São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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Nos Jardins, militantes dão as suas razões para continuar no partido

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA DA FOLHA

A sobreloja do diretório zonal do Jardim Paulista é sublocada para a Tattoo One, uma loja de tatuagens cujo visual contrasta bastante com os chineludos militantes e seus pares com echarpes indianas e cabelos desgrenhados.
"Estamos em reforma: se quiser, pode dar uma contribuição", brinca o filiado Cesar Campos, ao lado de uma ripa de madeira que ajuda a segurar o teto.
A justificativa mais usada para continuar a ser petista, pelo menos nas regiões mais favorecidas, onde não há ninguém comprando o voto, é que "o partido é uma coisa, a política é outra".
"O PT foi criado para a transformação social, não para ter o poder", dizia a ex-vereadora Tita Dias em Perdizes antes de levar umas bordoadas por denunciar o voto de cabresto. Àquela altura, ela recebia indignada ligações em seu celular, de gente denunciando compra de voto em regiões como Sapopemba e M'Boi-mirim.
A tesoureira do diretório de Perdizes, Regina Fontes, 50, diz que "o problema de corrupção é cultural" e que no episódio do mensalão comprou-se o voto ideológico para o bem do país: "O maior favorecido era o povo".
Observando tudo estava a estudante Carolina Matos, 23, filiada há um mês. "Não é por causa de um ou outro que o partido todo é assim", acha. No afã de ser politizada, Carolina diz que está pensando em ir para o Irã: "Quero lutar no movimento feminista de lá", afirma, com um conjunto de calça e casacão até a canela de jeans e grandes brincos de prata.
No diretório de Pinheiros, a bibliotecária militante Fátima Neves, 61, diz com ar de revelação que "existe gente ruim no PT, sim". Nesse momento, chega a ex-prefeita Marta Suplicy.
"Olha a Martinha, adoro essa mulher", diz a bibliotecária. "Martinha" chega dentro de um jeans muito justo, malha lilás, sandálias muito altas de salto de madeira e Luís Favre a tiracolo. Com cabelos esvoaçantes penteados para cima, à Supla, ela responde a perguntas sobre gastos do Fundo Partidário do PT com viagens dela e do marido e segue em frente. "Fundo partidário serve para isso mesmo, gente, pagar despesas com o partido", diz, com apenas uma sobrancelha permanentemente levantada. Como cada filiado deve colaborar com 1% do salário, Favre deixa R$ 50,00 (o correspondente a R$ 5.000). Só? "A gente negocia com as pessoas, e elas deixam o que podem, senão não alcançamos o quórum", diz o tesoureiro Vicente Caprino.


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