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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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ESQUERDA NO DIVÃ

Economista, que teve candidatura ao Nobel lançada durante seminário no Rio, afirma que bancos estão "alegres"

Furtado critica taxas e diz que país vive para pagar juros

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O economista Celso Furtado, 83, cuja candidatura ao Prêmio Nobel de Economia foi lançada ontem no Rio de Janeiro, criticou as altas taxas de juros mantidas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Com as taxas de juros altíssimas que estão aí, o país vive só para pagar juros", afirmou Furtado. Segundo ele, "os bancos estão ganhando muito dinheiro, alegres".
A candidatura de Furtado ao Nobel de Economia foi lançada no seminário "Hegemonia e Contra-hegemonia: os Impasses da Globalização e os Processos de Regionalização", que acontece até sexta-feira no hotel Glória.
Antes da abertura do evento, em entrevista coletiva, Furtado disse que a concentração de renda no Brasil é fruto da política de juros altos e que não esperava que o governo Lula fosse "tão longe no conservadorismo".
Ao mesmo tempo, afirmou que é preciso cuidado. "É preciso manobrar com muito cuidado. Você pode ficar diante de uma situação de ter de parar a economia completamente. Aí a desordem social vai ser muito grande no Brasil", afirmou Furtado.
O economista disse que não foi consultado sobre as políticas financeiras atuais e quem está no governo tem de responder por elas. Segundo ele, ainda é preciso esperar um pouco mais para fazer uma avaliação definitiva.
"A política do Banco Central é justa? Eu não faria essa política. Eles que estão adotando essa política têm suas razões, não fazem por traidores, não. Fazem dentro de um espírito de colaboração e pensando nos interesses do povo brasileiro", disse o economista.
Segundo ele, a tática do governo até agora foi de não entrar em conflito com os interesses do mercado, e isso desnorteou quem esperava confrontação, inclusive o próprio mercado.
Essa tática, segundo Furtado, se tem conseguido surpreender o mercado, está fazendo com que o governo Lula pague um preço muito alto, por estar sendo reprovado por muitos dos seus aliados.
Ex-diretor da Divisão de Desenvolvimento da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), criador da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e autor do clássico "Formação Econômica do Brasil", Furtado disse que ficou satisfeito com o apoio dos colegas à sua candidatura ao Nobel. Na cerimônia de abertura do seminário, foi aplaudido de pé por cerca de 500 pessoas.
O economista Theotonio dos Santos, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e um dos principais articuladores da candidatura de Furtado, disse que cerca de 600 economistas do mundo apóiam a iniciativa.
Santos é coordenador do seminário, promovido pela Reggen (Rede de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável), entidade criada pelas Unesco e pela Universidade das Nações Unidas.
Segundo ele, é necessária a assinatura de um vencedor do Nobel de Economia ratificando a candidatura de Furtado, e quatro premiados já estariam dispostos a fazê-lo. Há também o apoio de entidades da área de economia e ciências sociais, como o Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais) e a Cepal. Um dossiê com a documentação oficial da candidatura será entregue em janeiro aos organizadores, como a Academia de Ciências e o Banco Central da Suécia, fazendo de Furtado, segundo Santos, o primeiro brasileiro indicado para disputar o Nobel de Economia.


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