São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 2002

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ELEIÇÕES/PRESIDENTE

TRANSIÇÃO

Presidente encontra hoje, separadamente, os quatro principais presidenciáveis e busca apoio para acordo com o FMI

FHC espera compromisso dos candidatos

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso encontra-se hoje com os quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto para tentar salvar o final do seu segundo mandato e o início do próximo governo.
O ministro Pedro Parente e a equipe da Casa Civil passaram o fim de semana preparando um calhamaço repleto de números e informações do governo para mostrar aos candidatos a quantidade de decisões e de problemas que o presidente eleito enfrentará no começo de sua gestão. Parente esteve ontem com FHC para acertar os detalhes finais do encontro.
FHC quer dar a idéia de que o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) não se destina somente a salvá-lo, mas a aliviar as pressões da cadeira presidencial num primeiro ano de governo que se prevê complicado.
Em 2003, conforme a exposição que FHC fará, deverão continuar a escassear os dólares dos investidores internacionais, e não há sinais de melhoria significativa da economia norte-americana. Estaria criado, então, um cenário no qual os US$ 24 bilhões do FMI que estarão à disposição do próximo presidente seriam indispensáveis para evitar um calote.
FHC espera obter dos três oposicionistas -principalmente de Ciro Gomes (PPS), o candidato que hoje mais assusta o mercado-, o compromisso de que cumprirão na íntegra o acordo de US$ 30 bilhões com o FMI, dos quais apenas US$ 6 bilhões serão usados pelo atual governo.
O candidato do governo, José Serra (PSDB), já antecipou seu apoio ao acordo, que prevê revisão a cada três meses. FHC e o FMI julgam satisfatória a posição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), oposicionista que se esforça para se mostrar confiável à elite.
O governo espera um tom crítico de Anthony Garotinho (PSB), mas a chance reduzida de o ex-governador do Rio passar ao segundo turno dá à sua retórica menor capacidade de repercussão.
Além de transmitir a idéia de civilidade e de maturidade institucional com um encontro inédito na história do país entre um presidente e candidatos, FHC espera criar um fato político que tenha efeito econômico positivo. A intenção é assegurar uma transição tranquila. Se der certo, o dólar deverá cair, segundo o Planalto.
O sucessor de Fernando Henrique, se cumprir as metas do acordo (superávit primário de 3,75% em 2003, meta de inflação e respeito aos contratos), terá US$ 24 bilhões -52% de todos os recursos necessários para fechar as contas externas do país no ano que vem.

Ciro, o personagem
Apesar de negar, FHC quer dividir com os presidenciáveis o ônus da crise por avaliar que o seu agravamento tem um ingrediente mais político (a liderança de dois candidatos de oposição nas pesquisas) que econômico (a crônica vulnerabilidade da economia).
Nesse contexto, o personagem principal do encontro é Ciro, que tem deixado o mercado assustado com suas declarações. As palavras do candidato do PPS após a conversa com o presidente serão fundamentais para determinar o sucesso da iniciativa.
Era por isso que Serra resistia à realização de reuniões de FHC com os oposicionistas. O tucano avalia que os encontros com Ciro e Lula podem transmitir a idéia de que o governo o dá como derrotado. Mas se rendeu à iniciativa porque lhe interessa evitar o caos econômico para que se mantenha vivo na disputa eleitoral.
Hoje, Serra é o terceiro colocado, empatado tecnicamente com Garotinho. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, Lula liderou com 37%. Ciro obteve 27%. Serra, 13%. E Garotinho, 12%.

Arestas e medidas
Nos últimos dias, FHC e auxiliares se esforçaram para tentar diminuir a desconfiança dos presidenciáveis. Parente, por exemplo, conversou com o presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP), para tranquilizá-lo quanto a eventuais armadilhas.
Além de abrir e dar mais detalhes do acordo com o FMI, o presidente discutirá eventuais medidas econômicas de curto prazo, como pede a oposição.
Nos encontros, separados e previstos para durar uma hora cada, FHC estará acompanhado do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e dos ministros Pedro Malan (Fazenda) e Euclides Scalco (Secretaria Geral).
Das medidas econômicas, ponto secundário da pauta, a que tem mais chance de sair do papel é uma proposta da chamada minirreforma tributária.
Trata-se de um projeto de lei que acaba com o efeito cascata (cobrança do tributo em todas as etapas da cadeia produtiva sem compensação) do PIS/Pasep e isenta as exportações do pagamento desse tributo.
Outro ponto de debate deverá ser a manutenção em 2003 de uma receita de R$ 2,8 bilhões prevista para acabar neste ano. Detalhe: será preciso prorrogar pontos percentuais extras das alíquotas de tributos.


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