jovens, barbudos, eles foram apelidados de "capuchinhos" e tinham algo muito específico em comum: todos queriam articular a candidatura à Presidência da República do sociólogo e professor Fernando Henrique Cardoso, que se tornara senador em 83.
Curiosamente, o ímpeto "fernandista" não resistiu até 94, quando FHC disputou e ganhou sua primeira eleição presidencial. Esse ímpeto só voltou, aos poucos e desconfiado, ao longo dos últimos quatro anos. Hoje, Dante é tucano e apóia FHC.
Em 94, ele era candidato do PDT ao governo de Mato Grosso e apoiava oficialmente o pedetista Leonel Brizola para a Presidência. Seu único cuidado foi fazer uma extensa aliança com outros partidos de esquerda e abrir seus palanques para os demais candidatos a presidente - inclusive FHC.
O rompimento com o PDT foi no primeiro mandato. Justamente porque apoiava a reeleição, que Brizola rechaçava.
Os outros "capuchinhos" eram: Márcio Lacerda (MT), que estava no PMDB e votou em Orestes Quércia por fidelidade partidária; João Herrmann Neto (SP), do PPS, votou em Lula, do PT; e Márcio Santilli (SP) largou a política e foi cuidar de índios.
Havia, ainda, Jackson Barreto (SE), que foi PMDB e PDT e em 94 apoiou Leonel Brizola (PDT) e depois Lula; Domingos Leonelli (BA), tucano dissidente, que votou em Lula; e, enfim, Arthur Virgílio Neto (AM). Este último, sim, tucano e cabo eleitoral de FHC.
Dante de Oliveira foi prefeito de Cuiabá, ministro da Reforma Agrária no governo Sarney e está em seu segundo mandato no governo de Mato Grosso.
Sua grande derrota foi curiosa: ele foi o deputado mais votado do Estado em 90, mas não conseguiu se eleger.
Sua coligação, toda de esquerda, não atingiu o número mínimo de votos.
Na semana passada, Dante deixou transparecer uma certa nostalgia pela política nacional. Aos 47 anos e embalado pelo nome da emenda das diretas, porém, ele sempre terá como voltar.
Sobre o eclético palanque das diretas e o destino dos partidos e personagens, ele explicou: "Éramos todos de pensamentos diferentes, de partidos diferentes. O grande traço comum era a redemocratização. Depois, cada um seguiu seu caminho". (EC)


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