|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Presidente não foi votar e procura dissociar sua imagem do partido
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Principal estrela do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desapareceu ontem do cenário da
eleição interna do partido, numa
tentativa de dissociar sua imagem
da crise que atravessa a legenda.
Lula estava desde sábado em
São Bernardo do Campo, no ABC
paulista, berço do partido, e ontem passou o dia recolhido em casa. Não compareceu para votar, o
que provocou frustração e desgosto em muitos petistas que o
aguardavam na sede municipal
do diretório do partido.
Depois que as portas do diretório foram fechadas, às 17h, houve
um princípio de tumulto entre
militantes ligados ao Campo Majoritário e dissidentes de esquerda. O professor universitário
Mauro Iasi, que votou em Plínio
de Arruda Sampaio para presidente do Diretório Nacional, afirmou, em entrevista, que depois de
votar se desfiliou do PT.
"Este PED [Processo de Eleições
Diretas] se tornou uma farsa",
sentenciou Iasi, irritando ainda
mais os partidários de Ricardo
Berzoini (Campo Majoritário),
que já estavam com os ânimos
acirrados ao ouvirem do professor que Lula "prefere seus interesses pessoais" a "fazer mudanças
que interessem ao povo".
"Safado, por que não se desfiliou antes?", começaram a gritar
os adversários. Em segundos, os
desafetos de Iasi partiram para cima dele. Um empurra-empurra
começou, mas os grupos foram
afastados.
Calmo, porém decepcionado,
estava José Eudes Pinho, o Profeta, que viu o partido nascer, mas
não previa a crise atual. "Ele [Lula] deveria ter vindo votar pela
manhã para mostrar a importância da participação neste processo", apregoou. "Se ele tivesse viajado eu entenderia, mas, estando
aqui, não sei porque não veio."
O atual presidente do PT de São
Bernardo do Campo, José Albino
de Melo, que concorreu à reeleição pelo Campo Majoritário, procurava evitar criticar a atitude do
presidente. "Foi uma decisão pessoal", observou. "Todos gostaríamos que ele tivesse vindo, mas, já
que não veio, vamos respeitar."
Mais crítica foi a análise da professora Maylizi Thuler. Eleitora de
Plínio de Arruda Sampaio, para
ela a decisão de Lula de não comparecer "foi coerente". "Há um
tempo ele declarou que não tinha
mais nada a ver com o partido e o
fato de não ter vindo é uma maneira de não se comprometer
com o escândalo."
Texto Anterior: Análise: PT pode se afastar ainda mais de Lula Próximo Texto: Entrevista da 2ª - Luiz Felipe de Alencastro: Falência do governo Lula pode trazer uma "onda reacionária" Índice
|