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ELEIÇÕES 2004 / VOTO RELIGIOSO
Candidatos a prefeito em São Paulo buscam atrair o apoio de pentecostais e neopentecostais, que ainda não declararam voto
Indeciso, eleitor evangélico é alvo de disputa
MURILO FIUZA DE MELO
DA REPORTAGEM LOCAL
A corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo mal começou,
mas os quatro principais candidatos já estão com um olho na reza e
o outro nos votos que ela pode
lhes trazer. Em pouco menos de
duas semanas de campanha, José
Serra (PSDB), Marta Suplicy (PT),
Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) já se lançaram na disputa para seduzir os eleitores evangélicos, que representam 16% do
eleitorado paulistano, segundo
dados do Censo 2000, do IBGE.
Por enquanto, o campo a ser
conquistado ainda está aberto a
negociações. As principais denominações pentecostais e neopentecostais, que costumam declarar
publicamente suas opções políticas, ainda não se definiram.
Há, porém, uma tendência de
apoio a Serra, o atual líder das
pesquisas de intenção de voto. A
Folha apurou que as igrejas Universal do Reino de Deus, Renascer
em Cristo e Evangelho Quadrangular estão inclinadas a fechar um
acordo com o tucano, embora
ainda neguem oficialmente.
Somente a Brasil para Cristo, do
pastor David Rodrigues, declarou
apoio público a um candidato: o
ex-prefeito Francisco Rossi, do
nanico PHS. Rossi é evangélico.
"Ainda está muito cedo para decidir quem terá nosso apoio",
afirma o coordenador político da
Quadrangular, deputado Jefferson Campos (PMDB).
A Assembléia de Deus, maior
denominação evangélica de São
Paulo, com quase 400 mil fiéis, segundo o IBGE, está dividida. O
ministério de Belém, ligado à
CGADB (Convenção Geral das
Assembléias de Deus no Brasil),
responsável pelo maior número
de templos da igreja no país, não
descarta o apoio a Marta Suplicy.
O líder do ministério de Belém,
pastor José Wellington, lançou a
sua filha, Marta Soares, candidata
a vereadora pelo PTB, um dos
partidos aliados à prefeita.
"O fato de a Marta Soares sair
pelo PTB não significa alinhamento direto com o PT, mas não
descartamos o apoio a Marta, embora também estejamos conversando com outros candidatos",
diz o pastor Lelis Washington
Marinho, vice-presidente do conselho político da CGADB.
O outro ramo da Assembléia de
Deus, o do ministério de Madureira, ligado à Conamad (Convenção Nacional das Assembléias de
Deus no Brasil), que tem um número menor de fiéis em relação
ao da CGADB, está mais próximo
de José Serra. Na eleição presidencial de 2002, os pastores ligados ao
ministério de Madureira declararam voto no tucano. Em São Paulo, o grupo fechou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
"Uma coisa é certa: nós não vamos votar na Marta, principalmente porque ela defende bandeiras que a nossa igreja e a sociedade repudiam", afirma o pastor
Álvaro Maceió Filho, um dos
coordenadores da Conamad.
Maceió Filho se refere ao fato de
a prefeita participar, nos últimos
anos, de passeatas gays na cidade
e de apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. A questão
moral também tem levado igrejas,
como a Quadrangular, a dispensar o apoio à prefeita. "Há aspectos da administração dela que a
igreja não concorda", afirma o deputado estadual Waldir Agnello
(PTB), sem entrar em detalhes.
Outro motivo de rejeição a Marta entre os evangélicos é o fato de
as administrações regionais terem passado a cobrar a regularização dos templos nos bairros.
Apesar da rejeição, Marta não
tem deixado de visitar templos
evangélicos, onde sobe ao púlpito
para falar de suas principais realizações. Desde o início da campanha, ela participou de dois cultos
na zona leste, onde se concentra o
maior número de evangélicos
pentecostais da cidade.
"O PT se relaciona de forma laica com todas as denominações
evangélicas, por isso não nos assustamos com reações morais a
nossa postura, como a questão
homossexual", afirma o presidente nacional do PT, José Genoino.
Luiza Erundina (PSB), porém,
tem tentado conquistar apoio no
meio evangélico atuando justamente em cima da rejeição à petista. "O que estamos sentindo é
que boa parte das igrejas evangélicas, principalmente as da periferia, estão aderindo a nossa campanha em função desse problema
com a Marta", diz Ivan Seixas,
coordenador da campanha de
Erundina. Ela foi a seis cultos.
Serra e Maluf ainda não estiveram em um templo evangélico,
mas o comando da campanha dos
dois têm mandado emissários para conversar com as lideranças
evangélicas da cidade. "Já recebemos a visita de pessoas ligadas aos
dois, assim como de Marta e de
Erundina", afirma o pastor Lelis
Marinho, da Assembléia de Deus.
Segundo o deputado Edson
Aparecido, coordenador da campanha serrista, a idéia é marcar,
primeiro, um encontro com o
Conselho de Pastores do Estado
de São Paulo, que reúne as principais denominações evangélicas.
O coordenador designado pelos
tucanos para falar com o setor é o
vereador Carlos Alberto Bezerra
Junior (PSDB), candidato à reeleição. Ele é ligado à Comunidade da
Graça e é filho do presidente do
Conselho de Pastores, Carlos Alberto Bezerra. Na semana passada, levou Serra para visitar a fundação social mantida pela igreja
evangélica Comunidade da Graça, em Vila Formosa (zona leste).
Para as igrejas evangélicas pentecostais, a eleição de vereadores é
mais importante do que o apoio
declarado a um candidato a prefeito. São nas Câmaras que o grupo pode defender com maior força os interesses das igrejas. Em
São Paulo não é diferente.
Ao todo, 23 candidatos a vereador têm o apoio oficial das cinco
grandes igrejas pentecostais da cidade -Universal do Reino de
Deus, Assembléia de Deus, Renascer em Cristo, Evangelho Quadrangular e Brasil para Cristo. No
Estado, serão 1.717 candidatos a
vereador e dez a prefeito.
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