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ESQUERDA NO DIVÃ
Economista, que teve candidatura ao Nobel lançada durante seminário no Rio, afirma que bancos estão "alegres"
Furtado critica taxas e diz que país vive para pagar juros
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O economista Celso Furtado,
83, cuja candidatura ao Prêmio
Nobel de Economia foi lançada
ontem no Rio de Janeiro, criticou
as altas taxas de juros mantidas
pelo governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
"Com as taxas de juros altíssimas que estão aí, o país vive só para pagar juros", afirmou Furtado.
Segundo ele, "os bancos estão ganhando muito dinheiro, alegres".
A candidatura de Furtado ao
Nobel de Economia foi lançada
no seminário "Hegemonia e Contra-hegemonia: os Impasses da
Globalização e os Processos de
Regionalização", que acontece até
sexta-feira no hotel Glória.
Antes da abertura do evento,
em entrevista coletiva, Furtado
disse que a concentração de renda
no Brasil é fruto da política de juros altos e que não esperava que o
governo Lula fosse "tão longe no
conservadorismo".
Ao mesmo tempo, afirmou que
é preciso cuidado. "É preciso manobrar com muito cuidado. Você
pode ficar diante de uma situação
de ter de parar a economia completamente. Aí a desordem social
vai ser muito grande no Brasil",
afirmou Furtado.
O economista disse que não foi
consultado sobre as políticas financeiras atuais e quem está no
governo tem de responder por
elas. Segundo ele, ainda é preciso
esperar um pouco mais para fazer
uma avaliação definitiva.
"A política do Banco Central é
justa? Eu não faria essa política.
Eles que estão adotando essa política têm suas razões, não fazem
por traidores, não. Fazem dentro
de um espírito de colaboração e
pensando nos interesses do povo
brasileiro", disse o economista.
Segundo ele, a tática do governo
até agora foi de não entrar em
conflito com os interesses do mercado, e isso desnorteou quem esperava confrontação, inclusive o
próprio mercado.
Essa tática, segundo Furtado, se
tem conseguido surpreender o
mercado, está fazendo com que o
governo Lula pague um preço
muito alto, por estar sendo reprovado por muitos dos seus aliados.
Ex-diretor da Divisão de Desenvolvimento da Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina), criador da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste) e autor do clássico
"Formação Econômica do Brasil", Furtado disse que ficou satisfeito com o apoio dos colegas à
sua candidatura ao Nobel. Na cerimônia de abertura do seminário, foi aplaudido de pé por cerca
de 500 pessoas.
O economista Theotonio dos
Santos, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e
um dos principais articuladores
da candidatura de Furtado, disse
que cerca de 600 economistas do
mundo apóiam a iniciativa.
Santos é coordenador do seminário, promovido pela Reggen
(Rede de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável), entidade criada pelas Unesco e pela
Universidade das Nações Unidas.
Segundo ele, é necessária a assinatura de um vencedor do Nobel
de Economia ratificando a candidatura de Furtado, e quatro premiados já estariam dispostos a fazê-lo. Há também o apoio de entidades da área de economia e ciências sociais, como o Clacso (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais) e a Cepal. Um dossiê
com a documentação oficial da
candidatura será entregue em janeiro aos organizadores, como a
Academia de Ciências e o Banco
Central da Suécia, fazendo de Furtado, segundo Santos, o primeiro
brasileiro indicado para disputar
o Nobel de Economia.
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