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REFORMA SOB PRESSÃO
Benefícios poderão ser mantidos por mais oito anos
Governo muda tributária e mantém a guerra fiscal
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na tentativa de viabilizar o
avanço da reforma tributária no
Congresso, o governo decidiu ceder a uma série de lobbies regionais e empresariais por alterações
no projeto, incluindo pontos centrais como o novo ICMS e o fim
dos benefícios fiscais concedidos
pelos Estados para atrair empresas e investimentos.
As alterações foram incluídas
no relatório do deputado Virgílio
Guimarães (PT-MG), apresentado informalmente ontem à noite
na comissão especial da Câmara
encarregada de analisar a reforma. A pedido dos deputados, a
leitura do texto ficou para quinta.
Pelo texto, benefícios fiscais em
vigor poderão ser mantidos por
mais oito anos. No mesmo período, haverá uma alteração gradual
na forma de repartição das receitas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), de forma a privilegiar os Estados de destino das mercadorias.
O fim dos incentivos da Zona
Franca de Manaus, hoje previsto
para 2013, fica para 2023.
Apesar das concessões, membros da comissão se queixaram
do relatório. "Estou frustrado",
disse Sandro Mabel (PL-GO), o
maior defensor da prorrogação
dos benefícios fiscais. "Pelo que
vínhamos discutindo com o relator, o prazo seria de 15 anos."
Já o tucano paulista Walter
Feldman, adversário da guerra
fiscal, considerou a transição de
oito anos "razoável", mas reclamou do período para a cobrança
do ICMS no destino das mercadorias: "É muito rápido".
"O prazo [para o fim dos benefícios] dá tranquilidade para o empresário que investiu e também
para os Estados", argumentou
Guimarães, ao expor as linhas gerais do projeto na comissão.
Para agradar ao empresariado,
foram incluídas regras como a
noventena (período mínimo de
90 dias entre a criação e a cobrança de um novo imposto) e a previsão de leis para reduzir a tributação sobre os investimentos e sobre empresas de pequeno porte.
O relatório desmente a afirmação do governo de que seria apresentada uma reforma "enxuta",
limitada a poucos temas consensuais. Enquanto o projeto original
alterava apenas oito artigos da
Constituição, o substitutivo de
Guimarães altera 22.
Segundo os governistas, o texto
pode ser alterado até a votação na
comissão, marcada para quinta.
CPMF e DRU
O objetivo principal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é
conseguir, ainda neste ano, a
prorrogação da CPMF e da DRU
(Desvinculação de Receitas da
União, que permite gastar livremente 20% da receita dos principais tributos). Para isso, o projeto
deve chegar ao Senado rápido. A
estratégia adotada foi ceder à comissão agora para concluir as
duas votações no plenário da Câmara até setembro.
Avalia-se que, no Senado, temas
de interesse dos governadores devam gerar discussões demoradas,
mas será possível "fatiar" a reforma, aprovando apenas a DRU e a
CPMF num primeiro momento.
Há, porém, um obstáculo nesse
caminho: a crescente pressão de
prefeitos e governadores pela partilha dos recursos da CMF, a contribuição que, pelo projeto, substituirá a CPMF em caráter permanente, com alíquota de 0,38%.
Partidos de oposição, como PFL
e PSDB, e aliados, como PMDB e
PL, ameaçam impor já na comissão da Câmara a divisão da CMF.
Outro ponto de discórdia é o fundo para compensar os Estados pelo fim do ICMS sobre as exportações. O governo aceitou incluir o
fundo no texto constitucional,
mas persistem os conflitos regionais pela divisão do dinheiro.
Pelo relatório de Guimarães, o
fundo terá receitas do IPI (10% da
receita do tributo) e dos impostos
sobre importações e exportações.
Os governadores querem garantir
um montante anual de R$ 8,5 bilhões. A equipe econômica busca
algo mais próximo dos R$ 6 bilhões atuais.
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