São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Delegado acusa "forças de AL'

ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

O delegado aposentado João Batista Campelo afirmou ontem em nota à imprensa que saiu da direção da Polícia Federal por ter sido vítima pela segunda vez de "forças poderosas, hoje homiziadas (escondidas) no Estado de Alagoas".
Campelo decidiu pedir exoneração no final da manhã, após receber informações de que o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso teria recomendado que o PSDB retirasse apoio à sua indicação, anteontem, em reunião da Executiva Nacional do partido.
Amigos de Campelo afirmaram que ele atribuiu sua demissão à união dos principais líderes políticos de Alagoas. Entre eles, citaram o ministro Renan Calheiros (Justiça), o presidente nacional do PSDB, Teotônio Vilela, e políticos do PSB ligados ao ex-padre José Antônio Monteiro, que mora em Maceió e acusou Campelo de tê-lo submetido a torturas em 1970.
O ex-diretor-geral da PF está convencido de que essa aliança política foi montada para inviabilizar sua posse, com a rápida localização do ex-padre, um dia após seu nome de ter sido anunciado.
Na nota, Campelo mostrou que saiu abalado do caso. "No meu discurso de posse (no último dia 15), afirmei que "não era um estranho no ninho (a PF)". Hoje, descendo desse honroso cargo, vou me esforçar para não me sentir um estranho no meu país".
"Como o apóstolo João Batista, minha cabeça foi pedida na bandeja", escreveu Campelo. "Só que desconheço a Salomé destes dias. Todavia, desejo declarar que sou um cidadão brasileiro honesto, com 30 anos de serviços prestados à nação."
A decisão do PSDB foi tomada anteontem, após Campelo depor por mais de cinco horas na Comissão de Direitos Humanos da Câmara sobre as acusações, sem contar com o apoio dos principais líderes da base governista.
Nomeado para o cargo havia apenas três dias, Campelo disse que "foi vítima de uma traição", segundo relatou o secretário da Fenapf (Federação Nacional dos Policiais Federais), João Valderi de Souza, após visitar o ex-diretor. "Ele disse que a sua vida pública está acabada", afirmou.
Por isso, Campelo afirmou que está inclinado a não aceitar convite do governador de Roraima, Neudo Campos, para retornar ao cargo de secretário de Segurança do Estado. Ele era secretário havia seis dias, quando foi convidado para a PF.



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