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CELSO PINTO
O choque dos preços públicos
Em sete anos, do início de 1995
ao final do ano passado, os preços administrados subiram, em
média, 178%, mais do que o dobro
do aumento da inflação medida
pelo IPCA, de 78%. O campeão de
aumentos foi o telefone fixo, que
subiu 445%, seguido pelo gás de
bujão, com 347%, pela gasolina,
com 222%, e pela energia elétrica
residencial, com 202%.
É um salto impressionante. O peso desses preços administrados no
bolso do consumidor dobrou. Eles
respondiam por 15% do IPCA, em
janeiro de 95, e hoje passaram para 30,5%.
Foram duas as razões principais
para esse enorme ajuste de preços
relativos na economia. A primeira
foram as correções de preços e tarifas antes das privatizações das teles e das distribuidoras de energia.
A outra foi o impacto mais recente
da desvalorização cambial sobre
vários desses preços administrados.
O ajuste recente no câmbio foi
sem precedentes. A melhor maneira de medir a competitividade da
taxa de câmbio é descontar o impacto inflacionário interno e externo e ponderar as variações pela
cesta de moedas dos principais
parceiros comerciais do país, chegando à taxa de câmbio efetiva
real. Um cálculo do banco CSFB-Garantia mostra que a taxa de
câmbio efetiva real, hoje, está 25%
mais desvalorizada do que a taxa
média dos últimos três anos, ou seja, já depois da desvalorização de
99. Em relação à média dos últimos dez anos, a desvalorização é
de 60%.
O levantamento sobre os preços
administrados foi feito por um
economista do Banco Central,
Francisco Marcos Rodrigues Figueiredo, interessado em estudar o
impacto que essa mudança de preços relativos teve sobre a política
monetária. A pressão dos preços
administrados ainda não acabou.
O mercado projeta uma inflação
de 6,5% neste ano e 5% no próximo. Os preços administrados, pela
estimativa do BC, ficarão acima
do IPCA: subiriam 8,8% neste ano
e 7,6% em 2003. As tarifas de energia devem subir 20,1% neste ano e
20,7% no próximo. E as projeções
para os preços dos derivados podem ser revistas para cima, pela
pressão dos preços internacionais
do petróleo.
Na verdade, desde 1995, os preços
administrados subiram, todos os
anos, mais do que o IPCA. O que se
fez, nos anos FHC, foi uma gigantesca correção desses preços. No
universo dos preços administrados
entram, a nível federal, derivados
de petróleo, tarifas de energia e telefonia, pedágio, transportes públicos, planos e seguros de saúde, jogos lotéricos e cartório. A níveis estadual e municipal, entram o gás
encanado, o IPTU, taxas de emplacamento e de água e esgoto e
transporte público. Além disso, entram também óleo para veículos,
empregado doméstico, carvão vegetal e álcool combustível.
O ajuste, portanto, não foi apenas federal. As passagens dos ônibus urbanos, por exemplo, subiram 183%, e a taxa de água e esgoto, 151%, entre 95 e 2001, para uma
inflação de 78%.
Existem várias leituras possíveis
para essas mudanças. A política,
sugere que o aumento do peso das
tarifas e dos preços públicos no orçamento familiar, ao lado da perda do poder aquisitivo dos salários
em dólar, são boas razões para o
mau humor do eleitorado.
Do ponto de vista econômico,
contudo, existe pelo menos uma
leitura positiva. Pode-se argumentar que, em vários casos, preços e
tarifas públicas estavam defasados
e precisariam de alguma correção.
É evidente, também, que o câmbio
controlado era insustentável, embora o nível de desvalorização, hoje, seja obviamente exagerado. O
banco JP Morgan, por exemplo,
calcula o câmbio de equilíbrio do
Brasil em R$ 2,20 por dólar. A tendência futura é de queda na cotação do dólar, corrosão da desvalorização real pelo aumento da inflação ou uma mistura de ambas
as coisas.
De toda forma, foram dois "choques", o dos preços públicos e o do
câmbio, que não devem se repetir,
com a mesma intensidade, nos próximos anos, ainda que algumas tarifas, como a da energia, ainda devam sofrer algum aumento real. O
que é bom para a inflação.
Os juros altos e o baixo crescimento impediram as empresas de
repassar em seus preços, inteiramente, o impacto do dólar. É claro
que, se a economia melhorar, deve
haver alguma recomposição de
margem de lucro via preços. Mas
não é uma pressão comparável à do
choque dos preços administrados.
A variação em 12 meses dos preços livres, que chegou a 30% no final do primeiro ano do Plano Real,
em julho de 95, caiu sem parar até
próximo de zero, antes da desvalorização de 99. Mesmo depois da
desvalorização, o índice acomodou-se em torno de 5%, desde outubro de 99. No IPCA de 12 meses
encerrados em julho último, de
7,46%, a contribuição dos preços
livres ficou em 4,36%.
O Scheinkman do PT
Dois economistas ilustres ouviram de gente graúda do PT, em
momentos distintos, a mesma resposta intrigante, quando indagaram sobre quem será o presidente
do BC num governo Lula. "Vai ser
uma surpresa", foi dito. "Nós temos o nosso Scheinkman." A referência é a José Alexandre Scheinkman, economista liberal, ex-chefe
do Departamento de Economia de
Chicago, que Ciro Gomes trouxe
para ajudá-lo, para surpresa da esquerda de seu partido e de sua
campanha.
Parte do mercado continua sonhando com a permanência, ainda que temporária, de Armínio
Fraga. O diretor de um grande
banco diz que essa saída teria três
simpatizantes de peso no PT: José
Dirceu, Aloizio Mercadante e Cristóvam Buarque.
E-mail:
CelPinto@uol.com.br
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