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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES PERIGOSAS
Deputado falou com o ex-tesoureiro no dia de seu depoimento à Procuradoria e com o ministro quando foi a vez de Valério depor
Dirceu ligou para Bastos e Delúbio na crise
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quebra do sigilo telefônico das
empresas e pessoas investigadas
pela CPI dos Correios revela que
alguns dos principais personagens trocaram telefonemas em
datas-chave da história do escândalo e mesmo depois das denúncias do suposto "mensalão" feitas
pelo deputado federal cassado
Roberto Jefferson (PTB-RJ).
"A apuração vai ter condições
de avaliar os contatos telefônicos
entre os investigados, se ocorreram próximos a depoimentos ou
outras datas importantes", disse o
presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS). Os registros em poder da comissão mostram duas ligações do telefone celular do ex-ministro-chefe da Casa Civil José
Dirceu para um celular de Goiás
registrado em nome do pai do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
As chamadas ocorreram em 8
de julho, no mesmo dia em que
Delúbio prestou seu primeiro depoimento à Polícia Federal de São
Paulo. O registro não traz a hora
da ligação, se ocorreu antes ou depois do depoimento. As ligações
ocorreram também uma semana
antes de Delúbio apresentar à
PGR (Procuradoria Geral da República) a versão de que o mensalão na verdade tratava-se de um
esquema de caixa dois para pagar
dívidas de campanhas eleitorais
do PT e dos partidos aliados.
Dirceu fez ainda quatro ligações
para o celular pessoal do ministro
Márcio Thomaz Bastos (Justiça)
na mesma semana do depoimento de Delúbio à Procuradoria. As
conversas com o ministro duraram ao todo dez minutos.
Há um telefonema de Dirceu
para Bastos no dia em que o ministro da Justiça teve um encontro, em São Paulo, com o advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros. E na mesma data, 14 de julho,
em que o publicitário mineiro
Marcos Valério Fernandes de
Souza prestou depoimento ao
procurador-geral da República,
Antonio Fernando Barros, em
que disse haver feito empréstimos
de cerca de R$ 40 milhões em benefício do PT (depois corrigiria o
valor para R$ 55,9 milhões).
Palocci
Também na mesma época, entre os dias 7 e 13 de julho, José Dirceu telefonou sete vezes de seu celular para o celular do mais próximo assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho,
Ademirson Ariovaldo da Silva. E
recebeu duas chamadas de volta.
Foram sempre conversas curtas,
de no máximo um minuto.
Palocci costuma usar o mesmo
aparelho. Foi para esse número
que também a CPI dos Bingos detectou chamadas do advogado
Rogério Tadeu Buratti, implicado
em outro escândalo, o da suposta
propina para renovação do contrato da multinacional GTech
com a Caixa Econômica Federal.
Um dia depois de a Folha apresentar os dados das chamadas à
sua assessoria na última quinta-feira, o deputado José Dirceu entrou com uma representação na
CPI dos Correios para pedir punição aos parlamentares que teriam
vazado os documentos. A assessoria do Ministério da Justiça disse que Dirceu e Bastos são "amigos" e considera "natural" a troca
de telefonemas.
Presidência
Os registros também mostram
que José Dirceu continuou, mesmo depois de deixar o cargo de
ministro-chefe da Casa Civil, em
junho, a manter contatos freqüentes com ramais da Presidência da República. Foram mais de
cem chamadas durante apenas 16
dias de julho último.
A CPI também detectou mais de
240 ligações, de setembro de 2004
a junho de 2005, entre a sede nacional do PT e a SMPB Comunicação, de Belo Horizonte (MG),
empresa de Marcos Valério responsável pela maioria dos saques
no esquema do caixa dois.
Essa seqüência prejudica a versão apresentada até aqui por Delúbio e Marcos Valério. Segundo
ambos, o último repasse de dinheiro do caixa dois do PT ocorreu em setembro de 2004.
As listas de telefonemas em poder da CPI revelam que os contatos entre a SMPB, Delúbio Soares
e ramais da sede nacional do PT,
em São Paulo, eram feitos algumas vezes por meio de telefones
celulares registrado em nome de
Orlando Martins, chefe dos office-boys da SMPB. Entre 5 de maio
e 29 de junho de 2004, de um celular em nome de Martins partiram
15 chamadas para o celular de Delúbio, num tempo total de oito
minutos de conversação.
Em depoimento à CPI dos Correios no dia 3 de agosto, a diretora
financeira da empresa SMPB, Simone Reis Lobo Vasconcelos, reconheceu que o nome de Orlando
foi usado para a compra de pelo
menos três telefones celulares.
Por telefones assim, segundo reconheceu, Simone operava o esquema de saques na agência do
Rural no Shopping Brasília.
O ex-presidente nacional do PT
José Genoino deu e recebeu chamadas para Silvio Pereira, ex-secretário-geral do partido, mesmo
depois de ambos terem deixado
seus cargos no PT. Genoino disse
considerar "absolutamente normal" conversar com o ex-secretário do partido. Informado de que,
contudo, não há nenhuma ligação
para o ex-tesoureiro nacional do
PT Delúbio Soares, Genoino disse
que a listagem em poder da CPI
dos Correios "não está completa".
Genoino contou que costuma
falar ainda hoje com Delúbio Soares sobre assuntos "pessoais", entre outros temas.
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