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Cacciola fica preso até decisão em Mônaco
Ex-banqueiro deve enfrentar processo de um mês, cuja palavra final cabe ao príncipe Albert, que decide sobre a extradição
Advogados podem pedir que ele seja solto; porém, chances são pequenas, disse a procuradora-geral do principado, Annie Fuster
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A MÔNACO
A Justiça de Mônaco decidiu
ontem que o ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola, 63, deve continuar preso durante seu
processo de extradição, segundo a procuradora-geral do principado, Annie Brunet-Fuster.
Cacciola, que foi condenado
no Brasil por gestão fraudulenta e peculato no caso da quebra
dos bancos Marka e FonteCindam, chegou algemado, de
camburão, para audiência no
Palácio da Justiça. Foi a primeira aparição com seus advogados (a italiana Alessandra
Monchi e um de Mônaco, exigência da lei local) perante o
juiz, num passo importante para a continuidade do processo
- quando foi preso, no sábado,
ele ainda não tinha advogado.
"Ele deixou o tribunal preso,
pois sua detenção foi mantida",
disse Fuster. Segundo ela, nem
o banqueiro nem seus advogados pediram em nenhum momento que ele fosse solto, mas
ainda podem fazer isso.
As possibilidades, no entanto, são muito pequenas, de
acordo com a procuradora-geral. "Pode pedir quando quiser,
até duas vezes ao dia, e o juiz irá
sempre recebê-lo", disse ela.
O ex-banqueiro deve enfrentar agora um processo que costuma durar cerca de um mês e
cuja palavra final cabe ao príncipe de Mônaco, Albert.
O próximo passo do processo
cabe ao governo brasileiro, que
tem 20 dias, prorrogáveis por
mais 20, para apresentar os
motivos para a extradição.
Depois que o pedido for apresentado, a procuradora-geral
fará uma espécie de dossiê, com
todas as informações do processo, que será enviado a uma
Corte de Apelações, uma espécie de tribunal colegiado. Até
agora, existe apenas uma pequena pasta verde sobre a mesa
da procuradora, contendo páginas rosas e brancas, que não
chegam a dez.
E essa corte de apelações que
vai decidir se todo o trâmite do
pedido de extradição foi correto do ponto de vista jurídico. Se
não houver problemas, a papelada volta então para a procuradora-geral, para percorrer uma
pequena e rápida burocracia,
por meio do equivalente ao Ministério da Justiça, até chegar
ao príncipe Albert. Em ultima
instância, é ele quem decide sobre a extradição, e não cabe recurso de sua decisão.
Prognóstico
O prognóstico não é favorável a Cacciola, de acordo com
Fuster. Ela afirma que Mônaco
extradita cerca de dez pessoas
por ano e que recusas de pedidos não costumam acontecer.
Além disso, existe uma ativa
movimentação nos últimos
tempos para alterar a imagem
do principado, que está preocupado com a fama de falta de rigor contra crimes financeiros.
O governo brasileiro não deve pedir prorrogação do prazo
para apresentar os documentos
por mais 20 dias. A enviada especial do Ministério das Relações Exteriores, ministra Maria Laura da Rocha, chegou ao
Palácio da Justiça pouco depois
da audiência e ficou por mais de
uma hora. A diplomata disse
que os documentos devem estar prontos em menos de 20
dias. A expectativa na Procuradoria é a de que o governo seja
ágil, enviando os papéis nos
próximos dias.
A procuradora-geral refutou
um dos argumentos da defesa
de Cacciola, de que ele não poderia ser extraditado por ser
condenado por crimes fiscais.
O parágrafo 4 do artigo 5 da lei
1.222, da extradição, é claro
quando diz que não podem ser
extraditados por crimes fiscais,
mas não fala nada sobre delitos
financeiros, como é o seu caso.
No Brasil, a assessoria do Ministério da Justiça disse que o
governo recebeu com "entusiasmo e alegria" a decisão da
Justiça de Mônaco.
O ministro da Justiça, Tarso
Genro, cogita ir a Mônaco falar
com as autoridades para acelerar a possível extradição de
Cacciola.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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