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REGIME MILITAR
Arquivos dos EUA dizem que país teria optado por dar equipamentos
Para CIA, participação do
Brasil na Condor foi lateral
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Na visão dos agentes norte-americanos na América Latina na
década de 70, o Brasil participou
com restrições e teve uma atuação
limitada da Operação Condor
-o acordo feito em 1975 pelas ditaduras militares da região para
trocar informações sobre atividades "subversivas" e perseguir
opositores dos regimes militares
da época.
É o que revelam os documentos
dos EUA sobre a ditadura chilena
tornados públicos no ano passado. Eles indicam que, embora tenha aceitado juntar-se ao acordo
original entre Chile e Argentina
para fundar essa parceria, o governo brasileiro teria se oposto
inicialmente à realização de assassinatos na Europa e não demonstrava tanto ânimo com suas atividades quanto seus parceiros do
Cone Sul.
Como exemplo disso, segundo
os EUA, o Brasil teria decidido, ao
menos no início, ficar de fora das
"operações de ação" da Condor e
se comprometido a fornecer equipamentos para a Condortel, a rede de comunicações que assessorava a ação conjunta das ditaduras.
Isso não significa que os EUA
viam o Brasil como uma nação
que não colaborava com seus vizinhos na caça a comunistas. Os
EUA acreditavam que, no lado
brasileiro, essa colaboração se dava no nível das relações bilaterais
entre os países e não por meio da
Condor.
O documento mais específico
sobre a participação brasileira na
Operação Condor é uma comunicação feita, no início de 1976, por
agentes da CIA no Brasil para
Washington.
"Apesar de ter aderido ao acordo original entre Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia e Paraguai para cooperar na troca de informações sobre terrorismo e subversão, (o Brasil) ainda não concordou em participar das operações
de ação na Europa e limitaria sua
contribuição, no momento, ao
fornecimento de equipamentos
de comunicação para a Condortel, a rede de comunicação estabelecida pelos países da Condor."
A Condortel era uma subdivisão da Operação Condor responsável por aparelhar os países latino-americanos com equipamentos que viabilizassem a troca de
informações e ações sem que fosse preciso requisitar o aparato oficial. A CIA informou que o responsável pela Condortel era o coronel argentino Luiz Francisco
Nigra.
A oposição brasileira teria acabado retardando o início das operação da Condor na Europa, como mostra o mesmo documento
da CIA.
"Os países da Condor decidiram suspender seus planos de
operar na Europa e promover um
curso de treinamento em Buenos
Aires para os oficiais da Condor
que ficariam na Europa até o Brasil decidir se irá participar com os
outros da operação, ...(divulgação
censurada), que deverá ser sediada na França."
Não existem papéis indicando
se o Brasil acabou mais tarde mudando de idéia. Em agosto de
1976, outra comunicação secreta
da CIA alerta o governo dos EUA
que "os serviços uruguaios, argentinos e chilenos planejam treinar grupos em Buenos Aires para
missões na Europa Ocidental. Os
planos e metas não serão informados a pelo menos alguns líderes governamentais. A maior concentração de exilados latino-americanos na Europa fica em Paris".
Entre as vítimas conhecidas de
ações das ditaduras latino-americanas no mundo está o fundador
do Partido Democrata Cristão
chileno, Bernardo Leighton, que
sofreu um atentado em Roma em
outubro de 1975.
Reservas
O ânimo reduzido do Brasil
com a Operação Condor é indicado em vários comunicados e publicações periódicas internas norte-americanas.
No primeiro, um relatório semanal do Departamento de Estado dos EUA (datado de outubro
de 1976) sobre a cooperação entre
os regimes militares da América
do Sul, informa-se: "Brasil e Bolívia estão começando a participar
(da Condor), mas têm reservas,
por uma ou outra razão. O ímpeto
original para a cooperação entre
os países do Cone Sul provavelmente veio do Chile...O grupo
atual (Argentina, Bolívia, Chile,
Paraguai e Uruguai) espera trazer
o Brasil para dentro do acordo".
Ao explicar ao governo dos
EUA o que é a Operação Condor,
outro documento, de setembro de
1976, feito por agentes do Departamento de Defesa dos EUA na
Argentina, informa: " (A operação Condor) foi estabelecida recentemente entre serviços de inteligência da América do Sul com o
objetivo de eliminar as atividades
de terroristas marxistas em países
membros, tendo sido dito que o
Chile é o centro das operações.
Outros membros participantes
incluem: Argentina, Paraguai,
Uruguai e Bolívia. Além disso, o
Brasil aparentemente concordou
em fornecer informações para a
Operação Condor. Os membros
que mostram maior entusiasmo
até agora foram a Argentina, o
Uruguai e o Chile", afirma o texto
dos agentes.
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