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UNIVERSIDADE
Regra de responsabilidade fiscal impede ajuda a órgãos federais; na prática, banco empresta a compradores de bens
BNDES dribla lei para financiar federais
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) e as universidades federais
encontraram uma maneira de
driblar a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) para que o banco
possa financiar as instituições públicas de ensino da mesma forma
que financia, há seis anos, as particulares. A falta de recursos para
investimentos é o maior problema das universidades federais.
A primeira instituição beneficiada foi a UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais), que já
recebeu R$ 18,78 milhões e negocia outro empréstimo de R$ 45
milhões. Pela fórmula encontrada, o BNDES não financia a universidade, mas o comprador de
um bem que a instituição precisa
vender para fazer um investimento nas suas instalações.
A LRF, que estabelece limites
aos gastos do setor público e sanções para o descumprimento desses limites, impede que sejam feitos financiamentos entre órgãos
do setor público federal. Com isso, o BNDES, que nos últimos seis
anos financiou R$ 320 milhões
para universidades privadas, está
impedido de financiar diretamente as federais.
Segundo a gerente-executiva de
Educação do BNDES, Marta
Prochnik, o banco criou uma alternativa. Ele financia a compra
de um bem já existente -prática
pouco usual no BNDES, que, exceto nas privatizações, dá prioridade ao financiamento de projetos novos-, desde que o bem
pertença a uma universidade federal e que o produto da venda seja investido em melhoria das instalações da instituição.
Formalmente, o financiado é o
comprador do bem, e não a universidade. A instituição recebe o
dinheiro à vista, mas a quantia é
obrigada a ficar em uma conta específica do Siaf (Sistema Integrado de Administração Financeira)
chamada "recursos de terceiros",
só podendo ser usada para pagamento de uma determinada obra.
Já o comprador tem dez anos
para pagar, com carência de 60
dias, a juros de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), a taxa básica
do BNDES (10% ao ano, atualmente), mais 2,5% e mais a remuneração do banco que repassará
os recursos e assumirá os riscos
do empréstimo.
Na primeira operação, realizada
no ano passado, a UFMG vendeu
um terreno por R$ 9,52 milhões
para uma empresa privada. O dinheiro está sendo usado para a
construção do prédio da Faculdade de Farmácia, que funcionava
fora do campus da universidade.
Este ano a UFMG vendeu outro
terreno por R$ 9,26 milhões para
a Fundação de Ensino da UFMG,
entidade privada ligada à universidade. O dinheiro está sendo usado na construção ou reforma dos
prédios das faculdades de química, educação, geociências e de fisioterapia.
Está em fase de aprovação outra
operação, no valor de R$ 45 milhões, que consiste na venda do
atual prédio da Faculdade de Engenharia, no centro de Belo Horizonte, para a construção de outro
no campus. Além do prédio, outras instalações entrarão na mesma operação. O comprador será a
Prefeitura de Belo Horizonte.
Outra operação que tramita no
BNDES envolve R$ 1,5 milhão para a UFMT (Universidade Federal
do Mato Grosso). A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) também começou a negociar a
obtenção de recursos do banco
estatal.
Neste ano o banco já emprestou
R$ 14,3 milhões para a Furb (Fundação Universidade Regional de
Blumenau), de Santa Catarina, e
está negociando uma operação de
R$ 30 milhões para a Unesp (Universidade Estadual Paulista). As
duas não são federais e não estão
sujeitas à norma da LRF, mas aos
limites de gastos dos municípios
(Furb) e dos Estados (Unesp).
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