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Militares podem omitir papéis
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As Forças Armadas vão usar o
mesmo artifício de que se valeram
no governo Itamar Franco (1992-94) para não abrir os arquivos do
regime militar e entregar documentos que consideram sigilosos.
A Justiça argentina encaminhou
ao STF (Supremo Tribunal Federal) um pedido de informações,
em forma de questionário, sobre a
existência da Operação Condor
no Brasil. A primeira pergunta do
juiz argentino Cláudio Bonadio é
bem específica: se efetivamente
existiu o "Plano Condor". A Folha apurou junto a oficiais das três
Forças que, no Brasil, "só por acidente" deve aparecer algum documento com essa denominação.
A expressão foi criada no Chile e
era de uso comum naquele país e
na Argentina. No Brasil, os documentos sigilosos sobre as ações
conjuntas com outros países não
citavam a expressão "Condor".
Por isso, a resposta dos centros
de informação do Exército, da
Marinha e da Aeronáutica ao juiz
Bonadio deve ser que "nada consta". Ficando sem resposta a primeira pergunta, outras três ficariam, como se diz no jargão jurídico, automaticamente "prejudicadas". Elas foram feitas como sequência lógica da primeira.
Para obter resposta não evasiva,
o juiz argentino teria de refazer as
perguntas -sem usar a expressão "Condor"- e recomeçar todo o processo da carta rogatória:
encaminhá-la ao governo argentino e dali à embaixada em Brasília,
desta ao Itamaraty, depois ao STF,
que pede parecer à Procuradoria
Geral da República.
Em caso de decisão positiva do
Supremo, as perguntas seriam repassadas à AGU (Advocacia Geral
da União) para nova pesquisa
junto à Abin (Agência Brasileira
de Inteligência), à Polícia Federal
e às Forças Armadas.
No governo Itamar, o então ministro Maurício Corrêa (Justiça)
foi instruído a iniciar um processo de coleta de informações para
que uma comissão especial indenizasse as famílias dos mortos e
desaparecidos políticos.
Corrêa solicitou informações às
três Forças. Os militares interpretaram que o pedido não incluía
documentos sigilosos e despejaram sobre a mesa do ex-ministro
dezenas de cópias de reportagens
sobre operações realizadas no regime militar (1964-85), mas nada
sobre o paradeiro das vítimas.
"Elas (Forças Armadas) não
mandaram nada. Não pedimos
novamente porque o presidente
Itamar depois desistiu de levar o
assunto adiante", disse Corrêa,
hoje ministro do STF. As indenizações foram efetivadas no governo Fernando Henrique Cardoso.
A Folha apurou que até terça a
PF não tinha recebido nenhum
ofício ou requerimento para que
levantasse em seus arquivos os indícios da Operação Condor.
O ministro da Justiça, José Gregori, atribuiu o problema à burocracia interna, segundo sua assessoria, e ficou de mandar anteontem o pedido de informações.
O advogado-geral da União,
Gilmar Ferreira Mendes, deu prazo até o dia 25 para que a PF, a
Abin e as Forças Armadas respondam sobre a existência ou não
de documentos sobre o caso.
O Exército afirmou que seus arquivos são descentralizados e que
não sabe ainda como poderia
identificar possíveis documentos
em tão pouco tempo. Também se
vale da lei 8.159/91, que trata da
política nacional de arquivos públicos, e que limita a divulgação
de documentos sigilosos.
(RUI NOGUEIRA e WILLIAM FRANÇA)
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