São Paulo, Quinta-feira, 19 de Agosto de 1999
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MÍDIA
Para editor-residente do MIT, a Internet não deverá substituir os meios impressos no futuro próximo
Jornais têm sobrevida, diz especialista


JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial ao Rio

A Internet e os computadores não substituirão, por enquanto,os jornais impressos.
Mas as fronteiras entre a mídia eletrônica e aquela feita com papel e tinta estão se tornando cada vez menos rígidas, com equipamentos interativos que permitem a obtenção, pelo assinante e em sua casa, de jornais personalizados, capazes de priorizar assuntos de seu interesse individual.
São algumas das previsões de John S. Driscoll, 64, ex-jornalista do "The Boston Globe" e hoje editor-residente do Laboratório de Mídia do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Ele participou como palestrante convidado, esta semana no Rio, da assembléia bianual da ANJ (Associação Nacional de Jornais). Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O jornal impresso tende a acabar em razão da mídia eletrônica?
Driscoll -
Não acredito que isso possa ocorrer durante a atual geração. Fiz há tempos a mesma pergunta ao presidente do MIT, que me respondeu da seguinte forma: haverá jornais impressos nos próximos 20 anos, mas qualquer prognóstico posterior será pura adivinhação.

Folha - Há prognósticos possíveis a curto prazo?
Driscoll -
A meu ver, a tendência nos Estados Unidos é de que haja nos próximos anos um número menor de jornais diários. E, consequentemente, um número menor de jornais eletrônicos, que hoje são mantidos em grande parte pela mídia impressa.

Folha - O sr. trabalhou 40 anos segundo o jeito antigo de fazer jornal. O que o leitor perdeu com as atuais tecnologias?
Driscoll -
Não acredito que ele esteja perdendo o que quer que seja. Alguns acreditam que toda a mídia (jornais, televisão) esteja convergindo para um único meio (o computador). Isso, a meu ver, não faz sentido. O que faz sentido é ter sempre ao alcance o meio adequado. O rádio é insubstituível para o motorista.

Folha - Se esses meios subsistirão como suporte, há algo que mudaria no conteúdo que eles transmitem?
Driscoll -
Sou um pessimista a curto prazo. Creio que está havendo um empobrecimento dos conteúdos. Os jornais, ao menos nos Estados Unidos, estão perdendo uma parte das receitas que obtinham com anúncios classificados. Um jornal mais pobre terá menos repórteres, menos fotógrafos, menos comentaristas. E um site mais pobre na Internet.

Folha - O sr. concorda com a previsão de que informações mais sumárias estarão on line, enquanto as mais analíticas estarão nos jornais e revistas?
Driscoll -
As fronteiras entre o papel e a computação estão se diluindo. Temos um projeto, por exemplo, que permite receber por uma impressora informações sobre assuntos que satisfazem as preferências pessoais do cliente. A mesma folha de papel pode ser devolvida ao computador e recarregada com novas notícias.

Folha - O sr. afirmou acreditar que o computador permite uma segmentação das informações. Mas como produzir um pequeno jornal com 300 jornalistas, em lugar dos 50 necessários hoje em dia, para atender todos esses segmentos?
Driscoll -
É possível que tenhamos outras formas de coleta de informações. Há experiências interativas nos EUA com informações coletadas por voluntários. Jornalistas experientes não são os únicos capazes de escrever uma reportagem.

Folha - O Media Lab do MIT é uma instituição paga para pensar a utopia, sem vínculos com a viabilidade comercial?
Driscoll -
Os estudantes não pensam necessariamente na viabilidade de seus projetos. O que eles fazem é empurrar mais para a frente as fronteiras da tecnologia.

Folha - Há um século o inventor era uma espécie de herói social. Mas se ele inventasse uma bicicleta capaz de fritar ovos com a energia gerada pelos pedais isso seria apenas uma inútil curiosidade tecnológica.
Driscoll -
Algo que possa parecer inútil pode ser redirecionado. Um exemplo: uma de minhas estudantes montou um dispositivo capaz de projetar três filmes em telas paralelas, de modo a associar duas das imagens com aquilo que era projetado na imagem em que se estava clicando.
Perguntei a ela se era possível também projetar fotografias. Diante da resposta positiva, pensei que seria algo útil para o catálogo virtual de produtos. Foi essa a utilidade que o projeto ganhou.

Folha - Qual o componente "sonhador" dentro de uma instituição como a sua?
Driscoll -
Creio que devemos ter sonhadores em nossos quadros. As empresas não podem admitir fracassos. A universidade pode.

Folha - Como falar num futuro cheio de computadores, quando fora dos países industrializados há bilhões de pessoas que não têm comida, escolas, moradia ou saúde pública de qualidade?
Driscoll -
Estou bastante consciente disso. Mas é também previsível que o hardware terá dentro de dez anos ou menos que isso custos irrisórios. Há no MIT um grupo chamado de "Penny Project" (Projeto do Centavo de Dólar), com pesquisas de produtos baratos. Exemplo: um chip colocado na maçaneta e que reconheça a mão do proprietário da casa, o que dispensaria as chaves. Esses dispositivos serão baratíssimos.


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