São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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Presidente não foi votar e procura dissociar sua imagem do partido

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Principal estrela do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desapareceu ontem do cenário da eleição interna do partido, numa tentativa de dissociar sua imagem da crise que atravessa a legenda.
Lula estava desde sábado em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, berço do partido, e ontem passou o dia recolhido em casa. Não compareceu para votar, o que provocou frustração e desgosto em muitos petistas que o aguardavam na sede municipal do diretório do partido.
Depois que as portas do diretório foram fechadas, às 17h, houve um princípio de tumulto entre militantes ligados ao Campo Majoritário e dissidentes de esquerda. O professor universitário Mauro Iasi, que votou em Plínio de Arruda Sampaio para presidente do Diretório Nacional, afirmou, em entrevista, que depois de votar se desfiliou do PT.
"Este PED [Processo de Eleições Diretas] se tornou uma farsa", sentenciou Iasi, irritando ainda mais os partidários de Ricardo Berzoini (Campo Majoritário), que já estavam com os ânimos acirrados ao ouvirem do professor que Lula "prefere seus interesses pessoais" a "fazer mudanças que interessem ao povo".
"Safado, por que não se desfiliou antes?", começaram a gritar os adversários. Em segundos, os desafetos de Iasi partiram para cima dele. Um empurra-empurra começou, mas os grupos foram afastados.
Calmo, porém decepcionado, estava José Eudes Pinho, o Profeta, que viu o partido nascer, mas não previa a crise atual. "Ele [Lula] deveria ter vindo votar pela manhã para mostrar a importância da participação neste processo", apregoou. "Se ele tivesse viajado eu entenderia, mas, estando aqui, não sei porque não veio."
O atual presidente do PT de São Bernardo do Campo, José Albino de Melo, que concorreu à reeleição pelo Campo Majoritário, procurava evitar criticar a atitude do presidente. "Foi uma decisão pessoal", observou. "Todos gostaríamos que ele tivesse vindo, mas, já que não veio, vamos respeitar."
Mais crítica foi a análise da professora Maylizi Thuler. Eleitora de Plínio de Arruda Sampaio, para ela a decisão de Lula de não comparecer "foi coerente". "Há um tempo ele declarou que não tinha mais nada a ver com o partido e o fato de não ter vindo é uma maneira de não se comprometer com o escândalo."


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