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QUESTÃO AGRÁRIA
Requerimento protocolado pela AGU na Polícia Federal acusa manifestantes de formar quadrilha
Governo pede inquérito contra sem-terra
WILSON SILVEIRA
DANIELA NAHASS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo endureceu na queda-de-braço com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra).
A Presidência da República determinou que a Polícia Federal
abra inquérito contra os líderes
dos sem-terra que estão na entrada da fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso em Buritis (MG).
A intenção do governo com a
abertura do inquérito policial é
tomar contra os sem-terra as medidas penais supostamente cabíveis, inclusive a prisão.
Requerimento protocolado no
final da tarde de ontem pela AGU
(Advocacia Geral da União) na
Polícia Federal acusa os sem-terra
de formação de quadrilha visando a prática de esbulho possessório (invasão de terreno ou edifício
alheio).
O requerimento cita o artigo
161, inciso 2, do Código Penal, que
trata do assunto.
A pena prevista é de detenção
de 1 a 6 meses e multa.
O requerimento é assinado pelo
procurador-geral da União, Walter Barletta.
Ele justifica a interferência da
Advocacia Geral da União afirmando que o suposto crime praticado pelos sem-terra "tem por
objetivo atingir a figura do presidente da República".
A negociação com os sem-terra
continua suspensa. O ministro
Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) afirmou que não aceita a principal reivindicação do
movimento -empréstimo a juros mais baixos para mais famílias
de assentados.
Jungmann afirmou que não está
preocupado com a possibilidade
de os sem-terra ficarem por mais
dez dias em frente à fazenda Córrego da Ponte. Os sem-terra dizem não ter a intenção de invadir
a fazenda.
"Prazo por prazo, este governo
vai até 2002", afirmou o ministro.
"Clima de chantagem"
O ministro convocou uma entrevista coletiva na tarde de ontem para reafirmar que só volta a
negociar com o movimento dos
sem-terra quando "o clima de
chantagem acabar" e os sem-terra
pararem de ameaçar invadir a fazenda Córrego da Ponte e prédios
públicos.
Segundo Jungmann, os sem-terra estão mobilizados para invadir prédios do Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em dez Estados.
O ministro disse que não está
sendo intransigente e que não vai
abrir mão de conduzir as negociações com o movimento.
Ele disse que o governo não errou ao se negar a negociar com o
MST depois que os sem-terra saíram da porteira da fazenda para
acampar em Serra Bonita (16 km
de Córrego da Ponte).
"O clima de chantagem continuou", disse.
Jungmann afirmou que não
concorda com a liberação de R$
2.000 para 110 mil famílias nas
mesmas condições de empréstimos da linha A do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), isto é,
com juros de 1,15% ao ano.
O ministro disse que o governo
não está se negando a conceder
empréstimos aos sem-terra porque existem recursos disponíveis
para os assentados na linha C do
Pronaf, cuja taxa de juros anual é
de 4%.
A linha A é uma linha de crédito
criada exclusivamente para os
sem-terra que foram assentados
no programa de reforma agrária
do governo.
Eles recebem um empréstimo
único de até R$ 9,5 mil e tem prazo de dez anos para pagar.
A linha C atende aos agricultores familiares com renda anual de
R$ 1,5 mil a R$ 8 mil.
Para Raul Jungmann, o MST
não aceita o empréstimo com as
condições da linha C por motivações políticas.
"O MST não quer que os assentados virem agricultores familiares para não perder a sua base política", afirmou.
O ministro disse que, depois de
um ano como assentados, os sem-terra já têm condições de arcar
com as condições da linha C.
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