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ANÁLISE
PT pode se afastar ainda mais de Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Responsável pela inflexão do
PT para o centro a partir de 1995,
quando tomou de volta o comando das mãos dos radicais, o Campo Majoritário (ala moderada) vive crise mais profunda do que as
outras tendências do partido
-também afetadas pelo escândalo do "mensalão".
No "centro petista", o grupo
moderado construiu a correta estratégia de moderação política e
econômica que levou Luiz Inácio
Lula da Silva à Presidência em
2002. Mas expoentes desse grupo
também seguiram taticamente o
caminho da ruína, caindo na gandaia com Marcos Valério e gerando a maior crise do partido e da
administração Lula.
Nos próximos dias, com o decorrer da apuração das eleições
para a nova direção petista, ficará
mais claro o tamanho do tombo
dos moderados. Ainda com muita força na estrutura burocrática,
a ala moderada deverá eleger Ricardo Berzoini presidente do partido. A hipótese mais provável é
que isso aconteça em segundo
turno, no dia 9 de outubro.
Eleito Berzoini ou até um azarão
da esquerda petista, como Válter
Pomar, os moderados tenderão a
perder peso no Diretório Nacional, instância de 84 lugares que
define os rumos do partido e que
foi dominada nos últimos 10 anos
pela mão-de-ferro de José Dirceu,
tão útil a Lula. Como dizem os petistas, uma "nova hegemonia"
sairá das urnas petistas.
Nessa "nova hegemonia", terão
mais cacife as chamadas tendências radicais. Dificilmente os moderados, que nas últimas eleições
internas conquistaram 52% do
Diretório Nacional, repetirão as
alianças internas que lhes deram
o controle de até 70% do órgão
nos bons tempos.
Foi essa força que permitiu, por
exemplo, atropelar resoluções
partidárias para bancar uma política econômica contrária a tudo o
que partido defendera antes de
chegar ao poder. Ironia do destino, essa contestada política econômica é o maior ativo político
que Lula possui para tentar voltar
a sonhar com a reeleição.
Nesse contexto, o resultado das
eleições internas de ontem deverá
acirrar a já forte contradição entre
partido e governo sobre a política
econômica. O risco será o PT se
apresentar nas eleições de 2006
ainda mais distante do governo
real que faz em Brasília, ancorado
numa retórica de palanque à esquerda de 2002 com o objetivo de
tentar evitar a sangria de poder
para outras legendas, como
PSOL, PSB e PDT .
Em 2002, na carona de "Lulinha
paz e amor", o PT elegeu 91 deputados, a maior bancada da Câmara. Os prognósticos eleitorais pós-mensalão dizem que o partido,
em 2006, encolherá no Legislativo
e terá dificuldade para continuar
no Palácio do Planalto. Além de
danoso para ambos, um afastamento crescente entre Lula e o PT
poderá produzir uma mescla de
legenda anacrônica de esquerda e
mera máquina eleitoral. E aquele
partido que prometia mudar o
Brasil terá sido, então, história.
Gesto de desapreço
Se queria se distanciar mais do
PT, Lula não poderia ter feito melhor. Apesar de ter estado ontem
no berço do partido, no ABC, não
compareceu para votar nas eleições internas. Com isso, deu a entender que o PT não é problema
seu. É, sim. E dos grandes. Como
Lula não se cansa de cometer erros políticos, cometeu mais um.
Ele e o PT são indissociáveis.
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