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PREVIDÊNCIA
Dois foram tirados da comissão por combater pontos da reforma
PT exclui seus rebeldes de comissão e abre nova crise
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Pressionada pelo governo, a liderança do PT na Câmara dos Deputados excluiu ontem da função
de titulares da comissão especial
que analisa a reforma da Previdência dois deputados que vinham manifestando contrariedade em relação a alguns pontos da
proposta. A atitude abriu uma nova crise no partido.
Os excluídos ontem foram os
deputados Ivan Valente (SP) e
Doutor Rosinha (PR), que passaram a ocupar cargos de suplentes
da comissão.
Os dois são membros de setores
mais à esquerda do partido. Valente e Rosinha estiveram presentes no protesto dos funcionários
públicos em Brasília, na semana
passada, contra, principalmente,
a reforma da Previdência.
Valente era um dos deputados
mais atuantes da bancada petista
nos temas relacionados à Previdência.
A exclusão dos parlamentares
aconteceu um dia depois da apertada aprovação (32 votos contra
22) de uma declaração de apoio
da bancada à reforma.
Com essa atitude, a liderança do
PT pretende organizar uma infantaria leal ao governo na comissão especial, já que os indicados para substituir os excluídos são
declaradamente favoráveis à reforma.
"Isso é terrível, não tem cabimento. Estão endurecendo de
uma forma inimaginável", afirmou o deputado Chico Alencar
(RJ), um dos principais porta-vozes dos grupos mais à esquerda da
legenda, que somam cerca de 30
deputados.
"Não tem outra palavra. Foi
uma rasteira", acrescentou o deputado Lindberg Farias (RJ), que
era suplente na comissão e já havia sido afastado anteriormente.
Os dois esquerdistas lançaram
um manifesto contra a atitude da
liderança do PT e dizem que vão
recorrer à bancada na reunião da
próxima terça-feira.
A decisão de expulsar os deputados foi assumida pelo líder do
PT na Câmara, Nelson Pellegrino
(BA), que é da mesma tendência
petista de Valente, a Força Socialista.
Pellegrino não deu declarações
após fazer as nomeações e viajou
para Salvador. Seus dois telefones
celulares não aceitavam mais recados. A Folha deixou recado no
escritório do parlamentar, em
Salvador, mas não recebeu resposta.
Na reserva
"Não podemos escalar um time
com gente que vai jogar contra",
disse o deputado Paulo Bernardo
(PR), um dos principais "governistas" do PT.
"Se, em um primeiro momento,
até induzido por mim, ele [Pellegrino] retirou o Ivan da comissão,
eu agora apóio a volta dele", disse
o deputado Professor Luizinho
(SP), vice-líder do governo, que
foi indicado para uma das vagas.
Luizinho se referia ao fato de a
liderança do PT ter definido no final da tarde que Valente seria, pelo menos, suplente. Até então, ele
não teria posto algum.
O outro indicado é o deputado
Maurício Rands (PE), que foi o relator da reforma da Previdência
durante a análise na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da
Câmara.
Com isso, os sete titulares do
partido na comissão são da corrente leal ao Planalto, que já enfrenta problemas com outros partidos da base aliada. O PTB, o
PDT e o PC do B, por exemplo, indicaram integrantes declaradamente opostos aos pilares da reforma.
Deputados da ala esquerda do
PT devem propor nove emendas
individuais ao texto, independentes das definidas pela bancada.
Uma delas é submeter a proposta,
depois de aprovada no Congresso, a um plebiscito. Também estão sendo redigidas propostas que fixam o teto da aposentadoria em
20 salários mínimos (R$ 4.800) e
que suprimem a cobrança previdenciária dos inativos.
Primeira sessão
A comissão especial analisa o
mérito da reforma e é o palco onde ela sofre emendas e pode ser alterada. Ontem ocorreu a primeira
reunião de trabalho. A base governista rejeitou o acordo para a
realização de audiências públicas
em dez Assembléias Legislativas.
A proposta do deputado Onyx
Lorenzoni (PFL-RS) foi interpretada como uma tentativa de atrasar os trabalhos.
Foram aprovados três requerimentos do relator, José Pimentel
(PT-CE), para a realização de audiências públicas. Na próxima
quarta-feira, o ministro Ricardo
Berzoini (Previdência) será ouvido. Também foi aprovado um
convite para o comparecimento
de seis governadores e três prefeitos, além da realização de audiências públicas com sindicatos.
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