São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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OPERAÇÃO CONDOR
Para tucano, ação anti-subversiva é "lembrança dolorosa"
Cooperação entre militares foi "espúria", afirma FHC

Ichiro Guerra/Folha Imagem
Fernando Henrique Cardoso (à dir.) e o vice-presidente Marco Maciel durante cerimônia no Instituto Rio Branco, no Itamaraty


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu ontem a existência da Operação Condor ao classificar de "espúria" e "sombria" a cooperação entre governos militares na América do Sul nos anos 70 e início dos anos 80.
"Há poucos dias, os meios de comunicação lembravam denúncias de formas espúrias e sombrias de cooperação, se é que isso pode ser chamado de cooperação, que em dado momento chegaram a existir entre governos autoritários em nossa região", afirmou.
"Felizmente, ainda que sejam lembranças dolorosas, podemos vê-las como uma página virada -mas que não se pode esquecer", acrescentou FHC, ao discursar para formandos do Instituto Rio Branco, no Itamaraty.
O presidente não fez menção direta à operação nem comentou o pedido da Justiça argentina para que o governo brasileiro forneça informações sobre três argentinos que supostamente teriam desaparecido no país em 1980.
O pedido foi encaminhado pelo Supremo Tribunal Federal ao advogado-geral da União, Gilmar Mendes, que estabeleceu um prazo até o dia 25 para que várias áreas -Abin, Ministério da Justiça, Polícia Militar e Forças Armadas- forneçam informações.
"Aprendemos com a história o custo humano do autoritarismo e das aventuras que relegam a liberdade à condição de valor secundário. Não fomos os únicos a aprender. Nossos vizinhos também aprenderam", disse FHC.
"Aprendemos que as liberdades do vizinho são também garantias de nossa própria liberdade. A democracia de cada país é importante para o avanço da democracia em todos os países."
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marcos Rolim (PT-RS), protocolou ontem no Planalto carta a FHC solicitando a abertura de arquivos da Operação Condor.
Para Rolim, o governo tem adotado postura "ambígua" no caso, porque autoriza a abertura de arquivos para investigar o desaparecimento de argentinos no Brasil, mas não permite que esses arquivos sejam abertos para investigar o desaparecimento de brasileiros no regime militar.
Rolim disse que membros da comissão vão a Assunção (Paraguai) nos dias 27, 28 e 29 para investigar o desaparecimento de brasileiros no regime do general Alfredo Stroessner. Seriam três desaparecidos no Paraguai, cinco no Chile e sete na Argentina.
O deputado disse que a comissão tentará conseguir documentos que comprovem a responsabilidade de Stroessner no desaparecimento de brasileiros. A intenção é convencer FHC a cancelar o asilo político concedido por ele ao general, que vive em Brasília.
FHC também criticou a concentração de renda no país. "Se nós formos olhar qualquer coeficiente de mensuração da concentração de renda ou de propriedade, nossos índices são alarmantes", disse.
"Quando se olha no longo prazo a distribuição de renda no sistema capitalista, dá arrepio. Se olharem a do Brasil, quase não muda no decurso de décadas."
Segundo FHC, a "batalha contra a desigualdade" começa pela educação. Essa parte do discurso foi feita de improviso, em resposta a um dos alunos, que cobrou a redução das desigualdades sociais.
(WILSON SILVEIRA e DANIELA NAHASS)


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