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JANIO DE FREITAS
Sem resposta
Desde os velhos gregos, há problemas de matemática e de geometria que desafiam, invencíveis, o saber dos séculos. Alguns,
de tão fascinantes, levam facilmente da distração à obsessão.
Aquele dos três poços e três casas
- não, não posso capitular outra vez. Só falei nisso porque desejava dar notícia de um feito relevante: solução, por aqui não se
vê nem para os problemas governamentais mais primários,
mas os brasileiros podemos orgulhar-nos de uma contribuição
para os problemas sem resposta.
Eis a incógnita criada pelo talento autenticamente brasileiro:
quantas horas - por dia ou por
semana, tanto faz - presidente
brasileiro trabalha?
Receber misses, visitar feira de
carros, receber atletas, ir à feira
de agronegócios, encontrar um
grupo de sem-terra, visitar uma
reunião de com-muitos-tetos,
inaugurar alguma coisa em alguma empresa, dar um pulo no
Sul e outro no Oeste, e discursar,
discursar, discursar sempre o
mesmo discurso. Pronto, a cada
dia o seu uso, e lá se foi a semana, e logo o mês.
Se não houver convites para
preencher os dias todos, marqueteiros e assessores criam
eventos sociais e político-sociais
(o lado social é indispensável)
para preencher toda a semana.
Semana cujos dias não começam pela manhã, como consta
de um uso vulgarmente conhecido por expediente de trabalho.
Fernando Henrique Cardoso fez
da cozinha do Alvorada a instituição relativamente mais cara
do Estado, sem falar na riqueza
da adega à francesa. Ao menos
uma vez por semana uma quituteira viajava a Brasília, com
passagens e despesas pagas pelo
Tesouro, para determinar o menu de Fernando Henrique e, no
fim do mês, receber o equivalente ao pago a três a quatro médicos do serviço público). Assim estavam dadas boas razões para
distrair a manhã e aguardar o
longo almoço, de preferência seguido da sesta saudável. À tarde,
ou eventos para a TV ou os agradáveis papos de política e variações. Houve ministros que entraram e saíram do governo sem a
experiência de um só despacho
com o presidente.
É de justiça reconhecer o papel
de Fernando Collor. Sarney antes dele e Itamar sucedendo-o foram, ambos, presidentes que trabalharam com muito empenho,
os dois, por sinal, encarando períodos de especial gravidade.
Collor restaurou o estilo Figueiredo, que era o estilo-"laranja"
de Médici com o acréscimo de
um toque falsamente atlético. O
segundo Fernando, portanto,
aprimorou o primeiro.
Lula veio para mudar. À falta
das mudanças esperadas, mudou vários ministros, por exemplo. Entre eles sobrevivem, porém, relatos interessantes sobre
a impossibilidade de obter um
despacho com o presidente, mesmo para assuntos dependentes
de orientação presidencial. O
tempo é para os eventos, o trabalho é uma eventualidade.
Admito, no entanto, que o expediente presidencial é um tema
sugerido pela impertinência. O
governo não tem problemas que
exijam e ocupem uma presidência de trabalho. Quem tem tais
problemas somos nós, é o país.
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