São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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ELEIÇÕES 2004 / VOTO RELIGIOSO

Candidatos a prefeito em São Paulo buscam atrair o apoio de pentecostais e neopentecostais, que ainda não declararam voto

Indeciso, eleitor evangélico é alvo de disputa

MURILO FIUZA DE MELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo mal começou, mas os quatro principais candidatos já estão com um olho na reza e o outro nos votos que ela pode lhes trazer. Em pouco menos de duas semanas de campanha, José Serra (PSDB), Marta Suplicy (PT), Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) já se lançaram na disputa para seduzir os eleitores evangélicos, que representam 16% do eleitorado paulistano, segundo dados do Censo 2000, do IBGE.
Por enquanto, o campo a ser conquistado ainda está aberto a negociações. As principais denominações pentecostais e neopentecostais, que costumam declarar publicamente suas opções políticas, ainda não se definiram.
Há, porém, uma tendência de apoio a Serra, o atual líder das pesquisas de intenção de voto. A Folha apurou que as igrejas Universal do Reino de Deus, Renascer em Cristo e Evangelho Quadrangular estão inclinadas a fechar um acordo com o tucano, embora ainda neguem oficialmente.
Somente a Brasil para Cristo, do pastor David Rodrigues, declarou apoio público a um candidato: o ex-prefeito Francisco Rossi, do nanico PHS. Rossi é evangélico.
"Ainda está muito cedo para decidir quem terá nosso apoio", afirma o coordenador político da Quadrangular, deputado Jefferson Campos (PMDB).
A Assembléia de Deus, maior denominação evangélica de São Paulo, com quase 400 mil fiéis, segundo o IBGE, está dividida. O ministério de Belém, ligado à CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil), responsável pelo maior número de templos da igreja no país, não descarta o apoio a Marta Suplicy.
O líder do ministério de Belém, pastor José Wellington, lançou a sua filha, Marta Soares, candidata a vereadora pelo PTB, um dos partidos aliados à prefeita.
"O fato de a Marta Soares sair pelo PTB não significa alinhamento direto com o PT, mas não descartamos o apoio a Marta, embora também estejamos conversando com outros candidatos", diz o pastor Lelis Washington Marinho, vice-presidente do conselho político da CGADB.
O outro ramo da Assembléia de Deus, o do ministério de Madureira, ligado à Conamad (Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil), que tem um número menor de fiéis em relação ao da CGADB, está mais próximo de José Serra. Na eleição presidencial de 2002, os pastores ligados ao ministério de Madureira declararam voto no tucano. Em São Paulo, o grupo fechou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
"Uma coisa é certa: nós não vamos votar na Marta, principalmente porque ela defende bandeiras que a nossa igreja e a sociedade repudiam", afirma o pastor Álvaro Maceió Filho, um dos coordenadores da Conamad.
Maceió Filho se refere ao fato de a prefeita participar, nos últimos anos, de passeatas gays na cidade e de apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. A questão moral também tem levado igrejas, como a Quadrangular, a dispensar o apoio à prefeita. "Há aspectos da administração dela que a igreja não concorda", afirma o deputado estadual Waldir Agnello (PTB), sem entrar em detalhes.
Outro motivo de rejeição a Marta entre os evangélicos é o fato de as administrações regionais terem passado a cobrar a regularização dos templos nos bairros.
Apesar da rejeição, Marta não tem deixado de visitar templos evangélicos, onde sobe ao púlpito para falar de suas principais realizações. Desde o início da campanha, ela participou de dois cultos na zona leste, onde se concentra o maior número de evangélicos pentecostais da cidade.
"O PT se relaciona de forma laica com todas as denominações evangélicas, por isso não nos assustamos com reações morais a nossa postura, como a questão homossexual", afirma o presidente nacional do PT, José Genoino.
Luiza Erundina (PSB), porém, tem tentado conquistar apoio no meio evangélico atuando justamente em cima da rejeição à petista. "O que estamos sentindo é que boa parte das igrejas evangélicas, principalmente as da periferia, estão aderindo a nossa campanha em função desse problema com a Marta", diz Ivan Seixas, coordenador da campanha de Erundina. Ela foi a seis cultos.
Serra e Maluf ainda não estiveram em um templo evangélico, mas o comando da campanha dos dois têm mandado emissários para conversar com as lideranças evangélicas da cidade. "Já recebemos a visita de pessoas ligadas aos dois, assim como de Marta e de Erundina", afirma o pastor Lelis Marinho, da Assembléia de Deus.
Segundo o deputado Edson Aparecido, coordenador da campanha serrista, a idéia é marcar, primeiro, um encontro com o Conselho de Pastores do Estado de São Paulo, que reúne as principais denominações evangélicas.
O coordenador designado pelos tucanos para falar com o setor é o vereador Carlos Alberto Bezerra Junior (PSDB), candidato à reeleição. Ele é ligado à Comunidade da Graça e é filho do presidente do Conselho de Pastores, Carlos Alberto Bezerra. Na semana passada, levou Serra para visitar a fundação social mantida pela igreja evangélica Comunidade da Graça, em Vila Formosa (zona leste).
Para as igrejas evangélicas pentecostais, a eleição de vereadores é mais importante do que o apoio declarado a um candidato a prefeito. São nas Câmaras que o grupo pode defender com maior força os interesses das igrejas. Em São Paulo não é diferente.
Ao todo, 23 candidatos a vereador têm o apoio oficial das cinco grandes igrejas pentecostais da cidade -Universal do Reino de Deus, Assembléia de Deus, Renascer em Cristo, Evangelho Quadrangular e Brasil para Cristo. No Estado, serão 1.717 candidatos a vereador e dez a prefeito.


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