São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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GOVERNO
PSDB, PFL e PPB, que queriam que Renan Calheiros fosse demitido também, viram ministro ser reforçado
Pressão aliada anti-PMDB adiou mudança

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

A principal razão para o presidente Fernando Henrique Cardoso ter hesitado em demitir o recém-nomeado diretor-geral da Polícia Federal, João Batista Campelo, é que líderes de três dos principais partidos governistas também exigiam a demissão do ministro da Justiça, Renan Calheiros.
Segundo a Folha apurou, a avaliação de PSDB, PFL e PPB é que a demissão de Campelo agora reforça a posição do PMDB, que é o partido de Renan Calheiros. Além do mais, já foi anunciado em Brasília que FHC deve se reunir com Renan Calheiros na segunda-feira para discutir a sucessão na PF.
O PMDB havia deixado claro que a indicação de Campelo foi responsabilidade do presidente. Calheiros humilhou o nomeado quando lhe deu posse, nesta semana, sem nem ao menos chamá-lo para um despacho no seu gabinete depois da cerimônia.
Para os outros aliados de FHC, é uma demonstração de fraqueza livrar-se apenas de Campelo. Na avaliação deles, os peemedebistas assumiram uma postura arrogante. Um exemplo citado são as declarações, antes da nomeação de Campelo, de que o PMDB não apoiava esse nome.
Os aliados de FHC queriam a demissão de Campelo e a escolha de um novo diretor-geral da PF sem interferência do PMDB e do ministro da Justiça. Nesse sentido, a reunião já programada entre o presidente e Calheiros é uma derrota para PSDB, PFL e PPB.
São os seguintes os principais adversários do PMDB dentro do governo, segundo a Folha apurou, e que estão exigindo uma redução da influência dos peemedebistas:
a. PSDB - Tasso Jereissati (governador do Ceará), Mário Covas (governador de São Paulo), Pimenta da Veiga (ministro das Comunicações e coordenador político de FHC) e Aécio Neves (líder do PSDB na Câmara);
b. PFL - Antonio Carlos Magalhães (presidente do Senado, que ontem disse: "Evidentemente, isso não fortalece o governo, nomear alguém por 48 horas") e Jorge Bornhausen (presidente do PFL);
c. PPB - Esperidião Amin (governador de Santa Catarina).
Por paradoxal que possa parecer, o principal aliado do PMDB dentro do governo é o próprio presidente. FHC considera não ser viável dispensar o PMDB agora, pois o país ainda se recupera de uma crise econômica, e faltam reformas imprescindíveis para serem votadas no Congresso.
O grande problema é que ACM parece ter se convencido de que é necessário isolar o PMDB. Isso foi um dos temas de sua conversa com Covas, num almoço recente.
Nesse episódio em que Renan Calheiros quase saiu do Ministério da Justiça, tanto ACM como Covas já tinham um candidato para o cargo: o deputado federal Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), relator da reforma do Judiciário.
A sugestão era que FHC demitisse Calheiros, desse o cargo para um político de confiança dos outros governistas (Nunes Ferreira se dá bem com ACM) e entregasse um cargo menor ao PMDB.
O problema para PSDB, PFL e PPB é que o PMDB identificou a estratégia, com a ajuda de FHC.


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