São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

E o inspirador não votou

- E o eleitor mais famoso do PT não votou.
Era Pedro Bial, no "Fantástico". No relato direto da manchete da Folha Online, à noite, "Lula não comparece às urnas".
E na rádio Jovem Pan, "o processo de eleições internas foi encerrado sem o comparecimento do presidente".
De volta ao "Fantástico", com a avaliação do gesto:
- A abstenção do presidente foi sinal claro de que muita coisa vai mesmo mudar no PT. Principal inspirador do Partido dos Trabalhadores, ele passou a manhã e a tarde em seu apartamento, em São Bernardo do Campo, e não saiu para votar.
Lula queria distância do PT, após uma campanha que chegou ao fim com quase todos os candidatos questionando sua política econômica.
Quando não os quase três anos de governo, como fazia Marcus Sokol, na rádio CBN.

 

Curiosamente, o trotsquista Sokol foi dos raros a negar a ameaça de abandonar o PT, dizendo que não entrou por causa de Lula e não vai sair agora.
Nas incontáveis entrevistas de ontem nos canais de notícias, rádios e sites, muitos petistas não escondiam que devem sair. No Rio, Saturnino Braga, por exemplo, após votar:
- Sabe, não gosto de ficar escondendo jogo. Se acontecer, eu irei para o PDT, sim.
Como ele, muitos mais, como Delcídio Amaral, presidente da CPI dos Correios, a caminho do PSDB. E sobre quem Tarso Genro tratou de dizer, à Globo News, no meio das eleições:
- Quando as CPIs chegam ao momento de verificar desde quando o dinheiro era distribuído para campanhas e a que partidos beneficiava, as CPIs agora [evitam] aprofundar.
E assim, seguiu o presidente do PT, "as sessões da CPI têm sido palco exibicionista, de preparação eleitoral".
 

Se Lula não foi, indisposto com seu partido, José Dirceu apareceu e tomou a cena.
Foi manchete no Globo Online e outros, com a frase "não fujo de responsabilidades". Dele , no "Fantástico":
- Tenho argumentos, tenho fatos para provar que sou inocente. Do que estão me acusando. Eu tenho responsabilidade política no que aconteceu e, ao contrário de muitos da executiva, da direção nacional, dos principais líderes do PT, eu não fujo das minhas responsabilidades.
Não, ele não deu nomes.
 

Não faltou, na cobertura, o registro de "algumas denúncias de transporte ilegal de militantes em São Paulo", no dizer da Globo, sem dar detalhe.
Ana do Carmo, deputada estadual em quem o próprio Lula teria votado, surgiu no Globo Online confirmando "ter pago a regularização cadastral de 48 militantes", aliás:
- A R$ 5 cada um.
 

Em longa reportagem sobre a eleição, o "Financial Times" ouviu Genro e outros, atento desde o título ao risco de racha no "partido de Lula".
Em particular à ameaça de que "a esquerda tome o controle do partido". Encerrando o texto, analisou o "FT":
- Se os esquerdistas ganharem muito terreno, eles poderiam minar o apoio à ortodoxia econômica. Um debate mais aberto também pode tornar os investidores nervosos.
Segundo o jornal financeiro, no Brasil "alguns analistas sugerem que o próprio presidente poderia ser forçado a deixar o partido". Cita um só "analista", Cristovam Buarque, que acaba de deixar o partido, como se sabe. Diz Cristovam, sobre Lula:
- Ele pode ter um futuro fora do PT.
 

- Estou perdido. Perdido em Brasília, Brasil.
Era o enviado do "Washington Post", em texto de várias páginas na revista dominical, sobre arte, religião e arquitetura em Brasília. Da crise, nem menção.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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