UOL

São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PREVIDÊNCIA

Dois foram tirados da comissão por combater pontos da reforma

PT exclui seus rebeldes de comissão e abre nova crise

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Pressionada pelo governo, a liderança do PT na Câmara dos Deputados excluiu ontem da função de titulares da comissão especial que analisa a reforma da Previdência dois deputados que vinham manifestando contrariedade em relação a alguns pontos da proposta. A atitude abriu uma nova crise no partido.
Os excluídos ontem foram os deputados Ivan Valente (SP) e Doutor Rosinha (PR), que passaram a ocupar cargos de suplentes da comissão.
Os dois são membros de setores mais à esquerda do partido. Valente e Rosinha estiveram presentes no protesto dos funcionários públicos em Brasília, na semana passada, contra, principalmente, a reforma da Previdência.
Valente era um dos deputados mais atuantes da bancada petista nos temas relacionados à Previdência.
A exclusão dos parlamentares aconteceu um dia depois da apertada aprovação (32 votos contra 22) de uma declaração de apoio da bancada à reforma.
Com essa atitude, a liderança do PT pretende organizar uma infantaria leal ao governo na comissão especial, já que os indicados para substituir os excluídos são declaradamente favoráveis à reforma.
"Isso é terrível, não tem cabimento. Estão endurecendo de uma forma inimaginável", afirmou o deputado Chico Alencar (RJ), um dos principais porta-vozes dos grupos mais à esquerda da legenda, que somam cerca de 30 deputados.
"Não tem outra palavra. Foi uma rasteira", acrescentou o deputado Lindberg Farias (RJ), que era suplente na comissão e já havia sido afastado anteriormente.
Os dois esquerdistas lançaram um manifesto contra a atitude da liderança do PT e dizem que vão recorrer à bancada na reunião da próxima terça-feira.
A decisão de expulsar os deputados foi assumida pelo líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), que é da mesma tendência petista de Valente, a Força Socialista.
Pellegrino não deu declarações após fazer as nomeações e viajou para Salvador. Seus dois telefones celulares não aceitavam mais recados. A Folha deixou recado no escritório do parlamentar, em Salvador, mas não recebeu resposta.

Na reserva
"Não podemos escalar um time com gente que vai jogar contra", disse o deputado Paulo Bernardo (PR), um dos principais "governistas" do PT.
"Se, em um primeiro momento, até induzido por mim, ele [Pellegrino] retirou o Ivan da comissão, eu agora apóio a volta dele", disse o deputado Professor Luizinho (SP), vice-líder do governo, que foi indicado para uma das vagas.
Luizinho se referia ao fato de a liderança do PT ter definido no final da tarde que Valente seria, pelo menos, suplente. Até então, ele não teria posto algum.
O outro indicado é o deputado Maurício Rands (PE), que foi o relator da reforma da Previdência durante a análise na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara.
Com isso, os sete titulares do partido na comissão são da corrente leal ao Planalto, que já enfrenta problemas com outros partidos da base aliada. O PTB, o PDT e o PC do B, por exemplo, indicaram integrantes declaradamente opostos aos pilares da reforma.
Deputados da ala esquerda do PT devem propor nove emendas individuais ao texto, independentes das definidas pela bancada. Uma delas é submeter a proposta, depois de aprovada no Congresso, a um plebiscito. Também estão sendo redigidas propostas que fixam o teto da aposentadoria em 20 salários mínimos (R$ 4.800) e que suprimem a cobrança previdenciária dos inativos.

Primeira sessão
A comissão especial analisa o mérito da reforma e é o palco onde ela sofre emendas e pode ser alterada. Ontem ocorreu a primeira reunião de trabalho. A base governista rejeitou o acordo para a realização de audiências públicas em dez Assembléias Legislativas. A proposta do deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) foi interpretada como uma tentativa de atrasar os trabalhos.
Foram aprovados três requerimentos do relator, José Pimentel (PT-CE), para a realização de audiências públicas. Na próxima quarta-feira, o ministro Ricardo Berzoini (Previdência) será ouvido. Também foi aprovado um convite para o comparecimento de seis governadores e três prefeitos, além da realização de audiências públicas com sindicatos.


Texto Anterior: Contra-reforma: Lula foi "demagógico", afirma Helena
Próximo Texto: Para excluídos, veto é "inadmissível"
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.