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ELEIÇÕES/PRESIDENTE
TRANSIÇÃO
Presidente encontra hoje, separadamente, os quatro principais presidenciáveis e busca apoio para acordo com o FMI
FHC espera compromisso dos candidatos
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso encontra-se hoje
com os quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto para
tentar salvar o final do seu segundo mandato e o início do próximo
governo.
O ministro Pedro Parente e a
equipe da Casa Civil passaram o
fim de semana preparando um
calhamaço repleto de números e
informações do governo para
mostrar aos candidatos a quantidade de decisões e de problemas
que o presidente eleito enfrentará
no começo de sua gestão. Parente
esteve ontem com FHC para acertar os detalhes finais do encontro.
FHC quer dar a idéia de que o
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) não se destina somente a salvá-lo, mas a aliviar as pressões da cadeira presidencial num primeiro ano de governo que se prevê complicado.
Em 2003, conforme a exposição
que FHC fará, deverão continuar
a escassear os dólares dos investidores internacionais, e não há sinais de melhoria significativa da
economia norte-americana. Estaria criado, então, um cenário no
qual os US$ 24 bilhões do FMI
que estarão à disposição do próximo presidente seriam indispensáveis para evitar um calote.
FHC espera obter dos três oposicionistas -principalmente de
Ciro Gomes (PPS), o candidato
que hoje mais assusta o mercado-, o compromisso de que
cumprirão na íntegra o acordo de
US$ 30 bilhões com o FMI, dos
quais apenas US$ 6 bilhões serão
usados pelo atual governo.
O candidato do governo, José
Serra (PSDB), já antecipou seu
apoio ao acordo, que prevê revisão a cada três meses. FHC e o
FMI julgam satisfatória a posição
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
oposicionista que se esforça para
se mostrar confiável à elite.
O governo espera um tom crítico de Anthony Garotinho (PSB),
mas a chance reduzida de o ex-governador do Rio passar ao segundo turno dá à sua retórica menor
capacidade de repercussão.
Além de transmitir a idéia de civilidade e de maturidade institucional com um encontro inédito
na história do país entre um presidente e candidatos, FHC espera
criar um fato político que tenha
efeito econômico positivo. A intenção é assegurar uma transição
tranquila. Se der certo, o dólar deverá cair, segundo o Planalto.
O sucessor de Fernando Henrique, se cumprir as metas do acordo (superávit primário de 3,75%
em 2003, meta de inflação e respeito aos contratos), terá US$ 24
bilhões -52% de todos os recursos necessários para fechar as
contas externas do país no ano
que vem.
Ciro, o personagem
Apesar de negar, FHC quer dividir com os presidenciáveis o ônus
da crise por avaliar que o seu agravamento tem um ingrediente
mais político (a liderança de dois
candidatos de oposição nas pesquisas) que econômico (a crônica
vulnerabilidade da economia).
Nesse contexto, o personagem
principal do encontro é Ciro, que
tem deixado o mercado assustado
com suas declarações. As palavras
do candidato do PPS após a conversa com o presidente serão fundamentais para determinar o sucesso da iniciativa.
Era por isso que Serra resistia à
realização de reuniões de FHC
com os oposicionistas. O tucano
avalia que os encontros com Ciro
e Lula podem transmitir a idéia de
que o governo o dá como derrotado. Mas se rendeu à iniciativa porque lhe interessa evitar o caos econômico para que se mantenha vivo na disputa eleitoral.
Hoje, Serra é o terceiro colocado, empatado tecnicamente com
Garotinho. Na pesquisa Datafolha divulgada ontem, Lula liderou
com 37%. Ciro obteve 27%. Serra,
13%. E Garotinho, 12%.
Arestas e medidas
Nos últimos dias, FHC e auxiliares se esforçaram para tentar diminuir a desconfiança dos presidenciáveis. Parente, por exemplo,
conversou com o presidente do
PT, o deputado federal José Dirceu (SP), para tranquilizá-lo
quanto a eventuais armadilhas.
Além de abrir e dar mais detalhes do acordo com o FMI, o presidente discutirá eventuais medidas econômicas de curto prazo,
como pede a oposição.
Nos encontros, separados e previstos para durar uma hora cada,
FHC estará acompanhado do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e dos ministros Pedro
Malan (Fazenda) e Euclides Scalco (Secretaria Geral).
Das medidas econômicas, ponto secundário da pauta, a que tem
mais chance de sair do papel é
uma proposta da chamada minirreforma tributária.
Trata-se de um projeto de lei
que acaba com o efeito cascata
(cobrança do tributo em todas as
etapas da cadeia produtiva sem
compensação) do PIS/Pasep e
isenta as exportações do pagamento desse tributo.
Outro ponto de debate deverá
ser a manutenção em 2003 de
uma receita de R$ 2,8 bilhões prevista para acabar neste ano. Detalhe: será preciso prorrogar pontos
percentuais extras das alíquotas
de tributos.
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