São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS

Ex-diretor de marketing do BB insiste não saber que havia dinheiro em pacotes do PT

Gushiken influía em fundos de pensão, afirma Pizzolato

FERNANDA KRAKOVICS
LEONARDO SOUZA
LEILA SUWWAN

SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dizendo-se "usado", o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato afirmou ontem à CPI dos Correios que não sabia que havia dinheiro nos pacotes que mandou buscar no Banco Rural para o PT, a pedido do publicitário Marcos Valério de Souza. Os envelopes continham R$ 326 mil.
Em seu depoimento, Pizzolato insinuou que o então ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) interferia nas decisões de investimento da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Parlamentares suspeitam que entidades de previdência sejam uma das origens do caixa dois do PT. Gushiken nega qualquer ingerência.
O ex-diretor do banco apareceu no atual escândalo político quando o contínuo da Previ Luiz Eduardo da Silva surgiu na lista de sacadores das contas de Marcos Valério. O contínuo afirmou que deu os R$ 326 mil para Pizzolato.
Pizzolato contou que recebera telefonema no dia 15 de janeiro de 2004 de uma funcionária da DNA, agência de Marcos Valério que tem contrato com o BB, pedindo que ele buscasse "documentos" no centro do Rio de Janeiro, onde mora. "Eu fiz um favor", disse Pizzolato no depoimento que durou cerca de cinco horas.
Petista, embora tenha afirmado que não renovou sua filiação, o ex-diretor disse que não conhece a pessoa do partido que pegou os dois pacotes em sua casa no final do mesmo dia. Ele também não soube descrevê-la para a CPI.
"Não consigo acreditar que o senhor, como diretor de Marketing do Banco do Brasil, que é um cargo muito importante, recebe uma ligação de um desconhecido pedindo para pegar documentos e repassa para um outro desconhecido do PT", afirmou a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL).
A versão de Pizzolato tem contradições com o depoimento do contínuo à Polícia Federal. O ex-diretor do BB afirmou que não sabia que o endereço fornecido pela funcionária da DNA era do Banco Rural. Já Luiz Eduardo disse que Pizzolato solicitou no telefonema que ele fosse à agência bancária e deu o nome da pessoa a procurar.
O contínuo também disse que foi orientado a contatar um motorista chamado José Cláudio que o levaria de carro até o Rural, o que indicaria que Pizzolato sabia do transporte de valores. Já Pizzolato disse na CPI que perguntou a Luiz Eduardo, na volta, se ele precisava de dinheiro para cobrir despesas com transporte.
Segundo Pizzolato, o contínuo foi pedir esclarecimentos quando viu seu nome citado no jornal como sacador de R$ 326 mil. "Eu disse a ele: "Duda, armaram uma cilada para nós e não sei como vamos sair dessa".", disse o ex-diretor que, abatido, não usava a tradicional gravata borboleta.
Dias após o saque, Pizzolato comprou um apartamento em Copacabana. Ele disse que comprou o imóvel com seu dinheiro, dando um cheque de R$ 300 mil e uma parcela de R$ 100 mil em espécie, que possuiria por ter comprado dólares, ao longo de três anos, para uma viagem.
Ex-presidente do conselho deliberativo da Previ, Pizzolato insinuou que o presidente do fundo de pensão, Sérgio Rosa, era influenciado por Gushiken. "Ele disse que estava sofrendo muita pressão política e que não sabia se ia suportar", contou Pizzolato.
A declaração teria sido dada quando Rosa foi cobrado sobre a opção da Previ de manter representantes no grupo Brasil Telecom e não na Telemar. Segundo Pizzolato, Rosa e Gushiken teriam ido tratar do assunto com o ministro Antonio Palocci (Fazenda).
"O presidente da Previ pediu que aguardássemos porque estava conversando com Gushiken e iria ao Palocci", disse. "Eu sabia que os presidentes dos fundos conversavam periodicamente com Gushiken mas nunca fui convidado."
Pizzolato afirmou também que a diretoria da Previ, comandada por Rosa, fechou com o Citigroup acordo para a venda da Telemig e da Amazônia Celular prejudicial ao fundo sem informar ao conselho deliberativo da fundação.
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) questionou Pizzolato sobre o motivo de só agora vir a público fazer acusações contra a diretoria da Previ. "Vejo mágoa na sua atitude", disse Bittar, reiterando que Pizzolato só fez a denúncia após ser instado a deixar o BB e a Previ.
Pressionado pelo senador César Borges (PFL-BA), Pizzolato hesitou em confirmar declaração dada à Folha sobre interesses vinculados a campanhas políticas, mas depois confirmou que Rosa teria dito que as pressões que sofria tinham essa finalidade. Apesar de ter integrado o comitê financeiro da campanha do presidente Lula, Pizzolato disse que não arrecadava recursos, mas apenas organizaria reuniões com empresários.
Pizzolato, que chegou a receber salários que somavam R$ 45 mil mensais, foi chamado de "marajá" pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).


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