São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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INTERNET
Piratas de sistemas informatizados deixam protestos contra governo FHC na rede mundial de computadores
"Hackers" invadem sites dos Três Poderes

SILVANA DE FREITAS
WILSON SILVEIRA
da Sucursal de Brasília

Os sites do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal foram invadidos anteontem à noite por "hackers", e o da Câmara dos Deputados, ontem à tarde.
Os invasores de sistemas de computação inseriram nessas páginas diferentes textos de protesto contra o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
A Folha apurou que os "hackers" tentaram realizar a mesma operação ontem de manhã no site do Senado, sem êxito.
Oficialmente, o Senado informou que sua página saiu do ar em razão de um problema interno: um aplicativo (programa) teria derrubado o sistema. Funcionários do Casa, entretanto, disseram extra-oficialmente que houve uma "batalha" com os "hackers", que tentaram entrar no sistema por mais de uma hora.
Na Câmara, poucas horas antes da invasão, um funcionário do setor de informática que se identificou como Hélio afirmou à Folha: "No nosso site ninguém entra, temos um "fire-wall" (programa de proteção) poderoso".
O acesso às páginas dos órgãos da cúpula dos Três Poderes da República ficou bloqueado parcialmente ontem. À noite, apenas o da Câmara continuava fora do ar.
O STF informou que a invasão em seu site ocorreu às 20h10 de anteontem, mas o problema só foi detectado às 7h40 de ontem. O acesso à página do tribunal foi suspenso em seguida e só foi restabelecido à tarde.
A página do Planalto só foi retirada do ar às 14h30. Técnicos do Palácio do Planalto estão tentando identificar a origem da mensagem. Segundo a Presidência, a base de dados utilizada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso não foi atingida.
O diretor-geral do STF, José Geraldo Tôrres, afirmou que há possibilidade "remota" de alteração de dados relacionados à tramitação de processos judiciais e à jurisprudência do STF.
Segundo ele, os técnicos de informática de plantão na madrugada não detectaram o problema porque o manifesto só aparecia quando a página do tribunal era acessada por um computador que estivesse fora da rede do tribunal.
Tôrres disse que o mecanismo de segurança usado para proteger dados técnicos do STF, como andamento de processos, foi ontem estendido à página inicial, onde o manifesto foi inserido. Ele não esclareceu se havia solicitado à Polícia Federal que investigasse o caso.
O manifesto inserido nos sites oficiais critica a privatização de estatais, o aumento da taxa de desemprego e o FMI (Fundo Monetário Internacional). Os responsáveis identificaram-se como "resistência" ou ainda "um grupo de amigos que amam o seu país"
No manifesto divulgado na página do Planalto, os "hackers" afirmam: "Não somos nenhum tipo de grupo comunista, stalinista ou qualquer coisa do tipo, e não fazemos parte de nenhum partido! Somos apenas um grupo de amigos que ama o seu país e não pode aceitar de maneira nenhuma o que está acontecendo". Em seguida, justificam: "Esse parece ser o único meio de fazer com que as pessoas nos escutem. Provavelmente isso não será publicado na imprensa, já que parece ser cúmplice disso tudo".
O texto divulgado no site do STF contém afirmações como: "Somos uns otários de joelhos aos ageotas (sic) internacionais, ao FMI, ao infeliz Estados Unidos da América. Fora daqui Bill Clinton".
Na mensagem divulgada na página da Câmara, os "hackers" afirmam: "Viemos mais uma vez a público, conforme o prometido, espalhando nosso vírus por todo o sistema, já há muito doente".


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