São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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CAMINHONAÇO
FHC anuncia que vetará proposta de renegociação de dívidas
Câmara aprova urgência para projeto de ruralistas

LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

A bancada ruralista deu um passo importante para aprovação do projeto que perdoa até 60% dos débitos agrícolas. A Câmara aprovou ontem o pedido de urgência para votação do projeto no plenário. A decisão dos deputados não resolve o impasse na renegociação das dívidas.
Os ruralistas não aceitam a proposta do governo, que beneficia apenas os agricultores que estão com o pagamento em dia e se resume a medidas administrativas. Segundo eles, os bancos não cumprem esse tipo de medida.
O governo anunciou que vai vetar o projeto de renegociação das dívidas aprovado na Comissão de Agricultura na semana passada. Além do perdão, o projeto amplia o prazo de pagamento para até 20 anos. Segundo governistas, esses benefícios representam um prejuízo de R$ 18 bilhões para o Tesouro Nacional.
Depois de várias reuniões ao longo do dia, no início da noite, os líderes governistas pediram prazo até terça-feira para discutir com as bancadas as propostas do governo e dos ruralistas.
Os governistas apostam que, de posse da proposta do governo, vão convencer os deputados a votar contra o projeto dos ruralistas.
"Esse projeto não tem unanimidade. Nós vamos mostrar que a proposta do governo beneficia os pequenos", disse o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Para o presidente da Comissão de Agricultura, deputado Dilceu Sperafico (PPB-PR), o adiamento da decisão para a próxima semana não vai impedir a aprovação do projeto no plenário. "Quem conhece o setor não vai mudar o voto", disse.
"Vamos votar o projeto da comissão e derrubá-lo. O PSDB tem o compromisso de votar contra, mas a responsabilidade é de todos", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Aécio Neves (MG).
Com apoio dos líderes governistas, o pedido de urgência para votação do projeto foi aprovado ontem pela manhã por ampla maioria. Foram 410 votos a favor, 11 contra e 2 abstenções.
Durante a votação, os líderes governistas manifestaram apoio ao pedido de urgência, mas não se comprometeram com o conteúdo da proposta. Geddel disse que os governistas apoiaram a urgência "para destampar uma panela de pressão", numa referência ao movimento de agricultores na Esplanada dos Ministérios.
"O governo tem de dar uma solução para a agricultura. Se salvou bancos, tem de salvar a agricultura", disse o deputado João Grandão (PT-MS), integrante da Comissão de Agricultura.
O líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), foi o único governista que se manifestou contra a urgência, causando constrangimento nos outros líderes. Eles não esperavam que Madeira contrariasse a orientação dos partidos aliados.
A estratégia de atuação divide a bancada ruralista. Uma parte quer partir para o confronto com o governo e colocar o projeto em votação no plenário sem negociação. Outra prefere tentar o entendimento para evitar o veto do presidente Fernando Henrique.


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