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MÍDIA
Para editor-residente do MIT, a Internet não deverá substituir os meios impressos no futuro próximo
Jornais têm sobrevida, diz especialista
JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial ao Rio
A Internet e os computadores
não substituirão, por enquanto,os
jornais impressos.
Mas as fronteiras entre a mídia
eletrônica e aquela feita com papel e tinta estão se tornando cada
vez menos rígidas, com equipamentos interativos que permitem
a obtenção, pelo assinante e em
sua casa, de jornais personalizados, capazes de priorizar assuntos
de seu interesse individual.
São algumas das previsões de
John S. Driscoll, 64, ex-jornalista
do "The Boston Globe" e hoje editor-residente do Laboratório de
Mídia do MIT (Massachusetts
Institute of Technology).
Ele participou como palestrante
convidado, esta semana no Rio,
da assembléia bianual da ANJ
(Associação Nacional de Jornais).
Eis os principais trechos de sua
entrevista à Folha.
Folha - O jornal impresso tende a acabar em razão da mídia
eletrônica?
Driscoll - Não acredito que isso
possa ocorrer durante a atual geração. Fiz há tempos a mesma
pergunta ao presidente do MIT,
que me respondeu da seguinte
forma: haverá jornais impressos
nos próximos 20 anos, mas qualquer prognóstico posterior será
pura adivinhação.
Folha - Há prognósticos possíveis a curto prazo?
Driscoll - A meu ver, a tendência
nos Estados Unidos é de que haja
nos próximos anos um número
menor de jornais diários. E, consequentemente, um número menor de jornais eletrônicos, que
hoje são mantidos em grande
parte pela mídia impressa.
Folha - O sr. trabalhou 40 anos
segundo o jeito antigo de fazer
jornal. O que o leitor perdeu
com as atuais tecnologias?
Driscoll - Não acredito que ele
esteja perdendo o que quer que
seja. Alguns acreditam que toda a
mídia (jornais, televisão) esteja
convergindo para um único meio
(o computador). Isso, a meu ver,
não faz sentido. O que faz sentido
é ter sempre ao alcance o meio
adequado. O rádio é insubstituível para o motorista.
Folha - Se esses meios subsistirão como suporte, há algo que
mudaria no conteúdo que eles
transmitem?
Driscoll - Sou um pessimista a
curto prazo. Creio que está havendo um empobrecimento dos
conteúdos. Os jornais, ao menos
nos Estados Unidos, estão perdendo uma parte das receitas que
obtinham com anúncios classificados. Um jornal mais pobre terá
menos repórteres, menos fotógrafos, menos comentaristas. E
um site mais pobre na Internet.
Folha - O sr. concorda com a
previsão de que informações
mais sumárias estarão on line,
enquanto as mais analíticas estarão nos jornais e revistas?
Driscoll - As fronteiras entre o
papel e a computação estão se diluindo. Temos um projeto, por
exemplo, que permite receber por
uma impressora informações sobre assuntos que satisfazem as
preferências pessoais do cliente. A
mesma folha de papel pode ser
devolvida ao computador e recarregada com novas notícias.
Folha - O sr. afirmou acreditar
que o computador permite uma
segmentação das informações.
Mas como produzir um pequeno jornal com 300 jornalistas,
em lugar dos 50 necessários hoje em dia, para atender todos
esses segmentos?
Driscoll - É possível que tenhamos outras formas de coleta de
informações. Há experiências interativas nos EUA com informações coletadas por voluntários.
Jornalistas experientes não são os
únicos capazes de escrever uma
reportagem.
Folha - O Media Lab do MIT é
uma instituição paga para pensar a utopia, sem vínculos com a
viabilidade comercial?
Driscoll - Os estudantes não
pensam necessariamente na viabilidade de seus projetos. O que
eles fazem é empurrar mais para a
frente as fronteiras da tecnologia.
Folha - Há um século o inventor era uma espécie de herói social. Mas se ele inventasse uma
bicicleta capaz de fritar ovos
com a energia gerada pelos pedais isso seria apenas uma inútil
curiosidade tecnológica.
Driscoll - Algo que possa parecer inútil pode ser redirecionado.
Um exemplo: uma de minhas estudantes montou um dispositivo
capaz de projetar três filmes em
telas paralelas, de modo a associar
duas das imagens com aquilo que
era projetado na imagem em que
se estava clicando.
Perguntei a ela se era possível
também projetar fotografias.
Diante da resposta positiva, pensei que seria algo útil para o catálogo virtual de produtos. Foi essa
a utilidade que o projeto ganhou.
Folha - Qual o componente
"sonhador" dentro de uma instituição como a sua?
Driscoll - Creio que devemos ter
sonhadores em nossos quadros.
As empresas não podem admitir
fracassos. A universidade pode.
Folha - Como falar num futuro
cheio de computadores, quando
fora dos países industrializados
há bilhões de pessoas que não
têm comida, escolas, moradia
ou saúde pública de qualidade?
Driscoll - Estou bastante consciente disso. Mas é também previsível que o hardware terá dentro
de dez anos ou menos que isso
custos irrisórios. Há no MIT um
grupo chamado de "Penny Project" (Projeto do Centavo de Dólar), com pesquisas de produtos
baratos. Exemplo: um chip colocado na maçaneta e que reconheça a mão do proprietário da casa,
o que dispensaria as chaves. Esses
dispositivos serão baratíssimos.
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