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DNA BRASIL
Reunião termina sem consenso nem propostas
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO (SP)
Terminou ontem à tarde sem
consenso nem propostas práticas
para o país o encontro DNA Brasil
-que reuniu 46 personalidades
de várias áreas para discutir o
Brasil dos próximos 50 anos.
Os presentes deveriam tentar
apresentar um "mínimo denominador comum" para o país. Como fracassaram, os participantes
apenas listaram 16 grandes temas
para futuros estudos, chamados
de "unidades de reflexão".
Mas mesmo o detalhamento de
assuntos genéricos como "nós e o
mundo" causou polêmica. O engenheiro Hélio Mattar chegou a
ameaçar deixar a sessão final por
não se sentir ouvido.
"Não havia uma tentativa de
buscar um consenso. Não era essa
a nossa intenção", disse o empresário Ricardo Semler, principal
idealizador do evento, para minimizar os poucos resultados de
dois dias e meio de conversas. A
organização da reunião ficou com
a Fundação Semco, de Semler.
Agora o encontro será anual e
ficará com o Instituto DNA Brasil
(www.dnabrasil.org.br), cujo
presidente-executivo é o jornalista Caio Túlio Costa -ex-ombudsman e ex-secretário de Redação da Folha. Os participantes foram convidados a fazer parte do
conselho fundador. Até as 18h de
ontem, 35 haviam aderido.
Para o economista Gilberto Dupas, o encontro "teve um gene defeituoso inicial". Ele considerou
um equívoco o DNA Brasil ter sido propagandeado como a reunião de "50 luminares" que pensariam e definiriam como será o
país daqui a 50 anos.
A Folha acompanhou o evento
desde o início, na quinta-feira à
noite. A marca principal das discussões foi a falta de objetividade
dos convidados ao tentarem propor algo para o Brasil -apesar do
esforço dos organizadores da reunião, realizada no Grande Hotel,
em Campos do Jordão (167 km a
nordeste de São Paulo).
Para forçar uma relação mais
produtiva entre os debatedores, o
DNA Brasil promoveu exercícios
de dinâmica de grupo. Os presentes foram convidados a andar em
duplas ou trios pelo jardim falando como passaram suas infâncias.
Ontem de manhã, produziram
uma lista com generalidades sobre "os medos" de cada um: do
fim do emprego, da corrupção e
de viver com excesso de dispositivos de segurança etc. Em seguida,
foram convidados a votar naquilo
que consideram "medos" no horizonte dos próximos 50 anos. Foi
um fracasso: mais da metade dos
presentes não se manifestou.
O DNA Brasil também vai se
transformar num índice socioeconômico, com a coleta de dados
de indicadores já existentes. O
trabalho será realizado pelo Nepp
(Núcleo de Estudos de Políticas
Públicas) da Unicamp.
Apesar de bem representativo
-leia o nome dos participantes
ao final do texto-, pelo menos 17
convidados não compareceram,
entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (mandou
depoimento gravado) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O DNA Brasil custou cerca de
R$ 1,6 milhão. A maior parte desse dinheiro veio das empresas Accenture, Banco do Brasil e Intel.
Participantes do encontro DNA Brasil:
Adélia Prado (poeta), Adib Jatene (médico), Albert Fishlow (brasilianista), Aziz
Ab'Sáber (geógrafo), Bill Ury (antropologista social), Cândido Mendes (advogado e filósofo), Carlos Vogt (professor),
Celso Lafer (diplomata), Contardo Calligaris (psicanalista), Dorothea Werneck
(economista), Edna Roland (psicóloga),
Fernando J. de Almeida (filósofo e pedagogo), Fernando Reinach (biólogo), Fernando Xavier Ferreira (engenheiro), Geraldo Cavagnari (militar), Gilberto Dupas
(economista), Hélio Jaguaribe (sociólogo), Helio Mattar (engenheiro), Hermano
Vianna (antropólogo), Imre Simon, (engenheiro eletrônico), Isis Lima Soares
(estudante), João Pedro Stédile (líder do
MST), Joaquim Guedes (arquiteto), Jorge
Forbes (psicanalista), Jorio Dauster (diplomata), José Arthur Giannotti (filósofo), Laura Finocchiaro (música), Luiz Hafers (ruralista), Marcelo Freixo (historiador), Marina Silva (ministra do Meio Ambiente), Mayana Zatz (bióloga), Miguel
Nicolelis (neurofisiologista), Miguel Reale Jr. (advogado), Monja Coen Sensei (religiosa), Moyses Nussenzweig (físico), Olgária Matos (filósofa), Padre Júlio Lancellotti (religioso), Paulo Nogueira-Neto
(biólogo), Paulo Saldiva (médico), Regina Casé (artista), Roberto Minczuk (músico), Rogerio Cezar de Cerqueira Leite (físico), Rosiska Darcy de Oliveira (socióloga), Rubem Alves (professor), Silvio Meira (engenheiro eletrônico) e Victor Nussenzweig (biólogo).
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