São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 2002

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Aliados disputam poder na campanha do PPS

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o crescimento nas pesquisas de intenção de voto trouxe ao presidenciável do PPS, Ciro Gomes, a possibilidade de vitória, tornou, por outro lado, ainda mais evidente a disputa pela hegemonia ideológica e pelo controle político de sua campanha ao Planalto.
Centro de uma aliança com partidos tão opostos quanto o PPS e o PFL, Ciro tem sofrido com a disputa de poder entre as duas legendas e o PTB. Embora não admita em público, o PFL, aliado informal do candidato, espera, como de costume, ter papel predominante em sua condução ao poder.
Maior e mais organizado que PTB, PPS e PDT, o PFL considera "natural" sua ascensão na campanha. "No segundo turno teremos o apoio do PSDB em peso e, com isso, vamos reeditar a aliança que elegeu Fernando Henrique Cardoso, sem o PMDB. Seremos o eixo de Ciro", prevê um pefelista que prefere não ser identificado.
Lideranças da legenda afirmam ainda que a sigla tem contribuído, a pedidos, com o programa de governo de Ciro, com sugestões que estariam sendo encaminhadas ao coordenador do projeto, o filósofo Roberto Mangabeira Unger.
Apesar de negarem qualquer discussão envolvendo cargos, os pefelistas esperam não só participar do governo como ocupar posições de destaque em uma eventual administração Ciro.
"É óbvio que tudo isso passa pelas lideranças do Senado e da Câmara, o que nos fez romper com FHC. E o mais natural, por exemplo, é que o líder do governo Ciro seja do PFL. Temos mais quadros", diz um dos pefelistas mais influentes junto ao candidato.

Martinez e Paulinho
Aliado de primeira hora do presidenciável e detentor de recursos financeiros, o PTB dominou a candidatura até a saída de seu presidente, José Carlos Martinez, da coordenação-geral da campanha. O líder petebista foi acusado de envolvimento com PC Farias.
O PTB identificou na saída de seu presidente a senha para que o PPS tentasse dominar a candidatura do ex-governador. Atribui ao partido de Ciro ações para prejudicar Martinez, como a responsabilidade pela divulgação de novas denúncias contra ele.
Já o PPS vinha sendo discretamente isolado na Frente Trabalhista principalmente devido às declarações de seu presidente, senador Roberto Freire, contra os interesses da coligação.
Além de ter se manifestado contra a aliança formal com o PFL, Freire sustentou o lançamento da candidatura de Antonio Britto (PPS) ao governo gaúcho, mesmo diante do veto de Leonel Brizola, presidente do PDT. O episódio chegou a ameaçar a Frente.
A proximidade de Ciro com o PTB nunca agradou a Freire e a seus correligionários, que viam no gesto uma manifestação de subserviência financeira por parte do candidato e uma ameaça ao caráter supostamente de centro-esquerda da campanha.
Por isso, como contrapartida, vêem uma tentativa de golpe de direita na recente pressão do PTB pela substituição do vice da chapa, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PTB).
Pepessistas sustentam que o PTB acabaria decidindo por uma nova indicação em sintonia com o PFL. Avaliam que a cúpula da legenda pretendia, com o gesto, uma aproximação com o PFL e o consequente fortalecimento da vertente mais à direita da aliança.
Os pefelistas confirmam articulações com esse fim e dizem que o PTB antes mesmo disso chegaram a oferecer ao PFL a vice.
Abandonado por seu partido, Paulinho teve sua permanência sustentada por Ciro, após advogados garantirem não haver nada de concreto nas acusações.
Integrantes do PPS próximos a Ciro dizem ainda que, com a manutenção do sindicalista, o candidato pretendia enviar a seus aliados o recado de que não abandonará o caráter de centro-esquerda que atribui à candidatura.
Derrotado em um primeiro momento, o PTB vem de certa forma reconquistando terreno com a presença cada vez mais onipresente de um de seus filiados, o deputado federal Walfrido Mares Guia, na campanha.
Citado com um dos possíveis vices, Mares Guia faz parte do comitê financeiro de Ciro e atua como interlocutor junto ao governo.
Em harmonia com Ciro só mesmo o PDT, admitem todas as demais legendas aliadas. Em processo de fusão com o PTB e defensor da entrada do PFL na campanha, o partido tem sido o único a permanecer distante da disputa pela paternidade da candidatura Ciro.


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