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Nos Jardins, militantes dão as suas razões para continuar no partido
PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA
A sobreloja do diretório zonal
do Jardim Paulista é sublocada
para a Tattoo One, uma loja de tatuagens cujo visual contrasta bastante com os chineludos militantes e seus pares com echarpes indianas e cabelos desgrenhados.
"Estamos em reforma: se quiser, pode dar uma contribuição",
brinca o filiado Cesar Campos, ao
lado de uma ripa de madeira que
ajuda a segurar o teto.
A justificativa mais usada para
continuar a ser petista, pelo menos nas regiões mais favorecidas,
onde não há ninguém comprando o voto, é que "o partido é uma
coisa, a política é outra".
"O PT foi criado para a transformação social, não para ter o poder", dizia a ex-vereadora Tita
Dias em Perdizes antes de levar
umas bordoadas por denunciar o
voto de cabresto. Àquela altura,
ela recebia indignada ligações em
seu celular, de gente denunciando
compra de voto em regiões como
Sapopemba e M'Boi-mirim.
A tesoureira do diretório de
Perdizes, Regina Fontes, 50, diz
que "o problema de corrupção é
cultural" e que no episódio do
mensalão comprou-se o voto
ideológico para o bem do país: "O
maior favorecido era o povo".
Observando tudo estava a estudante Carolina Matos, 23, filiada
há um mês. "Não é por causa de
um ou outro que o partido todo é
assim", acha. No afã de ser politizada, Carolina diz que está pensando em ir para o Irã: "Quero lutar no movimento feminista de
lá", afirma, com um conjunto de
calça e casacão até a canela de
jeans e grandes brincos de prata.
No diretório de Pinheiros, a bibliotecária militante Fátima Neves, 61, diz com ar de revelação
que "existe gente ruim no PT,
sim". Nesse momento, chega a ex-prefeita Marta Suplicy.
"Olha a Martinha, adoro essa
mulher", diz a bibliotecária.
"Martinha" chega dentro de um
jeans muito justo, malha lilás,
sandálias muito altas de salto de
madeira e Luís Favre a tiracolo.
Com cabelos esvoaçantes penteados para cima, à Supla, ela responde a perguntas sobre gastos
do Fundo Partidário do PT com
viagens dela e do marido e segue
em frente. "Fundo partidário serve para isso mesmo, gente, pagar
despesas com o partido", diz, com
apenas uma sobrancelha permanentemente levantada. Como cada filiado deve colaborar com 1%
do salário, Favre deixa R$ 50,00 (o
correspondente a R$ 5.000). Só?
"A gente negocia com as pessoas,
e elas deixam o que podem, senão
não alcançamos o quórum", diz o
tesoureiro Vicente Caprino.
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