São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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CAMINHONAÇO
Marcha organizada pelos sem-terra deverá chegar no dia 26 ao local onde estão os agricultores
Produtores ameaçam se juntar ao MST

Sérgio Lima/Folha Imagem
Manifestantes bloqueiam avenida perto da Esplanada protestando contra demora em votação


VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha

Além de aprovar o regime de urgência para o projeto de perdão das dívidas com o crédito agrícola, os ruralistas deflagraram ontem uma nova estratégia para pressionar o governo: ficar em Brasília até dia 26 e se juntar à "Marcha dos 100 Mil".
A marcha, organizada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), com apoio de entidades religiosas, CUT e outros movimentos, chega na próxima quinta à capital.
As reivindicações são aceleração da reforma agrária, aumento do salário mínimo e das pensões, revisão das privatizações, redução das taxas de juros, fim dos incentivos às grandes empresas e mais apoio aos pequenos e médios empreendimentos.
As principais lideranças dos ruralistas disseram que o tempo de duração do caminhonaço depende do governo, dos seus líderes no Congresso e do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).
Segundo Nury Andraus, vice-presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), os ruralistas têm um esquema de "mobilização permanente". "Para cada agricultor que precisa deixar a Esplanada, outro chegará."
Ontem pela manhã um novo grupo, de 50 caminhões de agricultores de Minas, chegou à Esplanada buzinando, marca registrada do movimento. Chegaram também, segundo os organizadores, 80 ônibus.
Ronaldo Caiado (PFL-GO), relator do projeto dos ruralistas e um dos líderes do caminhonaço, almoçou com os agricultores na Esplanada e disse que todos ficarão lá o "quanto for preciso".
O presidente da CNA, Antônio de Salvo, afirmou que é necessário permanecer organizado para "não engolir o gol que fizemos (aprovação da urgência) aos 20 minutos do primeiro tempo como resultado final da partida".
A entrada de novos caminhões na Esplanada entusiasmou tanto os ruralistas que eles chegaram a quebrar uma das regras acertadas com a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal: não bloquear as avenidas da cidade.
Cerca de 200 agricultores, a pé, alguns de mãos dadas, fecharam o trânsito na Esplanada por 15 minutos. Foi um protesto contra a demora na votação, pelo Congresso, da urgência para o projeto que perdoa em até 60% as dívidas.
"Estão querendo enrolar e abusar dos agricultores. A gente (a coordenação do movimento) começa a perder o controle do pessoal", disse Wilmar Luiz da Silva, do Sindicato Rural do DF.
No fim da tarde, quando os servidores deixavam os ministérios, os ruralistas promoveram, com apoio da população, um buzinaço de meia hora, que foi acompanhado de fogos de artifício.
Na hora do almoço, os agricultores entregaram ao secretário de Solidariedade do DF, José Luiz Naves, parte das cerca de 50 toneladas de alimentos arrecadadas para entidades carentes. Naves, que disse estar falando em nome do governador Joaquim Roriz (PMDB), aliado de FHC, criticou o governo federal e disse estar trazendo "a solidariedade do governador", que é produtor rural.


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