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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS
Ex-diretor de marketing do BB insiste não saber que havia dinheiro em pacotes do PT
Gushiken influía em fundos de pensão, afirma Pizzolato
FERNANDA KRAKOVICS
LEONARDO SOUZA
LEILA SUWWAN
SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dizendo-se "usado", o ex-diretor de Marketing do Banco do
Brasil Henrique Pizzolato afirmou ontem à CPI dos Correios
que não sabia que havia dinheiro
nos pacotes que mandou buscar
no Banco Rural para o PT, a pedido do publicitário Marcos Valério
de Souza. Os envelopes continham R$ 326 mil.
Em seu depoimento, Pizzolato
insinuou que o então ministro
Luiz Gushiken (Comunicação de
Governo) interferia nas decisões
de investimento da Previ, o fundo
de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil. Parlamentares
suspeitam que entidades de previdência sejam uma das origens do
caixa dois do PT. Gushiken nega
qualquer ingerência.
O ex-diretor do banco apareceu
no atual escândalo político quando o contínuo da Previ Luiz
Eduardo da Silva surgiu na lista de
sacadores das contas de Marcos
Valério. O contínuo afirmou que
deu os R$ 326 mil para Pizzolato.
Pizzolato contou que recebera
telefonema no dia 15 de janeiro de
2004 de uma funcionária da DNA,
agência de Marcos Valério que
tem contrato com o BB, pedindo
que ele buscasse "documentos"
no centro do Rio de Janeiro, onde
mora. "Eu fiz um favor", disse
Pizzolato no depoimento que durou cerca de cinco horas.
Petista, embora tenha afirmado
que não renovou sua filiação, o
ex-diretor disse que não conhece
a pessoa do partido que pegou os
dois pacotes em sua casa no final
do mesmo dia. Ele também não
soube descrevê-la para a CPI.
"Não consigo acreditar que o senhor, como diretor de Marketing
do Banco do Brasil, que é um cargo muito importante, recebe uma
ligação de um desconhecido pedindo para pegar documentos e
repassa para um outro desconhecido do PT", afirmou a senadora
Heloísa Helena (PSOL-AL).
A versão de Pizzolato tem contradições com o depoimento do
contínuo à Polícia Federal. O ex-diretor do BB afirmou que não sabia que o endereço fornecido pela
funcionária da DNA era do Banco
Rural. Já Luiz Eduardo disse que
Pizzolato solicitou no telefonema
que ele fosse à agência bancária e
deu o nome da pessoa a procurar.
O contínuo também disse que
foi orientado a contatar um motorista chamado José Cláudio que o
levaria de carro até o Rural, o que
indicaria que Pizzolato sabia do
transporte de valores. Já Pizzolato
disse na CPI que perguntou a Luiz
Eduardo, na volta, se ele precisava
de dinheiro para cobrir despesas
com transporte.
Segundo Pizzolato, o contínuo
foi pedir esclarecimentos quando
viu seu nome citado no jornal como sacador de R$ 326 mil. "Eu
disse a ele: "Duda, armaram uma
cilada para nós e não sei como vamos sair dessa".", disse o ex-diretor que, abatido, não usava a tradicional gravata borboleta.
Dias após o saque, Pizzolato
comprou um apartamento em
Copacabana. Ele disse que comprou o imóvel com seu dinheiro,
dando um cheque de R$ 300 mil e
uma parcela de R$ 100 mil em espécie, que possuiria por ter comprado dólares, ao longo de três
anos, para uma viagem.
Ex-presidente do conselho deliberativo da Previ, Pizzolato insinuou que o presidente do fundo
de pensão, Sérgio Rosa, era influenciado por Gushiken. "Ele
disse que estava sofrendo muita
pressão política e que não sabia se
ia suportar", contou Pizzolato.
A declaração teria sido dada
quando Rosa foi cobrado sobre a
opção da Previ de manter representantes no grupo Brasil Telecom e não na Telemar. Segundo
Pizzolato, Rosa e Gushiken teriam
ido tratar do assunto com o ministro Antonio Palocci (Fazenda).
"O presidente da Previ pediu
que aguardássemos porque estava conversando com Gushiken e
iria ao Palocci", disse. "Eu sabia
que os presidentes dos fundos
conversavam periodicamente
com Gushiken mas nunca fui
convidado."
Pizzolato afirmou também que
a diretoria da Previ, comandada
por Rosa, fechou com o Citigroup
acordo para a venda da Telemig e
da Amazônia Celular prejudicial
ao fundo sem informar ao conselho deliberativo da fundação.
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ)
questionou Pizzolato sobre o motivo de só agora vir a público fazer
acusações contra a diretoria da
Previ. "Vejo mágoa na sua atitude", disse Bittar, reiterando que
Pizzolato só fez a denúncia após
ser instado a deixar o BB e a Previ.
Pressionado pelo senador César
Borges (PFL-BA), Pizzolato hesitou em confirmar declaração dada à Folha sobre interesses vinculados a campanhas políticas, mas
depois confirmou que Rosa teria
dito que as pressões que sofria tinham essa finalidade. Apesar de
ter integrado o comitê financeiro
da campanha do presidente Lula,
Pizzolato disse que não arrecadava recursos, mas apenas organizaria reuniões com empresários.
Pizzolato, que chegou a receber
salários que somavam R$ 45 mil
mensais, foi chamado de "marajá" pelo relator da CPI, deputado
Osmar Serraglio (PMDB-PR).
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